quinta-feira, 19 de maio de 2022

Vangelis deu uma cara mais 'humana' à new age e ao progressivo

 É um som de almas torturadas e angustiadas. Foi dessa forma que um espirituoso músico paulista classificou a música do tecladista e compositor grego Vangelis lá nos anos 80, quando o sucesso era estrondoso em sua carreira solo. 

O paulista não se conformava com a associação do cantor Jon Anderson, então ex-Yes, com aquele grego insosso e soporífero mais afeito a trilhas sonoras de filmes nem tão gloriosos.

Vangelis era um peixe for da água entre os roqueiros, e apreciava isso. Acreditava que era o seu diferencial dentro do que se imaginava uma nova vertente do rock progressivo. Jon Anderson foi fundamental para dar credibilidade a essa "vertente".

Morto aos 79 anos de idade nesta quinta-feira (19) - as causas não foram reveladas -, Vangelis se tornou sinônimo, erroneamente, de "música de elevador", "new age pop", produtor de fundo musical para propaganda ruim e outras formas depreciativa de sua arte.

Nem mesmo a trilha premiada do filme "Chariots of Fire" (Carruagens de Fogo), de 1981, foi capaz de arrefecer as críticas por parte de um segmento musical pouco disposto a ouvir algo diferente, ainda que nem, tão inovador. Não é coincidência que os alemães do Kraftwerk tenham passado pela mesma coisa e, de certa forma, com as mesas pessoas.

Para desespero dos empedernidos roqueiros amantes do progressivo, Evángelos Odysséas Papathanassíou, seu nome de nascimento, esteve perto de, ao menos, ser testado para a substituir rick Wakeman, em 1973. 

Vangelis já era nome consagrado na Europa ao integrar e ser o principal mentor do grupo Aphrodite's Child no começo dos anos 70, inaugurando o chamado techno pop, ainda que sem o uso do termo. Vendeu mais de 2 milhões de discos e ficou rico.

Quando Wakeman debandou do Yes logo depois das gravações do disco "Tales of Topographic Ocean", o grego foi cogitado para assumir as teclas da banda inglesa. 

Uma lenda diz que Vangelis só não entrou na banda por conta de uma pressão feita pelo Sindicato dos Músicos da Inglaterra alegando que era estrangeiro e que não teria autorização de trabalho. Só esquecem de mencionar que quem o ocupou o lugar de Wakeman foi Patrick Moraz, um suíço que também não tinha a suposta autorização de trabalho...

Muitos não admitem que Vangelis já era muito grande para entrar no Yes e que, na verdade, se houve alguma possibilidade concreta da entrada do grego, não passou de mera especulação, já que ambasas partes não se animaram com o negócio. Moraz, mais erudito e menos exuberante, acabou sendo uma opção mis interessante para o Yes.

Mergulhando nas trilhas sonoras, Vangelis ganhou o Oscar de melhor trilha sonora original por "Chariots of Fire" e estourou de prestígio e vendas com as músicas contidas no filme "Blade Runner", de Ridley Scott, de 1982.

A eventual/suposta frustração de não ter entrado no Yes foi superada com a associação com Jon Anderson em álbuns identificados com uma estética alternativa, transitando entre a new age e a world music.

A partir dos anos 90 a sucessão de hits eletrônicos acabou, mas o prestígio continuou intacto, trabalhando sempre com trilhas e compondo para artistas pop europeus. Seu último disco solo foi "Juno to Jupiter", do ano passado, insopuirado em missões espaciais da Nasa ao planeta Júpiter.

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