domingo, 26 de março de 2023

Jane's Addiction faz show memorável em 'esquenta' para Lollapalooza

 Flavio Leonel - do site Roque Reverso

Para um pequeno e seleto público que migrou para a zona oeste de São Paulo na quinta-feira, 23 de março, o Jane’s Addiction realizou seu melhor show dentre todos os poucos realizados no Brasil. 

Com uma levada intimista, favorecida pela pequena Audio, o grupo norte-americano desfilou bons sucessos da carreira e empolgou os fãs presentes, boa parte deles admiradora desde os Anos 1990, quando a então banda da cena alternativa estourou mundialmente.

O show da quinta-feira foi a apenas o terceiro do grupo no País e foi realizado dias antes de a banda tocar no Lollapalooza 2023. Com um set list mais robusto de 15 faixas, com a levada intimista e sem a pressão de horários sempre imposta por festivais, a apresentação na Audio superou não apenas as do Maquinária Festival de 2009, como também as do Lolla de 2012 e de 2023.

Houve quem pensasse que os hiatos na carreira do Jane’s Addiction, bem como a pouca presença da banda em shows no Brasil e a falta de uma construção de um público mais jovem nas últimas décadas gerasse uma plateia decepcionante na Audio.

O cenário final foi, no entanto, uma invasão da casa de fãs antigos e sedentos por um show que lembrasse a fase mais alternativa do grupo.

Vale destacar que, até poucos minutos antes do início do show, a sensação era justamente de uma casa com menos da metade da capacidade preenchida. 

Em dia de greve do metrô na capital paulista, o atraso de pouco mais de meia hora do show foi providencial para que o público enchesse a maioria dos setores praticamente no início da apresentação.

Atrativos

Além de o show na Audio ser o primeiro do Jane’s Addiction num lugar fechado em São Paulo e no Brasil, havia outros atrativos para público que foi ver a banda.

Um deles foi o retorno recente (desde 2022) do baixista da formação clássica Eric Avery ao grupo, um detalhe que faria toda a diferença no decorrer do show.

Outro foi a estreia, em terras brasileiras, do guitarrista Josh Klinghoffer, ex-Red Hot Chili Peppers, com a banda. Ele substitui o guitarrista original Dave Navarro, que passou por problemas de saúde ligados à covid longa desde dezembro de 2021.

Como Navarro não deu ainda sinais de recuperação completa, vem sendo substituído por Klinghoffer em shows nestes primeiros meses de 2023.

O show na Audio

A apresentação na Audio já começou com uma mudança na estrutura do set list. Diferente de boa parte das apresentações recentes ou costumeiras do Jane’s Addiction, não foi “Stop!” a música escolhida para começar o show, mas “Up the Beach”, do álbum de estreia de estúdio “Nothing’s Shocking”, de 1988.

Com a faixa de abertura, além das músicas “Trip Away” e “Whores”, ambas do álbum de estreia ao vivo “Jane’s Addiction”, de 1987, o show demorou um pouco a agitar pra valer o público, que se manteve mais contemplativo nessas primeiras faixas.

Chamava a atenção desde o início, no entanto, o bom entrosamento da banda, mesmo com o pouco tempo de Josh Klinghoffer com os parceiros.

O guitarrista não decepcionou nas faixas e claramente estava curtindo aquele momento com a banda. Eric Avery aproveitou todos os momentos marcantes de baixo das faixas do Jane’s Addiction para mostrar o quanto ele é importante na performance do grupo. O baterista Stephen Perkins foi a energia em pessoa e era impossível não se empolgar com seu desempenho na Audio.

Por fim, o vocalista e líder Perry Farrell estava num dia gigantesco. Acompanhado de uma garrafa de vinho durante a maior parte do show, ele estava bem mais relaxado que em apresentações anteriores da banda em terras tupiniquins.

Também claramente curtindo aquele momento, ele conversou diversas vezes de maneira simpática e agradável com a plateia, além de trazer uma performance vocal que lembrou bons momentos da carreira.

E foi com a ótima “Ain’t No Right”, do clássico álbum “Ritual de lo Habitual”, de 1990, que o show finalmente engrenou e empolgou a Audio por inteiro.

A partir daquele momento, o show transcorreu com a contemplação das músicas iniciais, mas com a participação mais intensa da plateia, sempre regida pelo ótimo frontman Perry Farrell.

“No One’s Leaving”, “Ted, Just Admit It…” (única do “Nothing’s Shocking” neste período da apresentação com o “mar” de “Ritual de lo Habitual”), “Then She Did…” e “Obvious” mantiveram o revival de Anos 1990 na Audio.

Para completar o clima intimista e diferente daquela noite, houve a performance burlesca e sensual de três garotas que dançavam e se portavam como uma espécie de pin-up moderna, com cenas que fariam alguns que “descobriram” as tendências do Mötley Crüe no show do começo do mês no Allianz Parque ficar de cabelo em pé.

Entre as dançarinas, estava Etty Lau Farrell, que já acompanha o marido Perry há um bom tempo nos shows e é fundamental para levar o clima de sensualidade às apresentações.

Em “Chip Away”, liderados pelo baterista Stephen Perkins, o guitarrista Josh Klinghoffer e o baixista Eric Avery assumiram a percussão e deixaram a Audio com a energia ainda mais intensa.

Após a faixa “Kettle Whistle”, o Jane’s Addiction emendou uma série de hits. E eles transformaram a casa de shows paulistana num ambiente mais do que agradável, com o público cantando a plenos pulmões.

“Mountain Song”, do “Nothing’s Shocking”, era, talvez, a mais aguardada da noite e tem um poder impressionante sobre a plateia, que entrou em estado de êxtase.

As ótimas “Three Days” e “Stop!”, do “Ritual de lo Habitual” fecharam a primeira parte do show de maneira brilhante, com a banda em um entrosamento elogiável.

Após breve pausa, os músicos voltaram para o bis com mais dois sucessos obrigatórios no set list do Jane’s Addiction: “Jane Says” e o mega hit “Been Caught Stealing”.

Longe de dizer que as apresentações no Maquinária Festival e no Lolla de 2012 tenham sido ruins ou decepcionantes, mas faltava um show em São Paulo do Jane’s Addiction com esse clima mais intimista numa casa pequena e sem regras e horários de festivais.

Saldo final e comparação com o Lolla de 2023

O saldo final na Audio foi um público saindo do local realizado e feliz, assim como a própria banda, que tocou dias depois, no sábado, 25, no Autódromo de Interlagos, com a mesma qualidade, mas com uma performance bem mais enxuta no Lollapalooza 2023.

Enquanto, na Audio, foram 15 músicas e o maior set list apresentado no Brasil na carreira do grupo, no Lollapalooza, foram 10, tendo como maior diferença a inclusão da música “Ocean Size”, do “Nothing’s Shocking”, que até estava no repertório original da Audio, mas acabou não sendo tocada na ocasião.

No festival, o Jane’s Addiction optou pelo show de hits e se apresentou numa tacada só, com o sol se pondo numa tarde de sábado com alta temperatura na capital paulista, superior aos 30 graus Celsius.

No final do show, com “Chip Away”, a banda homenageou o baterista Taylor Hawkins, do Foo Fighters, cuja morte completou 1 ano exatamente no dia 25 de março.

Mais uma vez, muito longe de ser classificado como um show ruim ou fraco, o que foi visto no Autódromo de Interlagos foi menos intenso que o observado na Audio.

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