sexta-feira, 27 de maio de 2022

Cultura e artes vítimas da perversidade como instrumento político

A face mais terrível da dos impactos pandemia de covid-19 sobre a área cultural foi revelada na semana passada com o pedido de ajuda feito pelo cantor Marcello Pompeu nas redes sociais.

Vocalista da extraordinária banda Korzus e um dos nomes que encabeçam o estúdio Mr. Som, em São Paulo, o músico revelou em suas contas nas redes coais que passavam por um momento financeiro delicado e pedia emprego aos fãs, "qualquer coisa que eu possa fazer e ajudar no trabalho".

Ele não revelou a natureza dos problemas de dinheiro que o acometem e afirmou que era um caso de "urgência" e admitia que poderia deixar de cantar temporariamente.

Dias depois ele agradeceu nas mesmas redes o apoio que recebeu e a preocupação. Disse que não abandonaria a vida artística e que conseguiria resolver "alguns problemas" imediatos, não revelando se tinha conseguido algum tipo de emprego ou de trabalho fora da música.

Não dá para cravar que os problemas financeiros do cantor se devem à pandemia ou à falta de trabalho em decorrência das medidas de distanciamento social por conta da pandemia. Pessoas que o conhecem e convivem com ele dizem que sim, a pandemia afetou bastante os negócios da banda e do estúdio.

Músico exemplar em termos de profissionalismo e produtor renomado e requisitado, Marcello Pompeu é nome querido dentro do rock nacional e muito respeitado fora do gênero, por isso o pedido d socorro na internet surpreendeu e comoveu os metaleiros nacionais. Depois de muito tempo de silêncio, o Korzus lançou música nova, "You Can't Stop Me", no ano passado.

Se um profissional reconhecido e tarimbado como Pompeu sofreu bastante com os efeitos da pandemia, imaginemos então artistas e profissionais da música que não têm a carreira estrelada do cantor do Korzus e que se viram sem alternativas para sobreviver?

Por isso que os vetos presidenciais às Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo ficam cada vez mais criminosos a cada dia que passa. São leis aprovadas pelo Congresso que levariam entre R$ 4 bilhões e R$ 7 bilhões em ajuda a artistas de todos os tipos que foram impactados pela pandemia, com regras específicas e rígidas para ter acesso aos recursos, que passariam pelos governos estaduais e municipais.

É dinheiro mais do que necessário para reorganizar o setor cultural e resgatar a arte, mas o nefasto governo bolsonada, em sua guerra cultural contra a sociedade civilizada, continua firme no propósito de destruir o conhecimento e apostar nas trevas absolutas.

A quantidade de casas de shows, bares e restaurantes que fechou desde março de 2020, quando o mundo teve de se recolher, é gigantesca, deixando milhões de profissionais sem trabalho no Brasil. 

Enquanto houve liberação emergencial de dinheiro para algumas categorias profissionais e auxílio financeiro pra boa parte da população, o setor cultural foi deliberadamente escanteado, comprometendo a existência de bandas, das carreiras de artistas solo e atentando contra a segurança das próprias que viviam da arte e da cultura. 

Este tipo de perversidade não só é indecente como é criminosa, realçando a índole destrutiva de um governo incapaz que sobrevive com o caos institucional como forma de mascarar a total falta de ação e de competência para administrar.

É a implantação de níveis altos de perversidade que caracteriza o mundo nojento bolsonada; é a aposta no quanto pior, melhor politicamente, na vã esperança de que o nicho asqueroso do bolsonarismo, medieval e de inspiração fascista, será o suficiente para sustentar esse conjunto de politicas nocivas e para reeleger o presidente mentecapto.

Tudo indica que não será, mas ainda existem sete meses de um governo insano, corrupto e perverso onde um golpe institucional ou militar é bem possível, ou, antes de entregar o cargo a outro, esse governo decida depredar de uma vez tudo o que sobrou de civilização e institucional.

Enquanto isso, congressistas covardes decidiram lavar as mãos e ignorar os vetos das Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Foram desrespeitados e humilhados pelo presidente bolsonada,. e preferiram não analisar os vetos e derrubá-los por medo de que isso possa ter repercussão em suas reeleições. Optaram por deixar a classe artística à mingua a ter de encarar um risco, ainda que pequeno, de que possam perder votos.

"A eleição geral de 2022 prejudicou a análise de vários projetos de lei importantes, assim como as análises de vetos presidenciais. Ninguém quer correr riscos, ninguém quer discutir ou debater Lei Rouanet, ainda um tema controverso e que tem potencial de dar muitos votos ao bolsonarismo", comentou um deputado federal paulista que tentará a reeleição, e pediu para não ser identificado. "Mesmo quem não é de esquerda e votou a favor das duas leis não quer se envolver com esses vetos presidenciais."

É uma pena que que a face terrível dessa perversidade tenha ficado evidente somente agora, quando do pedido de ajuda de Marcello Pompeu, do Korzus. Quantos passaram muita necessidade calados, sem perspectivas, sem chances, sem qualquer alternativa de sustento.

Marcello Pompeu, no auge do desespero, foi corajoso e honesto. Teve muita coragem para expor sua situação e ganhou muita admiração - ainda mais - dentro do meio artístico. Admiração não resolve problemas financeiros, mas ajuda amenizar o sofrimento e abre os olhos de amigos e fãs para questões não são apenas "particulares" de um cantor de heavy metal.

Da mesma forma, é evidente que o auxílio emergencial cultural não acabaria com os problemas do setor. O problema é que a cultura e as artes foram deliberadamente excluídas do processo de ajuda emergencial, que aliviaria custos e diminuiria dívidas. 

O quanto esse dinheiro retido e vetado pelo presidente asqueroso não poderia ajudar Pompeu na manutenção do estúdio ou a amenizar as dívidas dos clientes dele, ou seja, ajudar artistas que gravaram no Mr. Som e, por vários motivos, não puderam honrar seus compromissos (falando hipoteticamente, neste caso)?

O caso de Pompeu é um dos reflexos diretos da perversidade política e ideológica como forma de administrar (mal) e de usar esse tipo de política diretamente contra inimigos de todos os tipos - e a cultura e as artes, por motivos óbvios, foram escolhidas como "inimigos" do bolsonarismo de inspiração fascista, autoritária e medieval.

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