terça-feira, 13 de abril de 2021

Som demolidor e qualidade muito alta: Nervosa e Crypta cumprem o que prometeram

 Marcelo Moreira

As meninas furiosas prometeram e cumpriram: a demolição não deixou paredes intactas, muito menos poupou nossos ouvidos, explodindo tímpanos e recolocando o metal extremo em alta.

As bandas Nervosa e Crypta repetem 25 anos depois o movimento que deu origem a duas grandes bandas após implosão de um grupo icônico. 

Se em 1996 a saída de Max Cavalera do Sepultura resultou no Soulfly, criando uma nova ótima banda e revigorando a antiga, vemos o mesmo em São Paulo em plena pandemia: a implosão da Nervosa, que estava em franco crescimento, resultou na criação de uma banda poderosa e na reconfiguração de um nome importante da cena.

Ninguém ganha, em um primeiro momento, quando ocorre a divisão de bandas importantes em outras ou na separação de integrantes que são a "cara" de determinados grupos. Só o tempo mostra se o mercado reagiu bem ou se os fãs podem se regozijar por terem mais opções.

Crypta (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Foi assim com Deep Purple e posterior surgimento do Whitesnake, Black Sabbath com Dio e a carreira solo de Ozzy Osbourne, Van Halen com Sammy Hagar e a os discos de David Lee Roth...


A banda Nervosa surgiu com a finalidade de consolidar as mulheres na cena extrema brasileira e foi bem-sucedida,principalmente com a dupla Fernanda Lira (vocal e baixo) e Prika Amaral (guitarra) no comando. 

Três álbuns e um EP mostraram a força do trio, ainda que houvesse três bateristas revezando-se até a implosão. O som era violento, um thrash old school com pitadas de modernismo na produção e uma nova maneira de imprimir os vocais. 

Tudo era muito extremo, resvalando no death e no black metal, mas misturando uma série de influências que iam do punk, do hardcore e do heavy tradicional.

"Downfall of Makind", o terceiro e melhor disco da carreira das meninas até então, de 2018, indicava algumas mudanças, com mais peso e um baixo mais proeminente. Além do mais, as canções estavam mais rápidas e mais urgentes, embora alguns arranjos apontassem para algo um pouco mais trabalhado e melódico.

O choque entre a urgência do thrash metal e a, digamos assim, sofisticação de arranjos e riffs de um death metal melódico certamente estão entre os motivos de divergências dentro da Nervosa, algo conceitual e, de certa forma, inconciliável. 

A discrição das meninas fez com que a implosão surpreendesse a todos em plena pandemia, mas, se tinha de ocorrer, que fosse da forma como foi e quando foi. Permitiu que os dois lados se reestruturassem e se reinventassem. 

A Nervosa, agora como um quarteto e com quatro musicistas de quatro países diferentes, renasce com os olhos virados para o mercado internacional e uma nova orientação musical. 

A urgência do thrash metal continua, só que agora com mais valor agregado e um refinamento maior em arranjos e na estruturação dos vocais. "Perpetual Chaos", o álbum recém-lançado, foi produzido de forma rápida e meio apressada, mas mostra mudanças importantes e uma declaração de intenções pesada e moderna. 

Também um quarteto, a Crypta adiciona um diferencial em relação à Nervosa, que é a segunda guitarra. Se a intenção era soar mais extrema e mais violenta, era uma decisão necessária, algo que, de alguma forma, fazia falta ao som da Nervosa.

Nervosa (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Nunca gostei da ideia desaforada e falaciosa de que "os fãs ganharam duas banda de qualidade para curtir a partir de agora". É metra desculpa de fãs e críticos para evitar tomar partido ou falar com sinceridade a respeito de cisões. Esse tipo de coisa ocorreu com muita frequência no caso do Sepultura. 

Assim sendo, quem saiu na frente na comparação entre Nervosa e Crypta? Qual das bandas ainda é a melhor, mesmo reconhecendo que as duas são ótimas pelo que mostraram até aqui?

É cedo para fazer a comparação, até porque a Nervosa já tem disco lançado, e a Crypta, só uma música. Por enquanto, empate técnico com vantagem para a Nervosa, que rapidamente se posicionou no mercado com um CD que, apesar de apressado e feito na correria, é muito acima da média e muito melhor do que o esperado.

Quando o álbum da Crypta vier, lá em julho, as comparação será mais viável. E adianto que a vantagem pode se inverter por causa de um detalhe: a segunda guitarra, que em alguns momentos fez falta na Nervosa. Com um som encorpado, denso e muito pesado, a Crypta pode se transformar em uma das grandes coisas do rock pesado deste ano.


 

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