quinta-feira, 22 de abril de 2021

A morte das bandas é só mais uma falácia espalhada por pobres de espírito

 Marcelo Moreira


Querem reduzir o rock e a a musica pop a um conglomerado de artistas individualistas e que se satisfazem ao fazer udo no computador, apenas interagindo com um computador.

À primeira vista, é isso que podemos entender quando observamos uma "tendência" do mercado atual observada em pertinente reportagem do jornal espanhol El País, reproduzida no site El País Brasil.

O texto não sustenta a tese central, a de que as banda estão desaparecendo, mas levanta a questão de que cada vez mais artistas individuais e, de certa forma, mais "baratos", estão prevalecendo mercado atual, se é que podemos chamar o que existe hoje de mercado. Os "assassinos" das bandas seriam a pandemia, a televisão e as plataformas de streaming, como o Spotify.

A constatação é correta: há cada vez menos bandas no que se convenciona hoje chamar de "paradas de sucesso", "ranking de vendas" ou total de execuções em plataformas digitais ou de streaming. O fenômeno se acentuou desde 2019 dentro do rock e da música pop. Predominam artistas individuais.

Se observarmos que o fato acompanha a tendência de termos cada vez menos artistas de rock entre os mais ouvidos e consumidos no mundo inteiro, então isso serve de munição para quem acha que o rock morreu (de novo?) e que o mundo da música agora se resume a um bom cantor(a) e um produtor digital que domine as ferramentas tecnológicas mais do que instrumentos musicais e mesas de som.

O texto de El País, que ouve profissionais mais ligados ao mercado hispânico e europeu, concentrando-se no R&B e na música eletrônica, elenca uma série de razões para as quais as bandas deixam de ser predominantes, entre as quais as supostas "facilidades de se negociar com apenas um artista e os custos menores de tal modalidade.

Ora, se isso fosse verdade teria ocorrido desde sempre, e não somente agora. Gente como Elton John, Michael Jackson e Madonna teria predominado desde sempre sobre Rolling Stones, U2 e Metallica.

Custos menores? E desde quando esses custos importaram se as perspectivas de luro sempre foram muito maiores, quase gigantescas, na maioria dos casos?

Se houve um tempo em que as bandas predominavam no rock e no pop, seria plausível que um dia essa situação se invertesse. Aliás, é bem provável que os artistas solo já tenham predominado antes.

Acho bastante temerário vaticinar o declínio definitivo das bandas por conta de um efêmero domínio de artistas diversos nas atuais paradas de sucesso. É só dar uma rápida passada nas listas de lançamentos diários para observar, especialmente no rock, uma presença maciça de bandas novas buscando espaço.

Nem todas conseguirão - pelo contrário -, mas, assim como essas trais paradas de sucesso atual não podem servir de argumento definitivo de que o rock está acabando ou já morreu, nem de longe sinalizam que as bandas ou os trabalhos realmente coletivos de composição e criação estão com os dias contados.

O debate é válido como uma maneira de analisar as mudanças velozes e vertiginosas pelas quais a música, a cultura e o entretenimento em geral estão passando. Algumas conclusões ainda são precipitadas, ainda mais quando se referem ao epitáfio de um gênero resistente e resiliente como o rock e suas bandas matravilhosas.

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