quarta-feira, 1 de junho de 2022

'Close to the Edge', o ápice do rock progressivo e do Yes, completa 50 anos

 O momento mais sublime de uma banda de rock foi, ao mesmo tempo, o mais angustiante para um de seus membros, que não via a hora de cai fora ao final das gravações. "Reconheço que o resultado final ficou muito bom, mas o ambiente estava insuportável. parecia que o tempo não existia. Fazia-se uma assembleia para decidir se tal passagem seriam, em si ou em lá. A música não é isso para mim."

O baterista Bill Bruford nunca escondeu o alivio ao sair do Yes em 1972, não muito tempo depois do lançamento de "Close to the Edge", o quinto álbum do quinteto inglês e considerado uma das obras-primas do rock progressivo. 

"É um clássico e ótimo disco, mas foi uma tortura gravá-lo", declarou o baterista à revista Modern Drummer por volta de 2005. Naquele mesmo ano ele se bandearia para o King Crimson e seria substituído por Alan White, que morreu em maio passado, aos 72 anos de idade.

Faz 50 anos que o disco foi lançado, e ainda continua polêmico. Com as divergências profundas entre integrantes ex-integrantes da banda, duas formações anunciaram nesta semana que farão turnês longas tocando na íntegra "Close to the Edge", em comemoração à data importante.

O Yes atual, com somente o guitarrista Steve Howe da formação clássica, anunciou a sua turnê uma semana antes da morte de White com o nome de seu então substituto temporário, Jay Schellen, antigo de Howe.

Já Jon Anderson, fora da banda desde 2008, também vai sair em turnê com sua banda solo tocando o disco todo. Será acompanhado pela com a Paul Green Rock Academy, retomando a tradição iniciada em 2005, quando Jon excursionou com as estrelas originais da School of Rock de Paul Green.

Imaginava-se que Trevor Rabin (guitarra) e Rick Wakeman (teclados), que faziam pate do Yes Featuring Anderon, Rambin and Wakeman (dissidência atual da banda surgida em 2017), participassem da iniciativa, mas os dois estão em silêncio.

Não para cravar que será uma disputa saudável em torno do legado de um disco tão maravilhoso. Serão iniciativas saudosistas diferentes, com diferentes propósitos, já que Anderson tocará ao lado de crianças e jovens que são netos dos ouvintes "originais" e, certamente, terão um olhar muito diferente às músicas, por mais que as amem.

Como será ver Jon Anderson tocando e cantando "And You and I" ao lado de garoto de 16 anos fazendo o solo maravilhoso de Steve Howe sobre a cama de efeitos de Rick Wakeman? Ouvi-la sem os dois será uma heresia para a maioria dos amantes de rock progressivo.

"And You and I" é o destaque do álbum, uma suíte de ambiente folk em que tudo se encaixa perfeitamente, ainda que as guitarras e violões sugiram um caminho e a seção rítmica, outro. São nove minutos de pura genialidade e delicadeza como um todo, em que os vocais sutis de Anderson dão o tom e a linha.

A faixa-título, com a abundância de arranjos de teclados, é mais ambiciosa, a ponto de ser considerada o maior exemplo de rock progressivo, com sua ambição artística e erudita no auge., reeditando o que já vinha ocorrendo no disco anterior, "Fragile".

São 19 minutos de pura magia, uma grande suíte dividia em partes emulando uma ópera, mas diferindo que se fazia na época em termos de ópera-rock. A ideia era mesmo seguir a estrutura de uma ópera, com árias e crescendos, mirando o que o alemão Richard Wagner (1813-1883) e o italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) faziam.

O uso da polirritmia no começo da canção (uso simultâneo de duas ou mais estruturas rítmicas diferentes, que não são prontamente percebido como derivando uma da outra, na constituição de uma peça musical) dá um charme a mais à peça musiucal, demonstrando que os músicos do Yes sabiam o qu eestavam fazendo.

"Close to the Edge"!, a música, é um mosaico de sensações que contagiou (e contaminou) artistas do rock tão diferentes como Emerson, lake & Palmer, Iron Maiden, Helloween e Rush. embora o Deep Purple já tenha passeado pelo ambiente em "Concert For Groupe and Orchestra", de 969 - no entanto, era uma obra erudita concebida para ser executada por orquestra com a participação de um grupo de rock.

Para os progressivos, estava provado, definitivamente, que o rock era arte arte, e das mais relevantes e admiradas, por mis que as críticas à autoindulgência do Yes fossem pesadas. O rock diferente do quinteto inglês e outros da mesa estirpe - Genesis, King Crimson, Jethro Tull, Triumvirat, Camel, Caravan - incomodava os puristas, que ainda clamavam pela simplicidade vulcânica do rock, e os modernistas, que enxergavam nada mais do que pretensão no mergulho em direção ao erudito. Riam do fato de Jon Lord, Keith Emerson e Rick Wakeman serem considerados (e se considerarem) maestros - o ue fato eram.

"Siberian Khatru", a terceira faixa que encerrava o LP, era uma concessão ao que tinha feito nos quatro discos anteriores. Com a predominância de guitarras e teclados, era mais pesada e intensa, com um show de feeling e técnica do baterista Bill Bruford e ataques certeiros do baixo de Chris Squire, que fazem uma cama estupenda para as viagens de Steve Howe na guitarra.

É um álbum que é fascinante ser ouvido de todas as formas, mas principalmente em concentração total, absorvendo cada nota e cada arranjo executados e produzidos com maestria. 

Claro que é uma música de outra era - só o Dream Theater se arrisca a fazer algo levemente parecido -, mas de forma alguma datada. É o símbolo de uma era em que os gigantes pisavam sobre a Terra - e faziam o mundo tremer com sua genialidade.



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