domingo, 11 de abril de 2021

Viper lança edição comemorativa de 'Coma Rage' com bônus

Marcelo Moreira




Seu time vai bem, como sempre, e coalhado de jovens jogadores, mas calha de um deles ser uma espécie de Neymar. E um dia, muito jovem, esse Neymar decide respirar novos ares.

Trinta anos atrás, foi mais ou menos isso o que aconteceu com o Viper, a primeira banda brasileira de heavy metal a conseguir chamar a atenção no exterior, antes mesmo do Sepultura.

O grupo de moleques do bairro de Higienópolis, em São Paulo, tinha gravado e lançado dois LPs/CDs importantíssimos entre 1987 e 1989 e trilhava um caminho internacional consistente, mas o inquieto vocalista André Matos (1971-2019) tinha outras ideias. E então a banda teve de se virar como pôde. 

"Coma Rage" é o resultado da perseverança, um álbum gravado em Los Angeles (EUA) com o baixista Pit Passarell assumindo os vocais, ele que já despontava como um dos principais compositores do Viper.

Claro que os fãs que se diziam mais clássicos ou "true" (verdadeiro) iriam reclamar fosse quem fosse que assumisse os vocais. Mas é fato que o som mudou, ficando mais agressivo, mais sujo e mais melódico. 

Era um novo Viper que surgia, ganhando força pelos quatro anos seguintes até que os ventos virassem e o então quarteto voltasse ao underground. Yves Passarell, um dos astros da guitarra do metal nacional, entrou para o Capital Inicial; o outro guitarrista, Felipe Machado, voltou para o jornalismo e se tornou escritor, enquanto que Pit mergulharia na composição pop, sendo muito requisitado por muita gente. O baterista Guilherme Martin seguiu a vida com a banda Toyshop e muitas outras atividades.

"Coma Rage", o símbolo dessas mudanças violentas, está sendo reeditado em CD e em plataformas digitais em versão remasterizada pela Rhino, com faixas bônus nunca lançados antes e até uma rara gravação inédita em português.

O lançamento faz parte do pacote Heavy Metal Legends, que inclui bandas como Black Sabbath e Metallica. O Viper é a primeira banda brasileira a ser incluída nessa lista de nomes históricos do estilo.

As sessões de estúdio de Coma Rage ocorreram em 1994, pouco antes da banda ser um dos destaques do festival Monsters of Rock, quando lotaram o estádio do Pacaembu, em São Paulo, ao lado de nomes como Kiss, Black Sabbath e Slayer.

"O tempo que passamos em Los Angeles contribuiu para o som de 'Coma Rage'. Já éramos influenciados por heavy metal, mas também passamos a ter contato e fazer amizade com outras bandas de punk, grunge e até hardcore", afirma o guitarrista Felipe Machado ao site Wikimetal. "Os anos 1990 foram um caldeirão e 'Coma Rage' é o resultado disso."

O álbum conta com participação especial de Ernie-C, guitarrista do Body Count, banda liderada pelo rapper Ice-T. Reza a lenda que a banda tentou contratar Glenn Hughes (cantor e baixista, ex-Deep Purple e Black Sabbath), mas demorou demais a fazer o contato e o cantor acabou viajando para outros compromissos.

Em conversa recente com o Combate Rock, Felipe Machado disse que as gravações do álbum ocorreram de forma serena e tranquila, mas que havia pressão deles mesmos e do mundo do metal para lançar um disco poderoso para superar as desconfianças que vieram com a saída de André Matos.

É bom lembrar que o cantor alegou que sairia para estudar composição e regência, o que de fato fez, só que não resistiu a uma convite para integrar o Angra, um supergrupo criado por produtores e empresários e que rapidamente conquistou muitos fãs no mundo com o disco de estreia, "Angels Cry".
Não era um mundo fácil em relação à concorrência...

O relançamento de "Coma Rage" conta com remasterização de Mauricio Gargel, com toda a demo feita durante a pré-produção do álbum. O disco traz ainda "País do Futuro", composição de Felipe Machado e Pit Passarell e primeira letra da banda em português.

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