quarta-feira, 25 de maio de 2022

Ron Wood, o guitarrista amigão da galera, comemora 75 anos de idade



Amigão de todo mundo, o guitarrista Ron Wood era considerado o maior festeiro do rock inglês, principalmente nos anos 70. 

As festas em sua mansão nos arredores de Londres ficaram famosas por reunir a nata do rock mundial naqueles tempos – era muito fácil ver por ali quase todos os Rolling Stones, pelo menos dois ex-Beatles, quase todo o Who, além de David Bowie, Elton John, integrantes de Traffic, Yes e muitos outros. 

Irmão mais novo de Art Wood, da banda The Artwoods, desde cedo circulou com propriedade entre a realeza do rock e ganhou a pecha de cara bacana, amigão para todas as horas. E essa postura foi valiosíssima pra que se tornasse um membro efetivo dos Stones naquela década dourada.

Completando 75 anos de idade neste 2022, Ron Wood revelou-se a melhor escolha dos Rolling Stones para substituir o frágil e esgotado Mick Taylor naquele começo de ano de 1975. Experiente, amistoso e sem qualquer resquício de estrelismo, era o cara ideal para servir de anteparo entre Mick jagger e Keith Richards, os líderes que não se entendiam já naquele tempo.

Tanto foi assim que Keith Richards, guitarrista e fundador dos Stones, praticamente se hospedou em sua casa por alguns meses entre 1973 e 1975 – o estúdio caseiro da casa era considerado um dos mais confortáveis e equipados da Inglaterra. 

George Harrison, ex-guitarrista dos Beatles, também costumava visitar Wood com frequência para jogar sinuca e fazer um som. Não foi surpresa, no entanto, que Wood tenha sido chamado para quebrar o galho e substituir Mick Taylor na turnê norte-americana dos Rolling Stones de 1975.

Era a chance de ouro do guitarrista esperto e habilidoso que tinha tocado nas pouco expressivas Birds e Creation entre 1964 e 1966. Aos 20 anos, via a vida passando rápido e os amigos mais chegados se dando bem enquanto ele ainda procurava o seu rumo.

Por isso não pensou duas vezes ao se tornar baixista do Jeff Beck Group, que foi formado em 1967. Beck era conhecido do irmão e aceitou a indicação pra que o narigudo de cabelo espetado se juntasse a ele, ao baterista Mick Waller e ao vocalista Rod Stewart.

A formação durou pouco e estava implodida no final de 1968, mas Ronnie ganharia um irmão para toda a vida - Stewart e ele eram insepaváveis. Tanto que não pensaram muito para se juntar ao Small Faces, que tinha perdido o guitarrista e vocalista Steve Marriott, que formou dupla com Peter Franpton no Humble Pie.

Wood voltou para a guitarra e os Small Faces viraram somente Faces em 1969. Foram quatro discos dew estúdio e um ao vivo (mais quatro solos de Stewart) entre 1969 e 1974, com a banda rivalizando em todos so sentidos com Rolling Stones, Led Zeppelin e The Who em vendas de LPs e ingressos.

Estranhamente, o sucesso de público e de crítica não se traduziu em grana para os integrantes. Enquanto os concorrentes ficaram milionários, os Faces se esfarelavam em brigas internas por ciúmes de Rod Stewart e gastos exorbitantes com drogas, bebidas, destruição de hotéis e perdas de instrumentos.

O mais ajuizado do quinteto era o baixista Ronnie Lane, que saiu em 1973. Foram dois anos capengando até que Stewart finalmente desse prioridade à carreira solo. Era o que Ron Wood precisava para se oferecer aos Stones para quebrar o ganho no lugar de Mick Taylor, demissionário e confuso.

Taylor decidira saíra no final de 1974, mas só oficializou no começo do ano seguinte. Reclamava  bastante dos ex-companheiros - a banda era uma zona e Jagger e Richards não lhe davam créditos de coautoria nas canções mesmo quando ele era o principal compositor.

Richards nem pestanejou: convidou o então melhor amigo naqueles tempos mesmo sem a aprovação de Mick Jagger – não que houvesse alguma restrição, já que Ronnie estava em boa conta com o vocalista, que costumava visitar Wood e usar o seu estúdio particular.

A questão é que Keith Richards meio que "peitou" o companheiro de liderança nos Stones. A amizade de anos facilitou a convivência e o entrosamento foi quase que imediato, ainda que Jagger fosse reticente quanto à efetivação.

Wood tocou como convidado por um ano e meio, mas a incerteza não o abalou: disse adeus aos Faces no final de 1975, sacramentando a implosão do quinteto então liderado por Rod Stewart – que, diga-se de passagem, mantinha desde 1970 uma bem-sucedida carreira solo paralela. 

Sua caminhada para se tornar um stone ganhou o passe definitivo em 1976, ainda que escolhesse receber salário em vez de uma parte dos ganhos da banda. Mas antes teve de passar por um constrangimento.

O afável e amigão Ronnie Wood não se abalou nem mesmo quando Jagger convenceu o resto dos Stones de que deveriam fazer "testes" para escolher definitivamente o novo guitarrista. Apostou alto na amizade com Richards e no entrosamento com o baixista Bill Wyman e o baterista Charlie Watts.

Jagger decidiu receber em um estúdio em Munique, na Alemanha, em meados de 1976, alguns amigos e candidatos para jams e testes. Eric Clapton e Jeff Beck passaram por lá, sem saber ao certo se estavam ou não sendo avaliados. O mesmo ocorreu com os americnaos Wayne Perkins e Harvey Mandel.

Por educação, Ronnie foi convidado também. Em sua autobiografia, Wood conta que conversava durante alguns intervalos dos testes – que marotamente tiveram trechos usados no álbum dos Rolling Stones daquele ano, "Black and Blue" – com os amigos Clapton e Jeff Beck.

Em um dado momento, Clapton, consciente de que se tratava de uma "seleção", disparou: "Não sei se quero, mas me parece claro que eu sou um guitarrista melhor do que você. Não entendo o que ocorre aqui." Sorrindo, Wood rebateu: "Você é melhor, sem dúvida, mas quem vai ter de aturar Keith [Richards]? Eu aguento na boa, e você? vai conseguir conviver com ele? Quanto tempo dois gênios da música vão ficar juntos?"

Richards nem precisou argumentar muito para impor sua vontade e escolher o chapa Ronnie, companheiro de bebedeiras e de incursões às drogas, entre outras aventuras. Já era um dos auges das disputas de poder entre os líderes dos Stones. Foi a melhor escolha.

Wood como guitarrista solo inicialmente tornou-se o escudeiro ideal para que Richards mantivesse a solidez rítmica da banda. Sem arroubos egomaníacos e nenhuma petulância, o guitarrista narigudo mostrou-se confiável e eloquente, mas sem disputar espaço que jamais seria seu, como, de certa forma, os antecessores Brian Jones e Mick Taylor tentaram.

A amizade falou mais alto, mas o entrosamento musical e uma certa subserviência também contaram, e muito, para a sobrevivência e a longevidade de Wood dentro dos Rolling Stones. 

São 47 anos bem-sucedidos ao lado da maior banda de rock do mundo. Foi muito mais do que Ronnie poderia esperar. No entanto, fez por merecer e deu uma aula de tenacidade e jogo de cintura. Os Stones acertaram em cheio e Wood, aos 75 anos, só tem a comemorar.

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