Marcelo Moreira
A volta do King Crimson a partir de 1981: da esq. para a dir., Adrian Belew, Bill Bruford, Tony Levin e Robert Fripp (FOTO: DIVULGAÇÃO)
O som mais inovador dos anos 80. Não são poucos os que consideram a encarnação do King Crimson daquela década como a formação mais instigante do rock no período. O nome era o mesmo, mas a banda era muito, mas muito diferente, para a alegria de quem gosta de música.
Depois de cinco anos, inúmeras formações e uma dose mastodôntica de experimentalismo movido a jazz e música de vanguarda, o grupo mais ousado do rock progressivo chegava ao fim em 1974 por decreto de seu criador e líder, o guitarrista Robert Fripp.
A decisão pegou todo muno de surpresa, já que o período era muito prolífico e a formação parecia estar estabilizada. Fripp declarou-se exausto e exaurido e partiu para outro tipo de experimentação., mais eletrônica, ao lado de Brian Eno (ex-Roxy Music).
Também decidiu voltar a estudar em conservatório enquanto fazia trabalhos esparsos com David Bowie e Peter Gabriel, para espanto ainda maior dos abandonados Bill Bruford (bateria) e John Wetton (baixo e vocais).
Bruford realmente ficou meio perdido. Ficou quase dois anos com o Genesis, muitas vezes dividindo a bateria com Chester Thompson, até que em 1977 criou o UK, ao lado de Wetton, Eddie Jobson (saxofone e teclados, ex-inúmeras bandas) e Allan Holdsworth. Era rock progressivo puro, mas com tendências mais acessíveis, mas durou apenas dois anos e três grandes álbuns.
Ao mesmo tempo, lançava as sementes de seu trabalho solo de jazz experimental com a banda Bill Bruford's Earthquake. Embora pessoalmente não gostasse de Robert Fripp, tinha admiração musical pelo guitarrista, e a recíproca era verdadeira - em todos os sentidos, já que Fripp não tinha muito apreço pela companhia do baterista.
Alguns encontros casuais em 1980 quase que obrigaram os dois a se juntar para um novo projeto, que tinha o nome inicial de Discipline. Não sabiam direito o que seria, mas tinham muita vontade de trabalharem juntos novamente. Os dois se conheciam e se respeitavam musicalmente, e consideravam isso meio caminho andado.
Dos tempos de Peter Gabriel, Fripp se lembrou de um baixista americano fabuloso que tocava um instrumento esquisito, o stick. Tony Levin não só aceitou o convite para jams como teve a coragem de falar aquilo que os dois fundadores evitavam. "Nosso som é puro King Crimson, é tão instigante quanto!"
Meio a contragosto, o Discipline virou King Crimson em 1981 com a chegada de Adrian Belew, guitarrista e vocalista, outro americano inovador e ligado a experimentalismos, com passagem rápida pela banda de Frank Zappa e pelo Talking Heads, como guitarrista de apoio.
Renascido, o King Crimson oitentista só lembrava a banda fabulosa da década anterior pela inovação e ousadia. O jazz e a música de vanguarda davam lugar a um som mais pesado, mais hipnótico e claustrofóbico. A ideia era realmente incomodar.
Aina que inovador e com certa dose de experimentalismo, o King Crimson chegou às massas e frequentou bastante emissoras de rádio e TV, principalmente com a esquisita canção "Elephant Talk" e a bela "Matte Kudasai", uma elegia ao Japão.
O novo King Crimson era instigante, provocador, violento, agressivo e preciso, arrebentando as portas do rock e tentando indicar um possível futuro para a música pop.
Foram três discos antológicos lançados no período de 1981 a 1984 - "Discipline", "Beat" e "Three of a Perfect Pair" -, todos com boas vendas e aplausos esfuziantes da crítica. Pelos menos dois shows gravados no Japão se tornaram vídeos disputados no mercado, onde o quarteto expandia, e muito, o que "quebrava" no estúdio.
Também foi surpresa quando a banda anunciou uma pausa por tempo indeterminado em 1985 após quatro anos de atividade ininterrupta. Os quatro só voltariam a tocar juntos em 1994, com a adição de mais dois músicos, o percussionista Pat Mastelotto e o baixista e stickman Trey Gunn. Ficariam juntos até o ano 2000.
O primeiro retorno do King Crimson completa 40 anos e só reforça que a inovação e a ousadia são fundamentais para o rock em qualquer tempo e em qualquer época. Nunca a inteligência foi tão bem aplicada no gênero musical como no período mágico da volta da banda.
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