Henrique Neal - especial para o Combate Rock
Grandes bandas de rock costumavam durar mais tempo em patamares altos, ainda que continuem na ativa. Figuravam nas manchetes e eram onipresentes nas emissoras de rádio. Hoje, como toda banda de rock clássico, vive do passado.
Só no Brasil, na Argentina e. no Japão o Kiss lota estádios, assim como outras bandas da mesma estirpe. Em outros locais, se contentam com lugares mais modestos, embora agradem em cheio.
Tive a mesma impressão em relação ao Coldplay no show de 11 de março, em São Paulo, em um Morumbi lotado e ensopado, com diversos problemas de alagamento dentro e fora do estádio, além de uma organização claudicante e meio perdida.
Com todas as características de missa, o show agrada a um público não muito exigente, mesmo que existam os fanático de sempre.
As músicas são caudalosas, mas inofensivas. Não há clímax, não existe um ápice, em uma ladainha que parece interminável. Como toda e qualquer missa, muitas vezes beira o insuportável.
Não se trata de uma banda ruim. Coisas ruins não conseguem fazer a sequência de shows que o Coldplay está fazendo no Brasil - eram seis, que foram se proliferando, pelo que me disseram. Como uma banda dessas, mesmo não sendo ruim, mas estando longe de ser boa, consegue essa proeza.
É a antítese de um show de rock, em que a energia é parte fundamental e indissociável. Armados com isqueirinhos e telefones celulares, os espectadores de um show do Coldplay parecem estar em um happening movido a hinos religiosos ruins.
O vocalista Chris Martin é um bom condutor de plateias, tem o seu público na mão e, quando chama a galera para "dançar", consegue entreter a maioria. Só que não consegue espantar o clima de aula de cursinho às 7h da manhã, em plateia que reage pouco e somente aos comandos do professor esforçado que luta contra a sonolência geral.
Dias antes, longe dali, Def Leppard e Motley Crue carregaram 40 anos de adrenalina e rock de verdade no Allianz Parque, um local com mais infraestrutura e mais centralizado - ok, não choveu tanto.
Não havia nenhum sinal de seita ou de encontro de escoteiros. Não tinha muita gente, mas os cerca de 15 mil fãs puderam ver uma apresentação de verdade, com rock potente e alto, pesado e capaz de fazer os mortos chacoalharem nas tumbas.
E não adianta dizer que não dá para comparar, que são bandas diferentes, quase gêneros díspares. É uma questão de conceito, abordagem, de eletricidade, de energia.
Se houver comparação, tadinho do Coldplay. Das duas uma: ou o que Coldplay toca é rock, ou então é o que faz o Def Leppard. Tenho de concordar que a diferença é brutal, como entre peixe e vaca.
Para um encontro de jovens não muito exigentes e em clima de Woodstock molhado pela chuva, o Coldplay vai bem e serve. Em um concerto de rock digno do nome, deixa bem a desejar com sua música anódina e insossa. Minha sensação é que esse tipo de evento prolifera na terceira década do século XXI. é mais um sintoma da mediocrização do rock.
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