terça-feira, 28 de junho de 2022

A melhor gravação de um show de The Who finalmente está disponível

Demorou 50 anos, mas finalmente aquele que possivelmente é o melhor show da banda inglesa The Who gravado chegou aos fãs e amantes de rock em geral. Inexplicavelmente, o grupo nunca se interessou em editar e lançar algum show da turnê norte-americana de 1971, de sua fase mais pesada e incluindo as canções do seu então melhor disco, "Who's Next".

O selo europeu Eat to the Beat, especializado em colocar no mercado CDs e álbuns triplos da série "Transmisson Impossible - Classic Broadcast  Recordings", recuperou uma obscura transmissão de rádio realizada na Califórnia e disponibilizou o áudio perfeito da apresentação de San Francisco daquele ano. O CD triplo foi relançado em junho.

The Who se recuperava de uma temporada estressante, emendando shows pela Europa no final de 1970 e a gravação da ópera-rock "Lifehouse", que sucederia o megassucesso de outra ópera-rock, "Tommy".

O compositor principal, o guitarrista e vocalista Pete Townshend, empacou em dado momento na história e não conseguia fazer com que os companheiros entenderem a história e o conceito de um mundo distópico fascista onde a música seria banida. 

A revolução seria iminente por meio de jovens que mergulhariam na música agressiva e disruptiva, a ser executada por uma banda revolucionária, The Who.

Considerado um argumento muito ambicioso, acabou travando quando Townshend não conseguiu termina a história a contento. Teve uma crise nervosa, foi parar no hospital e praticamente abandonou a história em abril de 1971.

O que já tinha sido gravado foi reunindo em "Who's Next", quase um catadão. Só que o material era genial e se tornou u melhor disco da banda e um dos melhores de todos os tempos no rock.

Aparentemente recuperado, Townshend quis testar o material ao vivo e a banda realizou uma esp´[ecie de ensaio aberto no dia 26 de abril daquele ano no Young Vic Theatre, em Londres, para cerca de mil convidados e amigos. 

O resultado, surpreendentemente, soou muito pesado e agressivo, embora não tenha agradado ao guitarrista por inteiro. No entanto, já indicava o caminho que banda enveredaria na turnê norte-americana.

E assim foi. Divulgando "Who's Next", a banda estava mais hard rock do que nunca, soando como um estrondo no palco, com os instrumentos no máximo volume, assim como os amplificadores. Naquele período, muitos garantem que  banda fez os seus mais importantes e melhores shows. Townshend nunca concordou.

A curiosidade é que nunca existiu um disco "pirata" ao vivo com qualidade mínima que registrasse algum show da época. 

O mais famoso bootleg da turnê, "Gutter Punks at Warehouse", tem qualidade de som bastante precária e foi gravado no Warehouse Tchoupitoulas St., em Nova Orleans, Louisiana, no dia 29 de novembro de 1971. O áudio não faz jus à fama que banda demonstrava, de estar fazendo os seus melhores shows.

Existe um outro bootleg, desta vez gravado em San Francisco, conhecido apenas como "San Francisco '71", muito procurado e disputado nos anos 90 e 2000, mas que traz áudio com qualidade ainda pior, quase inaudível.

Foi esse o show recuperado, finalmente, pelo selo Eat to the Beat, para a nossa sorte. Possivelmente é o melhor registro ao vivo do grupo, captado por meio de transmissão pelo rádio. É a apresentação de 13 de dezembro de 1971 em San Francisco, no Estados Unidos.

Três músicas, com o devido tratamento de áudio, apareceram em coletâneas nos anos 80 - "Rarities 1966-1972", "Who's Missing" e "Two's Missing". 

O maior destaque é "Baby Don't You Do It", clássico da soul music que ganhou uma versão hard rock, muito pesada, do Who, canção originalmente gravada por Marvin Gaye em, 1964 e que ganhou vez nas vozes de muita gente. Keith Moon (bateria) e John Entwistle (baixo) dão uma aula de condução rítmica pesada e transformam o que era um rhythm and blues em um hard rock poderoso.

"Bargain", do disco "Whos's Next", ganha novos arranjos, ficou mais enxuta e direta, sem, os teclados, e cresce em uma interpretação tensa e nervosa. "Goin' Down", de Don Nix, não aprece neste show.

O restante do show é uma explosão de energia, em volume altíssimo, virando do avesso canções  como "Naked Eye", "Magic Bus" e "Pinball Wizard", além de realçar o caráter dramático e pesado de hinos como "Baba O'Riley" e "Won't Get Fooled Again".

The Who toca com raiva, com a intenção de chocar, talvez como forma de soltar o que estava entalado desde as gravações do disco "Who's Next". Em "My Wife", de John Entwistle, Pete Townshend ataca a guitarra sem dó, tirando guinchos nos solos, sendo seguido pelo baixista, que extrai estrondos violentos do instrumento ultradistorcido. A gravação é um momento muito esperado por parcela expressiva dos aficionados por por rock e gravações piratas.

O show está no primeiro CD da versão do Eat to the Beat para The Who. O segundo CD traz na íntegra a apresentação do festival de Woodstock, em agosto de 1969, também nos Estados Unidos, mas aproveitando totalmente a gravação que o próprio Who liberou em 2019 por ocasião da celebração dos 50 anos do evento.

O terceiro CD, no entanto uma compilação de apresentações ao vivo entre 1965 e 1970 na Inglaterra transmitidos por emissoras de rádio oficiais e piratas. parte desse material já era conhecido por conta de lançamentos piratas diversos, mas outra parte nunca tinha sido editada em CD ou álbum. É um achado para os fanáticos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário