Luiz Carlini gosta de coisas simples e nada rebuscadas, ao contrário de sua música elegante e imponente. Gosta de ser apresentado apenas como "guitarrista de rock". Da Pompeia. De São Paulo. Do Brasil.
O guitarrista paulista costuma negar, mas se sente confortável dentro do "cargo" de lenda. Aos 70 anos de idade, continua esbanjando categoria e vê uma paulatina redescoberta de sua obra pela repercussão variada de artistas e fãs de rock surpreendidos com seus trabalhos mais recentes.
As suas sete décadas de vida vêm acompanhadas de um documentário sobre a carreira - foi um dos destaques da 14ª edição do In-Edit - Festival Internacional de Documentário Musical - neste mês de junho, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
"Luiz Carlini - Guitarrista de Rock", de Luiz Carlos Lucena, não tem grandes arroubos de criatividade - é uma sequência de depoimentos do músico e de amigos/admiradores em longo panorama de sua vida e seus trabalhos.
Mas é um dos grandes nomes da MPB que resume bem, por mais exagerado que tenha sido, a importância de Carlini para a música brasileira.
"É um parceiro para toa a vida, um cara que é excelente músico e que melhora tudo. É um dos maiores guitarristas vivo, e provavelmente um dos melhores do mundo", decretou Guilherme Arantes, hoje vivendo na Espanha. Não é à toa que integra a banda do tecladista e cantor, quando esta toca no Brasil.
O ótimo "A Desordem dos Templários", o mais recente disco de Arantes, conta com as guitarras frenéticas e encharcadas de sentimento de Carlini, que desliza os dedos por fraseados de inspiração blues em um trabalho que é quase uma peça de rock progressivo de extremo bom gosto.
Das vielas e ladeiras da Pompeia no começo, acompanhando os amigos Sergio Dias (Os Mutantes) e Oswaldo Vecchione (Made in Brazil), entre outros, até a passagem pela banda Tutti Frutti (que serviu de suporte para Rita Lee nos anos 70), Carlini fez história como um estilista, um instrumentista que construiu um nome por conta da excelência na criação de riffs e na explosão sonora nos solos.
Pelas suas contas, participou de mais de 400 discos com cantores e músicos, como Barão Vermelho, Titãs, Radio Taxi, Vanguart, Filipe Catto, Marcelo Nova, Supla, Erasmo Carlos e Lobão, entre outros nomes brasileiros.
O brilhantismo com a guitarra nas mãos também se estende ao estúdio, já que é um celebrado produtor musical, assinando obras importantes do rock e da música brasileira. O ouvido privilegiado já transformou a carreira de tanta gente que é impossível listar.
Certa vez, em conversa informal com este jornalista do Combate Rock, disse se sentir envaidecido quando alguém lhe diz que seu nome é sinônimo de guitarra de rock n Brasil, mas que isso não pode definir a sua carreira e seu eventual legado.
"Tive o privilégio de fazer rock em uma terra onde o rock não é a principal coisa da música", disse Carlini. "Sou o que sou graças a um ambiente fervilhante de cultura e de extrema criatividade, em que tantos outros músicos podem ser considerados como a 'guitarra rock do Brasil'. Gosto do reconhecimento, mas me considero inserido em um contexto muito maior. É gratificante."
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