sexta-feira, 24 de junho de 2022

Jazz, blues e afins: a sutileza e a densidade de Stefano Moliner e Charles Soulz

Em pleno desenvolvimento de mais uma edição do In-Edit - Festival Internacional de Documentários Musicais -, onde a ordem é  curtir música para ver e ouvir, alguns artistas estão se especializando muito que podemos dizer que é "música para ouvir e sonhar". O maior expoente é o blueseiro Edu Gomes, de São Paulo, que também compõe canções do espectro new age.

Dois outros estão trilhando esse caminho no jazz e n rock progressivo e cometeram dois álbuns extraordinários: o paulista Stefano Moliner e o carioca Charles Soulz.

Moliner é um respeitadíssimo baixista com atuação na capital paulista e no ABC (Grande São Paulo). Lançou seu segundo disco, "Apotheosis", em que o jazz de vanguarda se mistura com tendências progressivas com resultados ótimos.

Antigo músico de heavy metal em São Paulo, com passagem pela ótima banda Acid Storm nos anos 80 e 90, migrou progressivamente pata o jazz e a MPB clássica, tornando-se referência no Estado. "Comecei com heavy metal, depois fui mudando para o rock progressivo, depois para Milton Nascimento, Jobim até chegar no jazz. Essa alteração foi uma escalada natural, talvez em busca sempre de novas cores”, contou Moliner em entrevista ao site Cuco Station.

"Quando ouvi John Coltrane pela primeira vez senti nele toda a paixão que há no rock, junto à toda profundeza e 'infinitude' que sempre busquei e que sequer sabia ser possível existir, foi amor pleno", concluiu.

"Apotheosis"  é um olhar diferente para diversos sentimentos e sensações. Guarda muita semelhança com os trabalhos do guitarrista Edu Gomes, só que também avança para o lado experimental com extremo bom gosto.

Com o sexteto que o acompanha afiado, passeia por diversas linhas de jazz e estabelece altos padrões de linguagem em linhas de baixo instigantes, como na faixa-título, que curiosamente tem o nome em português, "Apoteose".  Há muitas boas ideias em frases rápidas e pegajosas, mas o tom é de experimentalismo como se fosse uma grande jam session.

Por ser um disco de baixista, o instrumento está proeminente, mas não domina os ambientes. Os espaços são preenchidos por ótimos riffs de guitarra e saxofone, como na delicada "Estrela da Manhã" ou na enigmática "Naturante".

"Anima Mundi" trafega por um lado mais tradicional e progressivo, com algumas frases mais exuberantes e até agressivas para mergulhar no mundo oriental nas ótimas "Pralaya" e "Maitreya Namaskar", com óbvia inspiração na cultura indiana.

Com produção simples, mas eficiente, "Apotheosis" consegue um raro equilíbrio entre a ousadia e o bom gosto, tanto nos timbres como nos ataques e linhas melódicas. Como condutor das ações, o baixo de Moliner soa denso, preenchendo os espaços de forma a não "castrar" a criatividade do sexteto.

Charles Soulz Project é um dos nomes em alta do rock brasileiro desde o ano passado, quando lançou "Split Mind", seu melhor disco até então. O tecladista, compositor, produtor e multi-instrumentista coloca agora no mercado uma versão instrumental do álbum, reforçando a primeira impressão: é um trabalho extremamente bem feito e qualificado.

É metal progressivo na essência, mas como é um disco conceitual os detalhes logo explodem nas caixas de som. Com a participação de mais de 20 músicos, não é exagero dizer que há semelhanças, em termos de estilo, com o projeto alemão Avantasia ou com o brasileiro Souspell.

No trabalho original o personagem principal é Rhode, que perde os pais em incêndio na própria casa. A cada faixa – sete no total –, o ouvinte conhece um pouco mais da personalidade do protagonista e os fatos que estão por trás da tragédia que tirou a vida de seus pais.

"Split Mind", a música que intitula a obra, tem mais de 20 minutos e pode perfeitamente ser associada a grandes momentos do Dream Theater, por exemplo, como a memorável faixa "Metropolis". 

É um trabalho de fôlego, com várias passagens e mudanças de andamento que tiram o fôlego do ouvinte. No instrumental, e um trabalho de tal densidade que surpreende em todos os sentidos. 

Se as participações especiais de vocalistas dão um colorido magnífico na obra original, as versões instrumentais ressaltam o caráter mais dramático da história como se fosse uma trilha sonora de um grande filme. 

Guitarras e teclados duelam de forma inteligente e talentosa, conduzindo as ações e mesclando as partes mais agressivas e as mais cadenciadas, obtendo resultados muito interessantes, principalmente em "Borderline" e "Digital Kingdom".

Com mais de 20 anos de carreira, Soulz tocou por muito tempo na banda Imago Mortis, que teve seu auge no começo dos anos 2000 - ainda é integrante d abanda. Foi parte imprescindível no álbum "LSD" (2018), o melhor da carreira do Imago Mortis.  

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