quarta-feira, 15 de junho de 2022

Um pedido de socorro na escuridão: como lutar na guerra que todos perderão

Um grito de socorro! Muitos gestos de impotência! E o desespero toma conta de uma sociedade que está paralisada diante do horror, mas também diante de um entorpecimento e de certa indiferença. Afinal de contas, era apenas uma "aventura perigosa em um local sabidamente perigoso" - e abandonado por deus e por um governo criminoso.

Muitos hipócritas vão dizer, em tom de ironia, que "até que demorou para a imprensa ganhar o seu primeiro cadáver no governo do capital fascista". Para essa gente vagabunda, apenas o meu desprezo - por enquanto.

Pois bem, agora temos o nosso cadáver - e os olhares do mundo, transbordando de raiva e indignação. Dom Phillips e Bruno Pereira, jornalista inglês e indigenista brasileiro, colocaram o Brasil no mesmo patamar da Rússia invasora da Ucrânia em termos de repulsa e nojo.

O nefasto Jair Bolsonaro e sua corja de seres execráveis que namoram o fascismo finalmente conseguiram fazer o primeiro cadáver diretamente relacionado às destrutivas e predatórias políticas governamentais de desmonte da civilização.

Foram muito os ataques físicos a jornalistas no Brasil por conta dos fúria bolsonarista ao longo de três anos e meio, alguns passando bem perto de provocar óbitos. Mas a primazia da morte coube a um destacado inglês apaixonado pelo Brasil e pela Amazônia cujo trabalho é exemplar e incomodava demais o mundo autoritário e de trevas que envolver o Brasil e o lixo do bolsonarismo.

Para muita gente, a Amazônia abandonada e as seguidas medidas de desmonte das instituições de proteção ao meio ambiente e de combate ao crime organizado em todas as esferas foi a carta branca para que a imprensa fosse devidamente emparedada e intimidada. O desaparecimento de Phillips e Pereira foi o mais eloquente recado desse estado de coisas.

Ao tomar a imprensa, o conhecimento e a civilização como inimigos de seu projeto de sociedade medieval, o presidente nefasto e delinquente abriu as portas do inferno para que se produzisse cadáveres às pencas, seja por conta da covid-19, negligenciada criminosamente no Brasil, seja por conta dos "agentes" fascistas de intimidação ao melhor estilo das SA, as tropas de assalto do Partido Nazista alemão que implantaram o terror em toda a Alemanha - a ponto de ameaçar a existência do próprio partido. A criatura teve de ser eliminada fisicamente por meio de vários assassinatos de suas lideranças em 1934 por ordem do ditador Adolf Hitler.

Até que demorou para termos o primeiro cadáver na imprensa n governo Bolsonaro? Até quando pagaremos para ver e identificar os limites do fascismo verde-e-amarelo, acima de tudo e acima de deus, ao que parece?

O Brasil foi criminosamente aparelhado e esse é o panorama desalentador para as eleições de 2022. Em meio ao desespero, mais desespero e mais desalento, como magistralmente registrou a jornalista e escritora Eliane Brum nesta semana, em trechos que reproduzimos abaixo - e-mail enviado a vários jornalistas amigos dela, entre eles o mestre da reportagem Ricardo Kotscho, que tem blog no portal UOL:

Nesta segunda-feira (13), acordei de um sono rarefeito com a notícia de que os corpos tinham sido encontrados amarrados a uma árvore. Desde a descoberta da mochila, roupas, botas, restos materiais de uma vida, de gestos interrompidos, de desejos, um frio se instalou dentro de mim, de dentro para fora, e passei a noite tremendo. 

Para este frio não há cobertor. Para este frio nunca haverá cobertor. Algum tempo mais tarde, a notícia foi desmentida. Os objetos pertenciam a eles, mas ainda não haveria corpos. No momento em que escrevo, não sabemos se os corpos foram ou não encontrados. É mais uma obscenidade do atual contexto do Brasil.

Meu maior temor desde a semana passada era que os corpos não fossem encontrados, porque acompanho a dor dilacerante de familiares de desaparecidos políticos da ditadura empresarial-militar que Jair Bolsonaro tanto exalta. Não ter um corpo para chorar é a tortura que jamais acaba, é o luto que não pode se completar e, portanto, jamais será superado.

 Ainda assim, descobri nesta manhã de segunda, havia algo dentro de mim esperando por um milagre, porque quebrei. Levei algumas horas para reunir minha raiva e me colocar em pé para escrever este texto.

E aí quebrei de novo pelo horror de não saber qual é a informação verdadeira. Dom e Bruno possivelmente estão mortos. São as mais recentes vítimas da guerra liderada por Bolsonaro contra a floresta, seus povos e todos aqueles que lutam em defesa da Amazônia. Este é o ponto.


É desesperador ficar gritando que estamos em guerra e não sermos entendidos. Porque entender não é concordar, retuitar ou dar likes, é algo mais duro: é agir como pessoas que vivem uma guerra. Se no Brasil e no mundo as pessoas não compreenderem isso desta vez, as vidas de quem está no chão da floresta, com os corpos na linha de frente, valerão ainda menos do que valem agora. 

E quando as lideranças dos povos-floresta, os ambientalistas, defensores e jornalistas da linha de frente estiverem mortos, a floresta também estará. Sem a floresta, o futuro será hostil para as crianças que já nasceram. Filhos, sobrinhos, netos, irmãos de quem está lendo este texto. Sua gente. Vocês.

O que quero dizer é que esse movimento imenso, forte e potente que será feito por Dom e Bruno, do qual fiz parte desde literalmente o primeiro minuto, precisa agora se ativar por todos."

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