Duas máximas a respeito do rock são bastante propaladas dentro da música, mas que quase ninguém nunca comprovou na prática: rock/ meta é um estilo de vida e é possível viver disso dentro de um contexto onde existe respeito e tolerância. Mas será que um lugar como esse existe, sendo que nem mesmo nos Estados Unidos isso foi uma verdade absoluta?
"Heavy Metal Civilization", um documentário de autoria das jornalistas Cristina Ornellas e Maila-Kaarina Rantanen tentam responder a essa questão e a provar que, se esse lugar não existe de forma perfeita, a Finlândia, no norte da Europa, é o local em que se chegou mais perto disso.
Qual é o seu envolvimento com o heavy metal e o rock?
A música sempre foi o meu motor. Desde que me entendo por gente, me lembro de ter essas preferências musicais de forma espontânea. No decorrer da vida, trabalhar com isso aconteceu naturalmente. O documentário veio como parte de uma materialização desse amor pelo heavy metal.
Desde quando você está morando na Finlândia?
Há nove amos!
Como surgiu a ideia do documentário?
Em algum momento, por volta de 2016, me lembro de conversar com a Maila (Maila Karina Rantanen, codiretora) sobre a vontade de elaborar algo assim. A vontade era criar algo visual, que primeiro foi um canal no YouTube, hoje regido por mim apenas, mas que depois evoluiu para a ideia de um produto único, o documentário.
Hoje há apenas duas rádios rock em São Paulo, praticamente dedicadas ao clássico rock. O gênero no Brasil virou underground, com a diminuição dos locais para rock autoral ao vivo (até por conta da pandemia). Exatamente o contrário da Finlândia, onde há um espaço grande para a música pesada. Como é o cenário aí para bandas pequenas ou iniciantes?
Posso te dizer com certeza que essa queda também aconteceu aqui, inclusive é um assunto falado por vários artistas do gênero durante o documentário. Estamos num momento de maré baixa, pouco impulso, se comparado há 20 anos. As bandas novas têm um certo espaço, concursos internacionais como Eurovision têm tido muita abertura para rock e heavy. A audiência local ainda frequenta pequenos bares e vai aos shows. Mas, de forma menos intensa e efervescente, se comparado ao boom do metal finlandês entre 1995 e 2005. Atualmente temos em torno de quatro estações de rádio com esse foco. Ou seja? Podia estar bem melhor, mas podia ser pior também. A concorrência aqui e alta, e para se destacar tem que ser bom músico!
O rock deixou de atrair os jovens no Brasil e nos Estados Unidos, já não "fala" mais língua deles, perdendo espaço para rap, hip hop, sertanejo e funk carioca. Os jovens finlandeses ainda se interessam por rock em nível maciço?
Acredito que não mais, o baterista Gas Lipstick fala sobre isso, o rock deixou de ser rebelde há muito tempo, e na Finlândia também. E eu concordo totalmente com o pensamento: se é algo que seus pais gostam… logo ficou sem graça! E isso, misturado ao politicamente correto, tornou o rock sem sal! Não se pode fazer ou falar mais nada. Tem coisa menos atraente do que uma banda de rock e metal que não se expõe? Não se rebela? As bandas estão castradas! Sem paixão não tem adolescente que queira se associar aquilo!
Você tem algum trabalho concluído ou em andamento que envolva rock ou outro gênero musical?
Sim! Além de ter trabalhado como assistente do Kiko Loureiro (guitarrista do Megadeth, ex-Angra) nos últimos anos, estou lançando novos quadros neste mês no YuTube, no canal "Live After Midnight". Dus vezes por semana - terças e sextas - terei vídeos sobre "true crme", casos policiais envolvendo sempre artistas do meio do rock e metal! Chama-se "True Crime & Heavy Metal", nas terças. Às sextas-feiras serão vídeos lembrando o legado de ícones que já se foram, "Life and Death of..", sempre falando de alguém que foi marcante pra história do metal, mas que já partiu. Além desses quadros fixos, continuarei com as entrevistas com músicos relevantes do gênero, e cobertura de shows também.
Como é o consumo de música (rock) na Finlândia? As vendas de produtos físicos ainda têm relevância? Como a música ficou praticamente de graça e muito acessível, em grande parte do planeta a música ficou meio descartável, perdendo valor agregado e ficando "desimportante" para o usuário, que não valoriza mais o artista como antes.
Isso é algo interessante. O artista hoje não faz mais dinheiro vendendo música, ele vende a si mesmo! Nada NUNCA vai substituir a experiência ao vivo! Então, nesse ponto, o produto físico é o artista que performa bem ao vivo, em carne e osso. As vendas de merchandise existem, aqui todo show aqui tem a banca do artista, seja grande ou pequeno, a galera sempre valoriza! Usam mesmo! Não passo um dia sem ver alguém na rua aqui com camisa de banda! E ninguém te julga como esquisito! O pessoal curte muito! É algo que se manteve de certa forma mesmo com a queda do mercado!
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