"Rock? Só com edital e, mesmo assim, tem ser um projeto muito bom e ter um apoio 'excepcional'."
Foi dessa forma que um vocalista e líder de uma banda brasileira de hard rock do interior paulista foi recebido por um subsecretário de cultura de uma cidade com mais de 80 mil habitantes no mesmo Estado. fazia uma semana que uma semana que um show para 30 mil pessoas na cidade tinha sido bancado pela prefeitura como evento final de uma feira agropecuária.
O dinheiro foi empregado para pagar duas duplas sertanejas de razoável prestígio, e nunca se soube da necessidade de "edital" para contratar os quatro artistas e suas bandas.
Não é só preconceito musical contra o rock. "Também é preconceito, dos grandes. Mas a questão fundamental é que qualquer coisa ligada ao rock não movimenta tanta grana, diminuindo a possibilidade de pensar em qualquer 'esquema' diferente. O sertanejo movimenta e atrai dinheiro, fazendo com que o os 'lobbies' sejam mais presentes, se é que você entende", diz um empresário que já trabalhou sm shows em São |Paulo e Minas Gerais, que preferiu não se identificar.
Não dá para cravar ue todos os shows sertanejos no interior do Brasil envolvam necessariamente "esquemas", em alusão à corrupção, mas todos os exemplos que estão pipocando na imprensa envolvendo cantores sertanejos e prefeituras de cidades pequenas com |"pouca capacidade de investimento" estão causando polêmica e suscitando pedidos de investigações.
São os mesmos seres desperezíveis que vomitam contra a Lei Rouanet e que se refestelam com dinheiro público que deveria ser aplicado em educação, saúde e infraestrutura.
Enquanto isso, uma banda de hard rock sem prestigio precisa elaborar um projeto minucioso para "concorrer" a uma verba pública, em edital, a R$ 30 mil para conseguir bancar o estúdio de gravação e a produção de um CD. Tem que torcer para não encontrar um "julgador" ignorante e ter alguma perspectiva de liberação de verna. Lei Rouanet?
O vocalista também pede anonimato por que sabe que o mercado é ingrato. Fez quatro projetos se candidatando a verbas de prefeituras no Estado de São Paulo e nunca foi contemplado. "Se eu aparecer denunciando e reclamando, os projetos a artir de então vão para a lata do lixo."
É dinheiro baixo para aspirações tão altas. Gravar um CD com um mínimo de qualidade de estúdio e um produtor sem renome custava R$ 20 mil antes da pandemia no interior de São Paulo.
Um produtor mais renomado, geralmente um músico de banda importante de São Paulo, faz a conta subir pelo menos R$ 10 mil. Se houver algum dinheiro, é investido em shows aqui e ali. Não ica barato: cerca de R$ 40 mil, por baixo.
Dependendo da administração municipal e da cidade, há mais boa vontade com projetos ligados ao rock, nem sempre musicais. "Em uma cidade pda região Sul-Sudoeste do Estado, meu projeto foi preterido e o dinheiro foi para festivais de dança que nunc ocorreram, mostras de artes plásticas toscas, saraus de poesia que beiravam o absurdo, entre outras coisas. Era projetos muito malfeitos, mas que que receberam os editais. Parecia coisa de cartas marcadas e pouco caso com o rock, ou então era pouco caso mesmo, corrupção pura e simples. Só que não dá para provar", reclama resignado o vocalista.
É muito raro encontrar um festival de rock no interior de São Paulo que receba alguma verba pública para sua organização. Quando ocorre, é via edital. Nas cidades do ABC, na Grande São Paulo, o dinheiro para festivais underground só sai via edital.
Shows comemorativos de aniversário de cidades? O rock só aparece via edital para bandas menores. Os nomes grandes rock nacional, tipo nos 80, às vezes contam com verba para cachês ao estilo "destinação certa", como ocorre com quase todos os sertanejos. Só que, muito experientes, as bandas mais antigas se previnem. Tomam precauções para evitara s furadas que cometeram o infeliz boquirroto Gusttavo Lima.
A cidade e Piracicaba é uma das que costumam, com frequência, "premiar" projetos de rock com verba pública destinada, geralmente usada para financiar gravações de CDs e pequenas turnês. de divulgação. Outras cidades da região também são mais abertas ao rock.
Como o financiamento coletivo não é uma ferramenta acessível a todos - nem toda banda de porte médio tem f[as suficientes para um projeto de R$ 40 mil, por exemplo. Memso nomes impoirtantes como Dorsal Atlântica, do metal do Rio de Janeiro, teve que esforçar para atrair esse valor para cada um dos dois últimos CDs que lançou, "Pandemia" e "Canudos".
Os editais acabaram sendo a salvação para muitos artistas de todos os gêneros musicais, ainda que os valores pleiteados e oferecidos sejam irrisórios. Tanto que uma empresa de Sorocaba (SP).a Som do Darma, se especializou em montar projetos para seus clientes para captar dinheiro em editais de cidades paulistas e nos Estados de São Paulo e Paraná.
Enquanto gente indecente se esmera em vomitar contra a Lei Rouanet e se esbaldar em cachês com dinheiro de origem duvidosa, artistas musicais do underground precisam se submeter a uma via crúcis em busca de R$ 5 mil ou R$ 10 mil em editais parcos onde os "analistas" de projetos simplesmente ignoram o rock.
A recente exposição escandalosa dos cachês sertanejos não deve mudar a situação dos músicos alternativos que caçam editais. De vez em quando, com uma assessoria adequada, talvez seja possível furar bloqueios aqui e ali.
Entretanto, as distorções do mercado e os fisiologismos políticos movidos a dinheiro vão continuar ditando as regras d mercado.
P.S.: Os 55 vereadores de São Paulo, capital, conseguem, anualmente, enviar dinheiro do orçamento da prefeitura para projetos educacionais e de cultura por toda a cidade. Houve um tempo em que cada um destinava cerca de R$ 1 milhão por ano. Os projetos envolvendo o rock foram raríssimos nos últimos cinco anos. Mais do que preconceito (que é forte contra o rock), os critérios sempre levam em conta o "potencial eleitoral", seja lá o que isso for. Mesmo os vereadores aficionados do gênero, pelo jeito, não confiam muito no tal "potnbcial eleitoral do rock.
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