segunda-feira, 2 de maio de 2022

Tivemos o que queríamos: Kiss se despede com festa e dignidade

 Henrique Neal - especial para o Combate Rock

Fiquei preocupado nas vésperas de encarar o maior espetáculo da Terra no Allianz Parque. Durante a semana, Jon Bon Jovi foi destroçado nas redes sociais de todo o mundo por ter desafinado durante uma versão de "Wanted Dead or Alive" em show nos Estados Unidos. Em Buenos Aires, na mesma semana, os caras deram algumas "rateadas" no começo do show... E a voz do cantor não estava lá essas coisas...

Mas e daí? Daí que isso pouco importa. O maior espetáculo da Terra carece de detalhes tão comezinhos e irrisórios. A celebração da turnê de despedida do Kiss não comporta tais mesquinharias. Nós sempre quisemos o melhor, e sempre tivemos o melhor. 

Claro que é desolador saber que a maior banda de todas vai parar e que seus donos, Gene Simmons (baixo e vocais) e Paul Stanley (guitarra e vocais), aos 70 anos de idade, sentem o peso do tempo.

Stanley desafinou sim, E daí? Daí que o show do Kiss é maravilhoso mesmo com desafinadas e eventuais erros de notas - imperceptíveis para a maioria. 

Só chatos como esse tal de Marcelo Moreira, do Combate Rock, que valorizam ao extremo a perfeição técnica, como se todas as bandas tivessem de ter uma performance perfeita do tipo Dream Theater, com sua maestria estéril e virtuosismo técnico com a sensibilidade e espontaneidade de um caixa eletrônico.

São senhores septuagenários que estão longe de sua forma ideal, como Bon Jovi, e que, ainda bem, não tentam esconder com truques sujos e baratos - ok, vai, tem alguns truquezinhos sujos e baratos, mas aponte o dedo quem nunca fez uso de tal recurso...

Kiss é espetáculo, é vibração, é um estado de espírito. É a celebração do rock em estado puro, com espetáculo circense, luzes, performances envelhecidas e repetidas, mas sempre maravilhosas. Quer perfeição técnica e voz lá em cima? Fique no sofá e divirta-se com um DVD ou no YouTube...

Algumas criticas parecem ter saído do mais profundo limbo da depressão pós-pandemia, se é que a pandemia acabou. Querem que Paul Stanley cante com a mesma potência vocal de quando gravou o "Alive I", em 1976. 

É o mesmo que exigir que os aposentados ex-jogadores Zico (Flamengo), aos 69 anos, e Ronaldo Fenômeno, aos 45 anos e gordo, disputem um jogo, mesmo que festivo, com a mesma intensidade e qualidade de suas épocas de ouro. Mais do que burrice e chatice, prece haver resquícios de deformação de caráter neste tipo de exigência.

Em sua suposta última passagem por São Paulo, o Kiss entregou tudo o que tinha para entregar. É sempre o mesmo show de sempre,. e é sempre maravilhoso, com todas as repetições de truques e discursos manjados.

E a gente esquece de tudo quando começa a tocar "Detroit Rock City" e cai de cabeça na dança desenfreada quando soam os primeiros acordes de "Rock'n' Roll All Nite". E é sempre bom lembrar de como era instigante viver nos anos 80, ao som de "Heaven's of Fire" e "Lick It Up".

Não há como não se emocionar com o manjado cuspe de fogo de Simmons em "I Love It Loud" ou com o suingue de "Shout It Out Loud", com as guitarras mandando brasa (essa é do tempo do Kiss...).

E o que dizer de escutar a arrepiante "Black Diamond" cantada por 65 mil almas no Allianz Parque? Arrepiou também escutar "Deuce" e "Love Gun", clássicos obrigatórios, e emocionou ver a balada "Beth" recuperada e espalhar romantismo um show de "monstros satânicos".

 O Kiss não mostrou nada de novo. Repetiu os velhos truques de sempre, e encantou como sempre. Foi maravilhoso como sempre. Nós queríamos o melhor, e novamente tivemos o melhor, e pela última vez. 

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