Marcelo Moreira
Não surpreende que fascistas, que são notoriamente autoritários e odeiam as liberdades dos outros, queiram subverter a ordem das coisas e bradar contra toques de recolher e isolamento social. São especialistas em torcer, distorcer e torturar as palavras.
Também não surpreende que fascistas exijam ter o direito e a liberdade delinquir, já que caráter é algo que não existe para esse espectro da população. Ignorando a ciência e as demonstrações claras da tragédia humanitária e sanitária, querem ter o direito de se amontoar em pardieiros que chamam de igrejas e infectar (matar) impunemente.
Não surpreende, mas escandaliza, que artistas outrora considerados inteligentes e bem-informados apoiem esse tipo de gente fascista no pleito para que mantenham os pardieiros religiosos aberto no omento em que o Brasil registra 341 mil mortos e um total diário que ultrapassa 4,2 mil.
E quando aquele artista que você um dia admirou, que compôs tal música importante que virou hino à verdadeira liberdade e ideais supostamente progressistas embarcar nesta onda fascista de que "não podem tolher a minha liberdade de ir e vir", é sinal de que o mundo está empesteado por vírus de idiotia e imbecilidade, tão perigosos quanto o coronavírus.
É o caso de um cantor conhecido do metal nacional que sempre escancarou as suas influências religiosas retrógradas, quase medievais. Teve a capacidade de elogiar e "analisar" a risível e esdrúxula argumentação de André Mendonça, o novo advogado-geral da União, no STF (Supremo Tribunal Federal) no debate sobre a abertura ou não de igrejas e templos.
De forma delirante, deliciava-se com os recitais de frases bíblicas desprovidos de nexo e de conteúdo vazio vomitados pelo advogado-geral. Nenhum argumento consistente, sem citar uma vez sequer a Constituição e insistindo na tese estapafúrdia de que governadores e prefeitos criaram um estado de exceção - como se 341 mil pessoas mortas em um ano não significassem nada.
Mais do que falta de caráter ou de empatia, o que predomina em muitos círculos de extrema-direita é a total desonestidade intelectual amparada em mentiras toscas e ideologias baratas. É o caso do tal cantor, um exemplo porcamente acabado desse tipo de gente preconceituosa, medieval, mentirosa, ignorante e que chafurda na má fé em todos os sentidos.
Em um mundo às avessas, quem sempre bradou contra a "subversão e anarquia" prega justamente a desobediência civil em um momento em que a maioria das autoridades se esforça para fazer o certo e seguir a ciência no combate ao vírus - e é atacada de forma burra e celerada por isso.
Em um mundo às avessas, cabe a prefeitos e governadores lutar pela ciência e contra a sabotagem de um presidente lunático que acredita em duendes e desconsidera a crise sanitária mundial, em um crime sem paralelos na história da humanidade. Guerra biológica? Bolsolixo se torna um dos vetores e especialista no assunto.
Quando um ministro do STF controverso e com posturas altamente questionáveis se torna o bastião da moralidade, da decência e da inteligência, é sinal de que estamos atolados em um lamaceiro sem igual.
Quando Gilmar Mendes é a voz da razão - e coberto de razão -, é sinal de que teremos de encarar tempos muito sombrios - e bastante perigosos.
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