O show em São Paulo teve ainda marcas históricas, já que a banda contou com o grande, em tamanho e técnica musical, Dan Lilker no baixo do Anthrax, substituindo Frank Bello, que, por razões pessoais, não conseguiu acompanhar a banda na turnê pela América Latina.
Lilker, que é membro fundador e baixista original não somente do grande Nuclear Assault, mas também do próprio Anthrax, voltou a tocar com a banda pela primeira vez em 40 anos nesta turnê. Foi a primeira vez que ele veio como integrante do grupo ao Brasil, depois de tantos outros shows com seus outros grupos, como o próprio Nuclear Assault ou o Brutal Truth.
Com uma presença de palco impactante e no maior estilo “old school” do thrash metal, Lilker substituiu à altura o também ótimo Frank Bello, que sempre foi um dos componentes do Anthrax de maior atitude sobre o palco nas várias turnês da banda em terras brasileiras.
Os demais integrantes também mantiveram a tradição de proporcionar bons shows ao público da capital paulista. Enquanto o vocalista Joey Belladonna ainda resiste bravamente e de maneira incrível com seus 63 anos de idade, sem decepcionar, o baterista Charlie Benante mantém sua técnica, acompanhado pelo guitarrista solo Jonathan Donais e pelo sempre ótimo Scott Ian, um dos maiores guitarristas base da história do heavy metal.
O modo inusitado e surpreendente que fez o Roque Reverso acompanhar o show
Na vida, há coisas inexplicáveis que, muitas vezes, atribuímos a ações divinas. No domingo, o Roque Reverso vivenciou um desses exemplos que costumam fazer o ser humano, no mínimo, refletir.
Ignorado completamente pelo segundo ano seguido pela organização do festival (que sequer envia um release informativo para este veículo de comunicação que completa 15 anos de existência em 2024), o Roque Reverso decidiu não fazer a cobertura do evento.
A ideia foi prestigiar como fã as bandas favoritas, como o Death Angel, o Anthrax e o Mercyful Fate. Mas havia um empecilho gigante: o preço salgadíssimo do ingresso, que, no dia dos shows, estava saindo por mais de R$ 700,00 na versão social!!!
Como os jornalistas deste site não nadam em dinheiro, a opção foi tentar ver alguma coisa dos shows do lado de fora do Memorial da América Latina, da avenida mesmo, onde era possível ouvir o som de maneira nítida e avistar parte dos palcos e três telões grandes.
Para não desmentir a dificuldade de acesso ao preço alto dos ingressos, havia um público de cerca de 50 pessoas do lado de fora, por volta das 15h30 do domingo, curtindo o show do Carcass.
Após o fim do show do Carcass, este jornalista tentou migrar para o outro lado do Memorial, para ver se conseguia acompanhar o show do Death Angel. Diferente do que se podia ver no outro palco, era impossível ter qualquer tipo de visão dos representantes da Bay Area. O que restou foi ouvir o show, que já se encaminhava para a metade da apresentação.
Foi quando um sujeito de sotaque espanhol se aproximou e perguntou se este queria entrar.
Imaginando ser um cambista, a resposta sincera deste que vos escreve foi a de que não havia dinheiro e que a intenção era apenas tentar captar algo do show, mesmo que do lado de fora do evento.
Com um sorriso no rosto, o indivíduo repetiu a mesma pergunta: “Quer entrar?”
E acrescentou que tinha 5 ingressos sobrando e daria um deles para este jornalista. Sem acreditar naquilo que estava acontecendo em seus mais de 33 anos de shows e festivais de rock, este que vos escreve respondeu que queria muito entrar, sendo contemplado de imediato.
Estando no Brasil, há sempre algum pé atrás quando, como diz o ditado, “a esmola é demais”. Mas, em nova surpresa, o ingresso, que parecia ser um de cortesia, foi aceito sem problemas pelo equipamento de leitura da atendente.
Meio que tremendo com aquela situação e ainda sem acreditar naquilo que estava vivendo, este jornalista correu para pegar a parte final do show do Death Angel, que já havia proporcionado a este mesmo veículo de comunicação, em 2010, experiências incríveis e inacreditáveis na sua primeira passagem pelo Brasil.
Começava ali a oportunidade de ver o show do Anthrax!
O grande show
Apesar de ter vindo ao Brasil em 2019 para o Rock in Rio daquele ano, o Anthrax não vinha para São Paulo desde 2017, quando, tocando numa mesma noite que teve um ensurdecedor Accept no mesmo evento no Tom Brasil, deu um verdadeiro banho de thrash metal.
