Profano, pestilento e afrontador. Tudo o que se espera de uma típica banda de metal extremo pode ser encontrado no novo trabalho de estúdio da banda alemã Mystic Circle, que está de volta após longos anos de hibernação.
Honrando a tradição nórdica, "Erzdämon" é um resgate de uma tradiçao europeia de questionar os principais dogmas da civilização ocidental marcada pela influência dominante do cristianismo e, de certa forma, do catolicismo.
Quem bom que ainda existem mentes provocadoras e blasfemas para chacoalhar o mundo do rock e mostrar que o black metal tem raízes filosóficas sólidas e que bandas como Mystic Circle não perderam a capacidade de questionar, ou seja, vão muito além de apenas queimar cruzes nos videoclipes e de supostamente louvar o diabo.
"Nossa música é obscura, ela sai dessa maneira, é tão extrema quanto deve ser e conseguimos fazer. Ela sai dessa forma e acredito que extrapola os conceitos básicos que as pessoas têm a respeito do black metal e da música extrema", afirma Beelzebub, que canta e toca todos os instrumentos, assim como o companheiro de banda, Blackwar.
Em conversa com jornalistas sul-americanos, o músico alemão considerou desafiador voltar a criar música extrema depois de um hiato de 16 anos. "De certa forma, era uma necessidade artística, mas também foi libertador. Não há muitos grupos fazendo esse tipo de música atualmente de forma tão agressiva e devastadora."
Ele tem razão. "From Hell", um dos destaques do novo álbum, demole cérebros e faz uma crítica pesada, direta e sem concessões ao cristianismo - e, de certa forma, ao modo de vida nos principais países ocidentais.
"Welcome to the Midnight Moss" é ainda mais pesada e violenta, acrescentando a mais pura desgraceira em meio a um terremoto de guitarras e um vocal cortante. Na mesma linha segue a igualmente violenta "The Mothman". "O novo álbum contém as músicas mais rápidas, mas também as mais obscuras da história da banda."
Beelzebub considera que a trajetória do Mystic Circle permaneceu incompleta com o período de paralisação temporária das atividades. "Demos ao álbum um título em alemão porque queremos fechar o círculo e voltar aos nossos primeiros dias. 'Erzdämon' soa poderoso e sublime e representa o álbum 100%."
Da mesma forma que ele não se preocupou com o fato de ter uma pandemia no caminho, ainda que arrefecida quando da volta da banda, o músico desdenha daqueles que acreditam que carece de sentido a existência de um black metal profano, de protestos alegóricos com, supostamente, pouco alcance.
"Acho bem simplista. Achamos a mensagem muito poderosa passada pelo rock e pela música extrema. a prova disso é que estamos conversando sobre isso. Estamos aqui porque um dia ouvimos Ramones, Iron Maiden e Misfits [Beelzebub veste uma camisa da banda na conversa via aplicativo Zoom]. Seguimos em frente, assim como as ótimas bandas de metal extremo."
Ele continua o raciocínio falando diretamente sobre o novo trabalho: "O novo álbum é uma continuação lógica e um desenvolvimento adicional do álbum anterior, mais detalhado e mais inclinado para o mundo do terror."
As alegorias com o terror e a insistência nos temas religiosos fazem parte do conceito geral do trabalho que ele e Backwar sempre desenvolveram.
"Os temas satânicos e demoníacos foram combinados com lendas místicas de histórias antigas que farão seu sangue gelar. Musicalmente, isso é obtido com sons e samples novos e mais sombrios, bem como partes clássicas de heavy metal", explica o músico, que descreve "Erszämon" como uma jornada que uma mistura dos seus clássicos "Drachenblut", "Infernal Satanic Verses" e o mais recente, "Mystic Circle".
Para a capa do álbum, a banda trabalhou novamente com Rafael Tavares, que como sempre apresentou uma capa perfeita. O trabalho de produção são de Nils Lesser.
"Erzämon" está disponível no Brasil pela parceria entre a brasileira Shinigami Records e a alemã Fireflash Records, subgravadora da também alemã Atomic Fire Records.
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