De banda artificial, pré-fabricada, a um dos grupos mais influentes dos anos 60, não só na música, mas em vários campos do entretenimento. Assim os Monkees ressurgem em diversas análises às portas da celebração de 55 anos de seu surgimento para o mundo .
Os quatro monkees se conheceram em 1965, após serem selecionados entre quase 500
candidatos para um projeto da emissora de TV NBC baseado no filme "A Hard
Day's Night", dos Beatles, sucesso mundial de 1964.
A ideia era criar um grupo musical que estrelaria um seriado de TV humorístico, do tipo nonsense e meio bobo, mas com astral lá em cima e que mostrasse que o rock e a música pop podiam ser inofensivos e agradar à "família norte-americana", não ferindo suas suscetibilidades. Os selecionados deveriam saber cantar e atuar - se tocassem instrumentos, melhor ainda.
Peter Tork e Mike Nesmith já eram músicos profissionais. Peter ficou famoso no circuito folk de Nova York tocando vários instrumentos; Mike era um nome em ascensão do cenário country rock californiano.
Davy Jones era inglês, era ator de teatro e musicais, assim como Micky Dolenz, que tinha sido astro infantil de TV nos anos 50.
Os Monkees em 1966: da esq. para a dir., Mike Nesmith, Micky Dolenz, Davy Jones e PeterTork (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Os quatro seriam integrantes de um grupo de rock que moravam em um casarão á beira da praia em busca do sucesso enquanto passavam por situações surreais e cômicas nos 58 episódios do seriado, que durou de 1966 a 1968. Em paralelo, manteriam uma carreira musical com shows e gravações de discos, mas tudo isso seguindo à risca as orientações dos empresários de TV e da carreira musical.
Surpreendendo a todos, os Monkees foram um sucesso instantâneo nos Estados Unidos e na Europa – e depois no mundo todo.
Ficaram milionários rapidamente, mesmo ganhando muito menos do que deveriam, ao mesmo tempo em que driblavam críticos que os consideravam fracos e desatualizados - neste segundo quesito, não deixa de ser verdade.
Chegaram a vender, no período do auge, mais discos do Beatles e Rolling Stones juntos nos Estados Unidos. Com a fama e o dinheiro, se tornaram por 18 meses os astros mais quentes de Hollywood e da Califórnia, ficando íntimos de gente como George Harrison (Beatles), Jimi Hendrix e muitos astros do rock, TV e cinema.
O que os donos da NBC e os produtores não previram, ou se recusaram a
entender e aceitar, é que desde o começo, mesmo escolhidos a dedo, os quatro
eram artistas, e muito bons artistas, talentosos e ambiciosos. Dolenz e Jones
logo aprenderam a tocar bateria e a cantar e começaram tentar compor - até
então somente Nesmith e Tork tinha essa autorização dos produtores.
As encrencas começaram ainda em 1966. Os quatro toleravam as horas e horas de gravações do seriado de TV, mas mergulhavam de cabeça no estúdio musical e adoravam registrar sua vozes nas músicas, mas logo se irritaram com o fato de terem de cantar músicas de compositores contratados e não tocarem nada nas canções.
Músoicos de estúdio de ótimo calibre foram contratados para registrar canções encomendadas a gente como Boyce and Hart, Carole King e seu marido na época, Berry Goffin, e Neil Diamond, entre outros. Nesmith, Dolenz e Davy só colocavam as vozes - Tork, quando muito, fazia vocais adicionais de vez em quando.
Houve tretas, mas os dois primeiros discos foram gravados com certa tranquilidade. Nos shows ao vivo, uma banda de apoio acompanhava os quatro, que começaram a reclamar disso - queriam tocar ao vivo, mesmo que Dolenz, por exemplo, fosse um baterista bem fraquinho.
A rebeldia demonstrada logo no começo da série cobrou o seu preço. Vendiam muito e geravam muitos milhões de dólares, mas conseguiram irritar toda uma cadeia forte de empresários e patrocinadores, a começar pelo poderoso produtor musical e de TV Don Kirshner.
Nunca foram amigos e nem gostavam um do outro, mas os quatro se uniram para fazer exigências e mostrar que eram artistas. No entanto, isso culminou com a decisão da NBC e dos produtores da série de não realizar a terceira temporada. Já notavam o consideravam esgotamento do produto televisivo.
O fim do suporte da TV coincidiu com a lenta e gradual queda da inspiração musical ao mesmo tempo em que os músicos assumiam cada vez mais as rédeas da carreira.
Os discos ficaram mais complexos, menos pop, com direcionamentos mais artísticos, o que espantou eventuais investidores e produtores musicais interessados em resgatar o grupo.
Dois anos no olho do furacão pop seriado de TV+música pop comercial também alienaram produtores e astros em relação ao que estava rolando no mundo.
Enquanto os gênios do rock já estavam quase se desvencilhando da psicodelia e entrando no rock pesado ou mais denso, os Monkees ainda se lançavam no mercado com canções básicas e muito simples, falando de amor adolescente, como se estivessem competindo com os Beatles de 1963.
Quando finalmente começaram a ganhar espaço para canções próprias, o melhor compositor, Mike Nesmith, entulhou a banda com a country music de que tanto gostava, deixando o rock em segundo plano. Lamentavelmente, não perceberam o desastre chegando.
A banda em 1967, começando a tomar as rédeas da própria carreira (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
"A escolha, para mim, era óbvia: era o único integrante que ainda não tinha uma biografia, mesmo em inglês. Nas minhas pesquisas, a minha escolha se provou acertada, pois Tork tem a personalidade mais fascinante", diz o autor.
Ao contrário do que todo mundo pensava, Tork, de ascendência norueguesa, era um intelectual, multi-instrumentista (tocava sete instrumentos) e poliglota (além do inglês, falava francês, alemão, espanhol e era razoável em japonês).
Dos quatro integrantes, era o mais articulado e contestador, sendo o primeiro a "tretar" quando ficou claro que os produtores musicais e da TV não deixariam que os Monkees tocassem em seus próprios discos – eles só punham as vozes em músicas compostas por outras pessoas especialmente para a série de TV.
Com evidente afeição e apreço pelo biografado, Sergio Farias, com apoio de farto material de pesquisa, não ameniza quando narra o período em que Tork desceu ao inferno, mas aproveita para ressaltar como Tork era o gente boa da banda, retratando o líder e guitarrista Michael "Mike" Nesmith como autoritário, centralizador, autossabotador e "traíra".
O livro é importante por ser a melhor (única?) biografia dos Monkees em português, resgatando boas histórias a respeito de quatro músicos que integraram uma banda pré-fabricada e as consequências de se rebelarem contra o mundo artificial que tentaram lhes impor.
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