O menino de óculos exalava uma confiança que chegava a irritar, e foi frequentemente confundida com arrogância. Aos 12 anos de idade, o norte-americano Joe Bonamassa duelava na TV com B.B. King e outros astros do blues assombrados com a qualidade e a personalidade da criança.
Tudo parecia levar que o guitarrista-mirim seria a nova joia precoce do mundo da música. Ele também achava, mas o projeto Bloodline, de hard rock, montado pra catapultar a sua carreira em 1994, aos 17 anos, mostrou que o mundo da música era traiçoeiro e não perdoava deslizes. E sua autoconfiança foi varrida.
Foram precisos seis anos para que tivesse cara e coragem e para engatar uma carreira solo consistente e, depois, brilhante, a ponto de se tornar o maior nome do blues da atualidade.
Aos 45 anos, Bonamassa contempla um passado árduo, mas instigante e cheio de passagens arrebatadoras, a ponto de moldar sua personalidade musical em 22 anos ininterruptos de de dois, às vezes três lançamentos por ano, nos mais variados projetos.
Em m mercado depredado e modificado, com a indústria ainda buscando um novo modelo de negócios, o nerd da guitarra pode se dar ao luxo de escolher os seus trabalhos e de enveredar pelo caminho da produção - ele assina os mais novos trabalhos de Eric Gales, Joanna Connor e Joanne Shaw Taylor.
A maturidade trouxer um novo olhar para a música que sempre produziu com paixão. O blues é a base de tudo, mas o jazz e a country music estão cada vez mais presentes, enquanto o rock fica um pouco em segundo plano.
"Time Clocks", de 2021, um trabalho mais reflexivo e com mais ênfase em arranjos elaborados e riffs menos rebuscados, coloca seu trabalho em nova perspectiva, abrindo caminho para possibilidades antes restritas a uma ou outra música.
Ele detesta quando dizem que ele salvou o blues. "O blues nunca precisou de salvação, assim como o rock. O blues precisa de paixão e de novos ouvintes, e essa é a missão de muitos artistas que estão se destacando ultimamente", declarou à revista Guitar World em 2017. "Eu quero que as pessoas ouçam a minha evolução como um artista de blues rock."
O seu sucesso é uma prova de que o blues não precisa de salvação. Como um missionário, decidiu levar os ensinamentos a todos, e faz questão de recuperar o que de melhor a música produziu, influenciando-o diretamente. E o resgate da história faz parte de sua jornada.
Criou shows específicos pra homenagear seus heróis, como Muddy Waters, Howlin' Wolf, Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, tudo devidamente registrado em CD e em DVD. Foi por meio de Bonamassa que novas gerações redescobriram o prazer de ouvir rock e blues direto da fonte.
Como um grande curador musical, segue mostrando do que é capaz em inúmeros trabalhos sem que pense em desacelerar. DE todos os projetos paralelos, a banda de hard rock Black Country Communion parece devidamente sepultada, mas é exceção diante da sua monstruosa força e capacidade de trabalho.
A maturidade e a experiência trouxeram novas perspectivas para o guitarrista, que vem comentando em várias entrevistas que pretende abordar novos caminhos sem exatamente detalhar do que se trata.
As pistas podem estar em "Time Clocks", possivelmente seu melhor álbum na carreira solo, o que demonstra que Bonamassa está no seleto grupo de artistas incapazes de lançar coisa ruim. Não esperemos uma grande guinada na carreira, mas certamente as "novas perspectivas" que se descortinam embutem muitas surpresas para esse período de quase pós-pandemia de covid-19.
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