segunda-feira, 15 de abril de 2024

Beto Bruno e a celebração da importância do underground no rock nacional

Artista underground é uma expressão bonita e sofisticada para descrever músico que precisa ralar todo dia e todo fim de semana para pagar as contas.  essa é a realidade da grande maioria de quem vive de música no Brasil desde sempre, segundo um expert no assunto, o cantor e compositor Beto Bruno, ex-integrante do grupo gaúcho Cachorro Grande.

Se alguém precisa de uma imagem e informações  de como é viver de música no mudo underground do rock nacional é só assistir ao mais recente episódio do programa "Alt Cast" no YouTube, apresentado pelo jornalista Muricio Gaia e pelo músico José Antonio Algodoal, guitarrista da banda Pin Ups e ex-produtor da MTV Brasil.

Beto Bruno, articulado, inteligente e de uma lucidez que chega a incomodar, descreve detalhes do dia a dia de ser um cantor que assumiu todas as tarefas de conduzir a sua carreira, de negociar datas e cachês e seus shows a buscar alternativas mais baratas para gravar e excursionar. 

"Não é um problema para mim viajar pelo interior sozinho e tocar com músicos locais de apoio. Eu preciso é me apresentar e estar em atividade para ganhar dinheiro", diz o cantor de uma forma simples e humilde. "Claro que não é o ideal, mas é o possível diante das circunstâncias. Em idades maiores ou capitais eu consigo levar a banda que me acompanha, mas não é a regra."

Mesmo longe da Cachorro Grande, Bruno diz que a carreira solo tem sindo mais rentável, embora o faturamento não seja o mesmo, obviamente. Mas pelo menos tem conseguido trabalhar e viver com mais tranquilidade e certo conforto. "Eu mesmo sou o responsável pelos meus erros e acertos, não há mais estresse com discussões dentro de uma banda e ter de ponderar uma série de decisões."

Faz seis anos que ele decidiu encerrar a Cachorro Grande depois de uma série de problemas e brigas entre os cinco integrantes, tudo regado a excessos com drogas e bebidas, bem de acordo com a cartilha batida seguida por quase todas as bandas de todos os tipos.

"Eu era o chato, eu era o controlador e o responsável por administrar tudo. Era muita coisa e as naturais diferenças pessoais foram potencializadas pelo uso abusivo de drogas", comentou sem a menor vergonha. "O clima não ficou bom e corríamos o risco de total rompimento entre nós. A separação manteve a nossa sanidade e a amizade."

Deu tão certo que ele e o guitarrista Marcelo Grosso, os principais compositores, engataram carreiras solo bem-sucedidas, mas movidas a muito trabalho e muitos shows em quase todos os finais de semana.  Respirar novos ares possibilitou até mesmo que os cinco integrantes voltassem a tocar juntos.

"Fo,os convidados para tocar nos 250 anos de fundação e Porto Alegre. Um único show reunindo a Cachorro Grande. Foi mágico e legal", relembra Bruno. "Aí decidimos fazer um show em Porto Alegre uma vez por ano como forma de agradecimento mas, de vez em quando, surgem propostas de uma  miniturnê de dez shows, como no segundo semestre deste ano. Acho uma boa solução para manter o legado de 20 da Cachorro Grande sem ter de passar pelos estresses que passamos antes."

Fanático por Beatles e Rolling Stones, além de exímio conhecedor do rock internacional dos anos 60 e 70 e também da música brasileira, Beto Bruno é uma das cabeças mais criativas e inteligentes de nosso meio artístico. Foi responsável por uma das melhores entrevistas já exibidas pelo programa de web rádio Combate Rock, em 2013 - a conversa foi tão boma que foi desmembrada em dois programas, com quase três horas de conversa e música da melhor qualidade. 

Com memória prodigiosa e uma experiência ímpar, é uma figura indispensável para entender o rock nacional e o funcionamento do show business do underground .

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