segunda-feira, 13 de junho de 2022

Metal brasileiro tipo exportação: The Damnnation e Troops of Doom demolem o planeta

Enquanto o Krisiun prepara aquele que pode ser o seu melhor trabalho de estúdio, duas bandas brasileiras despontam no cenário interacional fazendo a melhor música extrema possível. Se 2021 foi o ano de Crypta e Nervosa, com lançamentos excelentes, 2022 será a vez de The Damnnation e Troops of  Doom.

"Way of Perdition" é a estreia do trio The Damnnation, estabelecido em São Paulo. Criado pela guitarrista Renata Petrelli (ex-Sinaya), que teve de se tornar também vocalista, o grupo foi abalroado pela pandemia de covid-19, o que só aumentou a responsabilidade das meninas.

O que eram esboços de músicas que misturavam death e thrash metal se transformaram em massacrantes canções que explodem os ouvidos e demolem quaisquer expectativas de alguma "sutileza". É muita raiva e fúria nos corações endurecidos de Renata, Luana Diniz (bateria) e Aline Duchi (baixo e backing vocals).

O EP intitulado "Parasite", lançado pelo selo Xaninho Discos. chegou em novembro do ano passado como um aperitivo do que viria em 2022 - e foi necessário para domar a ansiedade das garotas para estrear de verdade. 

São quatro músicas quase punks em termos de atitude - a produção é simples e crua, típica da urgência de quem sabe que não pode perder mais tempo or conta da pandemia que paralisou tudo. 

O trabalho trouxe uma sonoridade nova e extremamente pesada, um estilo diferente dentro do metal extremo. O disco é tão bom e intenso que chamou a atenção de uma gravadora holandesa, a SoulSeller Records, que prontamente aceitou a sugestão de deixar "Way of Perdition" nas mãos dos produtores  Rogério Oliveira (trabalhou em "Parasite") e o espanhol Martin Furia (Nervosa, Eskröta e BARK).

O repertório das meninas é vasto, como é possível perceber logo na abertura do CD "Way of Perdition". "Before the Drowning" começa com um dedilhado instigante de guitarra para engatar um heavy tradicional logo em seguida, que vai crescendo e sufocando lentamente. É uma cacetada.

Elas não aliviam com a faixa-título, que vem em seguida e eleva ainda mais o clima de destruição. Aqui o death metal entra com tudo, com um surpreendente trabalho uma vida guitarrista Renata Petrelli. Área nova para ela, demonstra recursos técnicos e uma visceralidade que a coloca como destaque no estilo.

"Into the Sun" é menos rebuscada e mais direta, com bons riffs e poucos solos de guitarra. Aqui há alguma similaridade com a banda paulistana Torture Squad e com a antiga Nervosa como um trio - referências das melhores possíveis.

Uma característica interessante do trio The Damnnation é que o som é violento e agressivo, mas sobre uma base de heavy metal tradicional, como na própria "Into the Sun" e em "Grief of Death", que também é violentíssima, mas com riffs diferentes e surpreendentes. "This Pain Won't Last" já apresenta uma sonoridade mais moderna, com timbres de guitarra e riffs típicos do metal germânico.

"Procuramos manter uma variedade de influências para deixar tudo mais orgânico e moderno", diz Renata. "O resultado nos agradou porque era o som que tínhamos na cabeça e que flupiram bem nos ensaios."

A baixista Aline Duchi completou: "Tudo se encaixou bem, a música explodiu e conseguimos colocar nosso sentimento de uma forma visceral, eu diria. É um álbum técnico, difícil, mas bem agressivo."

Um exemplo disso é a ótima "Slaves of Society", que oferece riffs agressivos e claustrofóbicos, típicos do death metal que incomoda e estremece. Lembra bastante o Slayer, assim como a terrível e assustadora "Random Words", que diz muito sobre a visão de mundo das meninas. "Way of Perdition" é uma obra que vai incomodar, e muito, cumprindo muito bem a sua missão.

A banda Troops of Doom, baseada em Belo Horizonte (MG), já nasceu clássica, com espírito de supergrupo. Jairo Guedz é o guitarrista que será para sempre lembrado como integrante da formação inicial do Sepultura, apesar de também ter tocado com The Mist.

