O boicote é uma força poderosa da economia internacional e foi superpotencializado em temos de internet e redes sociais. Eventos de todos os tipos são atacados - pra o bem e para o mal - e acabam modificados ou simplesmente cancelados.
Artistas e executivos de cinema (todos homens) são denunciados e presos - ou caem no ostracismo -, músicos são implacavelmente perseguidos por deslizes atuais e do passado e muitos jamais se recuperam.
O grande problema é que, em alguns casos, a verdade é a maior vitima, como nas guerras, e seu sacrifício, muitas vezes, nem mesmo servem aos perpetradores de acusações e denúncias.
O passado assombrou recentemente uma banda de black metal norueguesa, o Mayhem, que virou alvo de campanha contra suas apresentações no Brasil por supostas ligações ou mesmo apoio a teses e bandos neonazistas.
Por mais que o mundo norueguês da música desconheça o fato de o Mayhem ser nazista, o rótulo pegou por aqui, causando o cancelamento do show em Porto Alegre e, provavelmente, o de Brasília - Curiosamente, a banda esteve fazendo shows no Brasil em 2022 sem problemas...
No cenário internacional, a vítima da vez é Roger Waters, ex-baixista e vocalista do Pink Floyd, que tenta comemorar os 80 anos de idade com uma turnê mundial.
Entretanto, meia dúzia de gente mal intencionada resolveu iniciar uma campanha internacional que denuncia o músico como "antissemita". E está dando certo, já que dois shows na Alemanha foram cancelados nos próximos meses.
O músico tem 80 anos e 60 de carreira, mas só agora descobriram que ele é "antissemita"? Depois tocar mais de 150 vezes na Alemanha desde 1965?
Personalidades do mundo da música, como os guitarristas Eric Clapton e Tom Morello (Rage Against the Machine), assinaram documento público e internacional em apoio a Waters e contra os cancelamentos por "motivos absurdos" dos shows na Alemanha - e alguns na Áustria também correm perigo de serem cancelados.
Pacifista, antibelicista e ativista dos direitos humanos, com viés socialista, Roger Waters é um critico contumaz e ferrenho das políticas externas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha desde 1975.
Além disso, desde 1978, ao lado da atriz inglesa Vanessa Redgrave, é um militante tenaz nas campanhas de condenação internacional das políticas externas e das medidas do governos de Israel a respeito dos palestinos no Oriente Médio. é a sua principal causa internacional neste século, a ponto de telefonar a todo tipo de artista pedindo para que não toque em Israel de jeito nenhum.
Entre seus "alvos" estiveram Gilberto Gil e Caetano Veloso. Steven Wilson, guitarrista vocalista do Porcupine Tree, virou desafeto. Não suporta mais as ligações do outrora ídolo. Wilson colabora frequentemente com artistas israelenses, com quem mantém o projeto musical Blackfield.
A campanha de boicote a Waters é legítima, assim como a posição política dele. No entanto, os cancelamentos ocorrem por má fé de muitos dos acusadores e dos promotores de show, pois se baseiam em mentiras.
Waters não é antissemita. Nunca manifestou palavras ofensivas contra os judeus enquanto povo ou enquanto religião. Ele é um crítico contendente e contumaz do ESTADO de Israel, seja ele governado pela direita ou pela esquerda. Neste ponto, tem total apoio do Combate Rock.
O tratamento destinado aos palestinos em Gaza e na Cisjordânia, uando não dentro de Israel, é reprovável, quando não obsceno - situação denunciada, aliás, por inúmeros intelectuais e artistas israelenses e judeus de todas as partes do mundo.
Os conflitos no Oriente Médio entre judeus (e depois israelenses) e árabes datam da década de 1920, pelo menos, e pioraram com a criação do Estado de Israel, em 1948, logo depois do abandono das tropas britãnicas da região.
Com respaldo das potências ocidentais, o Estado israelense avançou sobre terras árabes na Palestina e os considerou inimigo desde a sua fundação.
Potência regional, venceu todas as guerras contra os vizinhos e sentiu-se autorizado o tratar os palestinos da região como subumanos e cidadãos de segunda classe, submetidos a ataques violentos e confinamentos em áreas restritas, além de promover a "colonização judaica" orçada e ilegal em áreas em disputa constante com os árabes, tudo com a leniência da ONU e do Ocidente.
Waters e Redgrave são militantes pró-Palestina e nunca foram antissemitas, mas os inimigos dos dois desde sempre tentam colar esse rotulo mentiroso.
Nunca tinha dado certo, mas agora parece que a desinformação e a burrice predominam a era das fake news. Falas de Roger Waters são distorcidas e transformadas em antissemitas, quando na verdade são críticas ferozes ao Estado de Israel e às políticas vergonhosas contra as populações árabes.
A distorção deliberada é uma óbvia demonstração de mau-caratismo. Só gora perceberam que ele era antissemita?
O bom site Igormirana.com.br fez uma interessante compilação com as polêmicas e as declarações/artigos de Waters que foram usados por muita gente para rotulá-lo de antissemita - clique aqui para ler o texto - https://igormiranda.com.br/2023/03/roger-waters-antissemitismo-falas/.
Roger Waters é um artista gigante e um dos mais engajados ativistas mundiais dentro do mundo das artes. Também erra feio em algumas de suas ações, como o apoio ao presidente russo Vladimir Putin na guerra contra a Ucrânia - uma postura que mistura desinformação e antiamericanismo infantil. Felizmente ele está revendo suas opiniões sobre o tema.
Antifascista convicto e defensor da democracia - ainda, equivocadamente, elogie alguns ditadores pelo mundo por ser crítico da política externa americana -, é um entusiasta do boicote cultural contra Israel, fazendo parte de movimentos neste sentido integrados por gente importante do mundo das artes.
O boicote a Waters poderia ser legítimo em sua integralidade se ocorresse por motivos, no mínimo, razoáveis, e não mentirosos. No momento, o ex-Pink Floyd é a principal vítima do mundo de boicotes, cancelamentos e ataques insidiosos, algo bastante perigoso nestes tempos perigosos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário