Redenção e resistência são duas palavras que são constantes na trajetória da banda paulista Malvada. Formada em plena pandemia de covid-19, tornou-se a salvação de quatro meninas que se conheceram pela internet e fizeram dar certo um projeto que estava envolvo em desconfiança. Quatro mulheres fazendo hard rock em português?
Como todo mundo, ficaram isoladas e sem opções. Sobrava o quê? A Malvada, o projeto que se tornou um objetivo de vida e que tinha de dar certo. Após completar 100 shows na ainda curta carreira neste mês de março, é possível concluir que deu certo e está dando muito certo.
"Resistimos à pandemia e a outras dificuldades, mergulhamos fundo no trabalho e construímos algo de que temos muito orgulho. E dá para falar em redenção diante do resultados diante de tanto trabalho", diz a guitarrista Bruna Tsuruda em entrevista exclusiva para o Combate Rock.
Banda essencialmente de palco, que toca onde precisar e onde for preciso, a Malvada ganhou o reconhecimento de um mercado nacional ainda difícil e hostil para algumas mulheres destemidas e que não se intimidam co o machismo e a misoginia tão características de nossos tempos. Houve avanços, mas ó caminho ainda é bem tortuoso.
Bruna, Angel Sberse (vocal e violão), Marina Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria) encararam o desafio proposto pelo músico, empresário e produtor Tiago Claro (da banda Seventh Seal) para ousar e fazer diferente sem a necessidade de "chutar canelas".
Ele percebeu que havia espaço para um rock mais vigoro, em português - trabalha com o Golpe de Estado - e que juntar algumas meninas "destemidas" daria um resultado diferente e chamaria a atenção,
Qualquer desconfiança a respeito de ser uma "banda feminina" sumiu depois das primeiras apresentações em bares e festivais tocando músicas próprias e versões de clássicos do rock. Elas tinham algo diferente no som meio bluesy que mandavam no palco. É isso que chamam de charme?
"Tivemos de ser perseverantes, pois era nossa única opção. Facilitou o fato de termos encontrado logo o nosso som, digamos assim, e que agradou a uma parcela grande de espectadores. Termos tocando tocado muito solidificou a nossa performance e a unidade como banda", analisa a guitarrista.
Acidental ou não, as músicas foram compostas adotando uma orientação diferente: as letras retratam o momento complicado em que viviam, ainda em pandemia, de uma perspectiva feminina, mas com um tipo de romantismo diferente: relacionamentos, cotidiano de "meninas" e vida intensa, tentando falar de amor, mas sem usar a palavra amor.
Dá para identificar uma certa maturidade e um talento para fugir do lugar comum, u seja, sem descambar para s batidos temas de solidão, traição e amor não correspondido que dominam nos mundos sertanejo e do samba mais popular.
Bruna Tsuruda reconhece que esse é um diferencial que salta aos olhos nas músicas que entraram no álbum "A Noite Vai Ferver", de 2021, o único delas até agora.
O recente single "Perfeito Imperfeito", que ganhou versões elétrica e acústica, segue na mesma linha, mas com algumas inovações, com arranjos mais roqueiros e guitarras mais pesadas. "Os temas que estarão no segundo disco devem refletir a nossa evolução, vamos experimentar outras coisas. No primeiro álbum as letras eram da Angel. No próximo haverá colaborações de todas. Será uma mudança significativa."
Programado para sair ainda neste ano - "e com uma música de teor romântico", diz a guitarrista - o novo álbum terá um incremento no som em direção a mais peso e mais diversificação. O hard rock bluesy permanece, mas as músicas terão mais peso com a produção estrelada de Giu Daga, ganhador de três prêmios Grammy Latino com Titãs, NX Zero e CPM 22 (além de outras nove indicações).
Quem sabe não surge um álbum ao vivo ou um single com duas ou três canções gravadas no palco como aperitivo antes do novo disco? Bruna desconversa, mas não descarta. "Gravação ao vivo necessita de uma logística própria e bem planejada. Pode ser que aconteça, mas não está no radar. O momento é para celebrar as conquistas."
E não foram poucas, sendo que a apresentação no Rock in Rio 2022 foi o auge da trajetória da Malvada. Com agenda cheia, a banda integra o elenco de vários festivais nacionais neste ano, e ainda curte bastante os shoes nos botecos roqueiros e nos motoclubes. Machismo e misoginia ainda incomodam?
"Nunca foi fácil para as bandas só com mulheres, ainda costumam ser postas à prova o tempo todo. Já melhorou, mas ainda temos de encarar alguns momentos de desconfiança", relata Bruna. "E aqui a resistência se torna uma palavra importante e que simboliza nosso caminho, e o de outras bandas com mulheres, neste mês da mulher."
E o engajamento dentro da causa da igualdade de gênero e de oportunidades, segundo ela, é representado pela simples existência da Malvada e sua bem-sucedida trajetória de três anos.
"Nós, na Malvada, costumamos dizer que fato de existirmos já é um ato político diante um ambiente que continua dominado pelos homens e por bandas só de homens. Nunca se tratou de afronta, mas de afirmação e de busca por respeito. Igualdade de oportunidades sempre será uma meta para todas nós, musicistas de todos os gêneros", conclui a guitarrista.
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