É dele o conceito inicial de equilibrar tradição e modernidade que dominou as faixas dos dois primeiros EPs. Fiel ao conceito de "nascer grande", esses trabalhos deram a letra do que viria: devastação sonora extraordinária, trabalho exímio de guitarras e um baixo estrondoso.

O som poderoso e grandioso. aliado a uma timbragem pouco usual e "saliente", que coloca o som na "cara", faz com que o ouvinte sinta um gostinho do inferno - em todos os sentidos.

"Antichrist Reborn", que sucede os EPs "The Rise of Heresy" (2020) e "The Absence of Light" (2021), foi mixado pelo produtor sueco Peter Tägtgren (Hypocrisy, Pain, Dark Funeral, Dimmu Borgir, Therion, Amon Amarth, Immortal, Enslaved e outras) no icônico The Abyss Studio e masterizado por Jonas Kjellgren no Blacklounge Studio, na Suécia. 

"A produção de Peter Tägtgren ficou animalesca, mantendo aquela sujeira dos discos velhos de death metal – minimalista e sem frescura ou aquele polimento das produções mais modernas, mas ainda trazendo um peso e uma qualidade fantástica. Era exatamente o que a gente precisava!", avalia o guitarrista Marcelo Vasco.

O álbum conta com participações especiais de João Gordo (Ratos de Porão) no single/vídeo "A Queda", única cantada em português, além de Alex Camargo e Moyses Kolesne, do Krisiun, na versão de "Necromancer", clássico do Sepultura da fase com Jairo "Tormentor" Guedz. 

"Ter o João Gordo participando de 'A Queda', uma das minha músicas preferidas do álbum, foi muito especial. Somos amigos há mais de 30 anos e o fato de a música ser em português, com um estilo puxado para o hardcore, foi a fórmula perfeita para a participação dele", destaca o baixista e vocalista Alex Kafer. "

Ter Alex e Moyses, do Krisiun, foi outra fórmula que deu muito certo. Além da amizade de anos e admiração, o estilo da música se encaixou perfeitamente com as características musicais deles. 'Necromancer' é um clássico do Sepultura 'old school' e não poderíamos encontrar melhores amigos para regravá-la", acrescenta o vocalista e baixista.

O baterista Alexandre Oliveira exalta a parceria com a gravadora Alma Mater Records: "Estamos muito animados por termos assinado com a Alma Mater Records para as edições em CD, vinil e cassete. A gravadora tem como sócio nosso amigo e entusiasta da cena musical brasileira, Fernando Ribeiro, do Moonspell, ao lado de Pedro Videirinho, da Rastilho Records, que se comprometeram a trabalhar com o The Troops of Doom com força total. São pessoas muito legais e estão nos dando um suporte excepcional."

Não tinha como dar errado. Troops of Doom saiu diretamente das trevas para devastar. "A Queda" é excelente, soando como os Ratos de Porão soariam se fossem, uma banda de metal extremo. É uma pancadaria tão violenta que assusta.

"Necromancer", do Sepultura, soa ainda ainda mais destruidora com a participação dos integrantes do Krisiun. é um verdadeiro tributo ao metal nacional em todas as suas vertentes e se consolida como um verdadeiro símbolo da música pesada feita por aqui.

É uma saraivada de canções apocalípticas uma melhor do que a outra. "Dethroned Messiah" abre o disco com uma fúria desconcertante, indicando que o pesadelo está começando e que possivelmente alguns nem acordarão dele. É muito pesada, com guitarras lancinantes e riffs perfeitos.

"Altar of Desilusion" e "The Rebellion" seguem pelo mesmo caminho, equilibrando frases violentas e riffs estonteantes, com uma bateria insana de tão veloz,

Há um pouco de cadência em "Preacher's Paradox", mas o peso das guitarras é demolidor, assim como em "Pray into the Abyss" e "Grief", com duelos de guitarra estupendos e uma parede de ritmo que tem uma solidez inacreditável. 

Fazia tempo que não se via um trabalho extremo e muito pesado que tivesse tamanho impacto por sua qualidade, algo que o Korzus tinha conseguido em "Discipline of Hate" lá em, 2010. Banda maravilhosa cometendo um álbum extraordinário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário