sexta-feira, 24 de junho de 2022

'Meantime', o grande álbum do Helmet, faz 30 anos

Flavio Leonel - do site Roque Reverso

O álbum “Meantime”, do Helmet, completou 30 anos de existência nesta quinta-feira, 23 de junho de 2022. Decisivo para tirar o grupo norte-americano do cenário alternativo e apresentar a banda de Nova York para um público mais amplo do rock, o segundo disco da carreira do Helmet é o mais importante da história do grupo, tanto comercialmente como musicalmente.

Com um som moderno para a época dentro do rock pesado, “Meantime” também é reconhecido por ter influenciado uma série de bandas a partir dos Anos 1990.

O disco de 1992 é marcado por um som de afinação grave das guitarras, batidas de bateria secas, mas com técnica elogiável, baixo marcante, além de vocal limpo para os padrões do heavy metal e do hardcore na maioria das músicas.



Boa parte do motivo de o Helmet ter rompido a barreira do underground do rock e ter chegado aos ouvidos de um público mais amplo vem do clipe da música “Unsung”, exibido à exaustão na MTV, em tempos pré-internet e nos quais o canal tinha um poder de alcance gigantesco no mundo todo.

No Brasil, especificamente, a MTV local tinha sido inaugurada há pouquíssimo tempo e era uma mania dos jovens que gostavam de música, especialmente de rock.

O clipe de “Unsung” era exibido tanto nos programas alternativos da emissora, como o Fúria Metal e o Lado B, como nos de apelo mais comercial. A própria emissora vendia o Helmet em chamadas durante a sua programação como um representante do “novo metal”.

O som do grupo, por sinal, era meio que inclassificável, pois continha elementos do metal, mas também do hardcore e música experimental.

Chamava a atenção o visual da banda: quatro caras de cabelo curto, camiseta e bermudas sem estampas de bandas e nada que lembrasse o visual dos grupos de heavy metal da época.

A despeito de um visual considerado meio “mauricinho” pelos fãs mais radicais do heavy metal, o Helmet surpreendia a todos pelo peso de seu som.

Interessante lembrar que, enquanto “Unsung” fazia o Helmet despontar comercialmente, o clipe de “In the Meantime”, a primeira faixa do disco, aparecia frequentemente no programa alternativo Lado B da MTV.

Enquanto “Unsung” era a música perfeita para tocar na programação normal da emissora e das rádios, “In the Meantime” trazia um Helmet mais visceral e perfeito para manter os fãs do underground que já haviam visto a banda fazer em 1990 um bom álbum de estreia, o “Strap It On”.

Por sinal, quem escuta “Strap It On” e depois “Meantime”, nota perfeitamente evoluções do Helmet tanto no som como na produção dos discos. Enquanto o lado visceral e o riffs com base de repetição eram dominantes no álbum de estreia, o segundo disco traz um som mais encorpado e uma produção que traz uma nitidez fundamental para o grupo estourar comercialmente.

Outro clipe que ganhou as telas da MTV foi o da faixa “Give It”, mais lenta que os singles anteriores, mas com elementos interessantes que mostram a qualidade da banda.

Mas engana-se, e muito, quem acredita que essas três faixas são musicalmente os destaques do disco. São justamente as demais faixas que mostram a importância do “Meantime”, um disco que merece ser ouvido de ponta a ponta, da primeira até a décima e última canção.

“Ironhead”, “Turned Out”, “He Feels Bad” e “Better” são verdadeiras jóias que precisam ser apreciadas por quem gosta de um rock pesado e de qualidade.

“Ironhead” traz numa primeira metade um riff que já ganha o ouvinte logo de cara e, na segunda parte, uma aceleração caótica que mostra que o Helmet não é uma banda qualquer.

“Turned Out” vem ainda mais pesada que as quatro faixas que iniciam o disco (“In the Meantime”, “Ironhead”, “Give It” e “Unsung”) e confirma a qualidade do grupo.

As guitarras do vocalista e líder Page Hamilton e de Peter Mengede trazem um peso que encanta o fã de heavy metal, hardcore, punk rock e crossover. O baixo de Henry Bogdan e a bateria de John Stanier completam a sonoridade irresistível de uma banda que chutava as portas do rock, em busca de espaço para brilhar.

E, se, em “Unsung”, os vocais limpos de Page Hamilton são importantes para vender o grupo comercialmente, é em “Turned Out” que o líder do Helmet se transforma numa fera raivosa das mais agradáveis para a legião dos fãs do rock pesado.

Após a pedrada de “Turned Out”, o Helmet vem mais lento e denso em “He Feels Bad” e mostra variações incríveis ao longo da faixa.

Na sequência, “Better” traz o som do disco mais parecido com o do álbum de estreia, mas com uma clara evolução de produção e qualidade, novamente com Page Hamilton dando um verdadeiro show de interpretação. Tente escutar essa faixa sem balançar a cabeça.

Eis que “You Borrowed” dá continuidade ao álbum, numa velocidade surpreendente menor, mas que dá lugar a uma melodia envolvente que mostra mais uma vez o Helmet como um grupo que não seria como vários outros que surgiram e acabaram precocemente.

As duas últimas do disco, “FBLA ll” e “Role Model” podem até não ter o mesmo brilho das anteriores, mas estão longe de qualquer análise negativa. Nas duas faixas, o Helmet traz experimentos interessantes e capazes de mostrar sua qualidade e o entrosamento de um grande grupo.

O álbum “Meantime” recebeu uma série de críticas positivas da imprensa especializada da época. Entrou em listas dos grandes discos dos Anos 90 e marcou uma geração de fãs do rock pesado.

Mais do que isso, foi fundamental para apresentar o Helmet ao mundo e cravar o nome da banda na história do rock.

O público brasileiro, por sinal, foi presenteado com um excelente show que o grupo realizou em 1994, em São Paulo, no saudoso Olympia. Na ocasião, o Helmet deu uma verdadeira aula de rock na clássica casa de shows paulistana na sua primeira vinda ao País.

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