Quem tem clássicos tem tudo. E o Anthrax, mesmo sem lançar um álbum novo desde 2016, sabe que tem sucessos suficientes para montar um set list de respeito.
Como toda banda veterana, o Anthrax tem algumas músicas fixas no repertório que dificilmente saem da lista por serem quase que obrigatórias.
Foi com três delas que o grupo abriu o show no Memorial da América Latina. Logo de cara, a banda iniciou a apresentação com nada menos que “Among the Living”, com uma energia gigantesca que fez o público se animar e cantar alto.
A segunda da noite, “Caught in a Mosh”, já contou com uma quantidade maior de rodas e teve sinalizadores acesos, numa cena pouco comum em grandes festivais no Brasil.
Enquanto o peso imperava, chamava a atenção como Dan Lilker batia cabeça como se seu pescoço fosse de borracha. Ao lado, o normalmente tímido Jon Donais girava a cabeça também de um modo que parecia uma hélice.
O show estava do jeito que o público desejava, mas quem tem cartas na manga sempre pode melhorar. E foi o que o Anthrax fez com “Madhouse”, que é daquelas faixas que faz o mais gelado dos fãs se empolgar.
“Metal Thrashing Mad” não era tocada em São Paulo desde 2012, mas, agora, em 2017, ela tinha uma razão mais do que especial para entrar no repertório, já que pertence ao álbum de estreia da banda “Fistful of Metal”, o único gravado com Dan Lilker. Mesmo para quem já viu o Anthrax inúmeras vezes ao vivo, foi uma emoção diferente e única ver aquele momento ao vivo e a cores.
De volta às faixas sempre presentes, “Efilnikufesin (N.F.L.)” manteve a tradição de ampliar o número de rodas no show. Sempre ótima ao vivo, ela ajudou este que vos escreve a chegar mais perto da grade, já que a roda foi usada para atalho para chegar ali.
Uma grata novidade no show foi a inclusão de “Keep It in the Family”, uma faixa que fez muita falta nas vindas recentes e em sequência que o Anthrax fez na última década a São Paulo. Para o leitor ter uma ideia, ela não era tocada na capital paulista desde 1993, quando a banda veio com John Bush nos vocais na turnê do álbum “Sound of White Noise” no saudoso Olympia!
Outra sempre presente, “Antisocial”, também repetiu o sucesso de sempre entre os fãs e foi cantada a plenos pulmões.
Foi seguida por “I Am the Law”, que pode não aparecer com a mesma regularidade no repertório, mas que já foi tocada em várias vindas do Anthrax ao Brasil. Para melhorar o momento, Scott Ian chamou ninguém menos que Andreas Kisser, do Sepultura, para uma participação especial no show.
A mais lenta “In the End”, sempre dedicada a Ronnie James Dio, foi a mais jovem do set list e, assim como a veterana “Medusa”, representou aquele momento do show no qual os fãs já estão em período de descanso, depois do agito das músicas anteriores.
Ela foi seguida da sempre presente “Got the Time”, que também tem o poder de sempre incendiar público. Curta, rápida e direta, ela, desta vez, representou um ponto baixo na performance da banda porque ficou com o som meio que embolado em alguns momentos da execução da faixa.
Também sem ser tocada em solo paulistano desde 1993, “A.I.R.” foi outra grata surpresa do show, caindo no gosto de muitos fãs que desejavam músicas antigas pouco tocadas por aqui.
Para fechar com chave de ouro a apresentação no Memorial da América Latina, o Anthrax trouxe a mais do que obrigatória “Indians”, que também contou com sinalizadores, além de rodas em vários lugares da pista.
No clássico momento da “War Dance”, Charlie Benante manteve a tradição aqui em São Paulo de parar a música, para Scott Ian pedir o envolvimento máximo da plateia. Diferente das apresentações recentes em casas de shows menores, a roda de mosh criada foi a maior já vista em shows do Anthrax em terras paulistanas. E foi impossível não entrar nela.
O saldo final do show foi o melhor possível. Quem já havia visto o Anthrax várias vezes, teve a oportunidade de ouvir músicas ao vivo que a banda não tocava há tempos. Quem foi pela primeira vez a uma apresentação do grupo, teve um desfile de clássicos adequado e de alta qualidade para reforçar sua admiração pela banda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário