quarta-feira, 15 de março de 2023

Metal progressivo muda e inova em busca do brilho do passado

 O surgimento de novas bandas no prog metal obrigou alguns medalhões a se mexerem depois que a pandemia de covid-19 deu uma trégua. 

Dream Theater, Transatlantic e Arena ressurgiram com ótimos discos desde 2021 e elevaram o nível, fazendo com que o Threshold, por exemplo, se esforçasse em produzir um discaço no ano passado. O mesmo se pode dizer do Porcupine Tree, que ressuscitou depois de 13 aos.

O começo de ano está sendo marcado pela expectativa da chegada de "Fauna", o recém-lançado álbum dos ingleses do Haken. a espera compensou por conta da altíssima qualidade do trabalho.

Com poucos arranjos de teclado e músicas intrincadas, a banda oferece um panorama em moderno do que é o metal progressivo no século XXI. Nada de suítes quilométricas ou superposição de instrumentos ou camadas e mais camadas arranjos grandiosos. A ideia foi apostar em menos virtuosismo e focar na canção, como nos dois últimos álbuns.

"Lovebite" e "Taurus" são os exemplos deste conceito. São músicas diretas, concisas e curtas, mas com alta densidade melódica e inteligência na construção de riffs e solos. As guitarras ganham protagonismo e são o fio condutor de tudo.

O final do álbum é mais épico e tradicional, digamos assim com as longas "Elephants Never Forget" e "Eyes of Ebony", que apresentam variações e diversidade dignas dos melhores momentos do rock progressivo. 

A primeira é mais forte e agressiva, dividida em partes e demonstrando um domínio perfeito da construção musical; a segunda segue o modelo do progressivo, também em partes, mas dando mais ênfase no instrumental e nos solos. "Nightingale" e "The Alphabet of Me" também merece destaque por serem excelentes composições.

Os poloneses do Riverside seguiram pelo mesmo caminho em "ID. Entity". Há algo de minimalista com a redução dos teclados onipresentes e a dição de arranjos de inspiração eletrônica. 

É um álbum um pouco mais complicado de se ouvir por conta dos experimentalismos, mas o essencial do som da banda está ali. Mas não há como não constatar que o som está mais próximo do que o Kaken está fazendo.

os ecos do passado recente estão em duas das onze músicas do longo trabalho. "The Place Where I Belong" retoma as origens da banda com o clássico metal progressivo inspirado no Dream Theather, com passagens viajantes e altas doses de virtuosismo e solos maravilhosos de guitarra.

"Age of Anger" tenta equilibrar o experimentalismo e o tradicionalismo, e o faz com sucesso, o que evidencia a alta qualidade dos instrumentistas.

A primeira parte do trabalho, composto sete músicas, é mais interessante e transita por um som moderno e cheio de referências ao que se faz em termos de vanguarda musical na Europa. Há ecos do progressivo polonês e húngaro nas ótimas "Big Tech Brother" e "Self-Aware" e ecos de Muse em "I'm Done With You". 

A parte final, com quatro músicas, é um pouco mais árida e a banda envereda por um caminho à la King Crimson na boa "Together Again", mas escorrega um pouco na pouco digerível "Friend or Foe?", onde a banda resolveu experimentar para valer. 

"ID. Entity" é conceitual, abordando os velhos dilemas de como enfrentar a modernidade que nos engole á velocidade da luz. É um trabalho com estofo e tanto, e de muita qualidade, apesar de os poloneses não facilitarem.

Os americanos do Redemption buscaram inspiração no passado e buscaram uma sonoridade mas calcada nos anos 90 em "I Am the Storm". 

São nítidos os resgates de sons associados aos trabalhos mais antigos de Fates Warning, Queensryche e Symphony X e, por conta disso, soa menos ambicioso do que os álbuns dos concorrentes.

Tudo é mais pesado e orientado para as guitarras, com timbres bem escolhidos. A faixa-título é a mais agressiva e já tinha sido divulgada em single em fevereiro. É um tema forte calcado em uma base de guitarra bem pesada.

Outro single poderoso é "Seven Minutes From Sunset", u á primeira vista parece enjoativa or conta de uma saturação de produção e de excesso de camadas de guitarras, mas uma segunda audição revela boas ideias e um estupendo trabalho de baixo. 

Também merece atenção a orgânica e bem construída "Remember a Dawn", que parece reunir todas as principais influências do Redemption. É rápida pesada e tem riffs contagiantes que mesclam passado e presente de forma contagiante.

Os ingleses do Epsilon lançaram "Mortuum Flagellas", que é pretensamente conceitual, mas que bebe em trabalhos imponentes de grupos como Liquid Tension Experiment, Animals As Leaders e Foefels.

Há bons temas, como "This Mortal Coil", bem equilibrado entre riffs poderosos e bases sólidas, lembrando as variações e arranjos dos ótimos álbuns solo de Kiko Loureiro (Megadeth, ex-Angra), mas não há muita diversidade sonora.

Isso faz com que o som fique enjoativo a partir da terceira canção, "Elegy of Chaos", que tem bela introdução orquestral com cordas bem arranjadas. Mas a sequência de riffs soam todas iguais e prejudicam um pouco o resultado final, ainda que a velocidade death metal em algumas canções possa sugerir um desenvolvimento para outras direções. "Vileblood" e "Delirium" são as músicas mais interessantes.

Os alemães do RPWL decidiram ficar mais pesados no mais recente álbum, "Crime Scene", com guitarras mais à frente, em um deliberado afastamento da sonoridade baseada no Pink Floyd que sempre caracterizou a banda.

O progressivo de raiz ainda está lá, como na faixa de abertura, "Victim of Desire", em que os arranjos de guitarra e timbres remetem diretamente ao Rush dos anos 80. Ficou excelente.

Sem abusar da velocidade, mas com guitarras mais eloquentes, "Red Rose" e "A Cold Spring" seguem pela mesma toada, com riffs imaginativos e solos que mostram virtuosismo e qualidade, na linha do que o Arena fez no ano passado.

"Life in a Cage" e "King of the World", menos progressivas e mais tradicionais, também chamam a atenção pelo esmero na produção e nos arranjos bem elaborados.



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