Julio Verdi - do blog Ready to Rock
Uma memorável avalanche de bandas riopretenses tem se dedicado nos últimos anos a produzir música autoral. Nessa saudável fase, mais um grupo vem se dedicando a compor e expor seu próprio trabalho.
É o Hammätrio, formado por músicos que atuam em outras bandas na cidade, tendo Lucas Rochas (Big Blues, Lucas Rocha Blues) na guitarra, Alberto Sabella (Estação da Luz, Beatolados) teclado/órgão e Guilherme Pala (Centro da Terra, Bebop Blues) na bateria, em sua formação.
Ao longo dos últimos meses o Hammätrio vem lançando em suas redes sociais novas músicas que vem sendo produzidas.
Das primeiras composições divulgadas, uma gama de sonoridades embala os padrões das músicas. Como “Macabro” (curta, com um teclado e seus efeitos com um clima de suave agonia), “Money Runner” (os arranjos parecem comandados pelo baixo, neste caso sintetizado, ascendência groove, inclusive em fraseados de guitarra funkeada, dinâmico uso de caixa e pratos), “No Quarto do Led” (jazzistica, com tempero de MPB, para uma releitura do clássico do Zeppelin), e “Cissy Strut (Collab)” (solos pescam um pouco do R&B, tem alguns efeitos mais densos no final).
Já para os temas divulgados mais recentemente, nos deparamos com “Embaçado” (bateria eficientemente quebrada, guita e órgão dialogando), “Taconfusa” (guitarra pausada chama a cadência, sutilidade das teclas), “Falcatrua” (tem um clima de prog-rock, misturada às viajens de melodic-rock nos diálogos orgão/guitarra), “Se Pega no Olho” (bateria swingada, orgão com mais incursões de melodia), “Swing do Cafetão” (faz jus ao nome e apresenta uma malandragem explícita na harmonia dos elementos) e “Hermeticamente” (jazz, fusion, e doses generosas de brasilidade)
Hammatrio (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
O Ready conversou com os integrantes da banda, que nos contam um pouco sobre o Hammätrio Organ Trio.
ReadytoRock - Como surgiu o Hammätrio e qual a proposta da banda desde o início?
Alberto Sabella - O Guilherme Pala tinha um projeto de música instrumental toda quarta em um bar aqui em RP, cada semana ele chamava alguém para acompanhar ele. Algumas semanas eu ia, outras o Lucas Rocha. Daí veio a ideia de montar a banda.
RR - Porque o nome "Hammätrio"?
Lucas Rocha - Não tem um significado real o nome, é a junção da palavra Hammond e trio. Como “Hammotrio” não tem uma fonética boa rsrsrs, ficou Hammätrio.
Alberto - A ideia de lançar as músicas separadamente foi de um amigo nosso, Pepe Bueno (Tomada, Pepe Bueno & Os Estranhos) ele nos convidou para lançar uma música em 2019 pelo selo paulistano Curumim Records. E a jogada nisso é sempre ter material novo em pouco tempo. Hoje é difícil alguém ouvir o disco todo de uma banda que não conhece. Uma música a cada dois ou três meses pode ser mais convidativo que um disco todo.
RR - O estilo da banda se afasta naturalmente de outros trabalhos que os músicos levam a cabo em outras bandas. Não seguindo nenhuma tendência específica, onde encontramos jazz, fusion, R&B e até MPB. No ato das composições, qual foi o ensejo de cada uma para chegar a esse resultado?
Guilherme - A ideia foi exatamente não se prender a um estilo, as músicas saíram dessa forma, mas nada foi pensado. Acho que todos temos influências que não cabem em outros projetos, mas no Hammätrio sim. A ideia musical aqui é totalmente livre de rótulos.
RR - Falando das músicas anteriores, qual a história por traz da “No Quarto (do Led)”? Como foi referenciar “No Quarter”?
Lucas - A ideia foi fazer uma versão mais latina da música. Todos da banda somos fãs do Led, e conseguimos nessa música um clima muito diferente da original mas sem descaracterizar o som.
RR - Como funciona o processo de composição das músicas? Todos participam?
Alberto - Sim, as composições são feitas basicamente através de partes e ideias q cada um tem, aí durante os ensaios desenvolvemos juntos até formatar uma música.RR - Nunca houve a vontade de incluir um contrabaixo na banda? Algumas músicas tem uma excelente vibe de groove, o que seria um deleite para as quatro cordas.
Guilherme - A ideia desde o início da banda foi ser um “organ trio” onde o órgão faz as partes do baixo. Mas com o passar do tempo percebemos outras possibilidades na banda, temos composições onde o Lucas vai para o baixo e o Alberto faz piano. Temos também ideias onde eu toco o piano. Então é algo aberto. Mas sempre em trio. Não temos a ideia de colocar alguém no baixo fixo.
RR - Além da disponibilidade do streaming, há planos para lançar um álbum, compilando todas essas faixas, mesmo que hoje em dia não seja mais uma tendência lançar discos físicos?
Lucas - Sim, queremos muito lançar em formato físico. A compilação das músicas de 2020 provavelmente vai se tornar um disco de vinil, ainda acho q tem um mercado de pessoas que gostam de ter a mídia física.
RR - É óbvio que, por conta da pandemia do Covid, os shows se tornaram escassos. Há previsão de apresentação da banda em breve? E qual seria o set?
Alberto - Ainda não sabemos quando vamos poder tocar novamente, mas assim q tudo isso passar temos certeza q vamos voltar. Já temos alguns convites pós-pandemia. O set vai contar com nossas composições e versões de músicas que vão do Rock como o exemplo de “No Quarto” até Tangos do Astor Piazzolla, passando por algo de Bossa Nova, e alguns clássicos do jazz.
RR - Um público ideal para a música da banda seria de algum festival de Blues e Jazz, como ocorre com constância no SESC por exemplo. Essa é uma perspectiva boa para a banda?
Guilherme - Certamente, esse circuito de festivais e SESC é uma ótima oportunidade de rodar o Brasil mostrando o nosso som. Queremos muito isso quando tudo voltar ao normal.
RR - As músicas da banda têm um bom nível de complexidade e riqueza de detalhes. Acredita que elas sejam bem acessíveis ao público em geral, acostumado com o formato tradicional do rock?
Guilherme - Boa pergunta, penso que de início não, mas mesmo tendo uma complexidade não são na maioria músicas difíceis de digerir. Mas como tudo hoje vem muito mastigado o público está ficando cada vez com mais preguiça de interpretação, e isso acontece em praticamente tudo, texto, música, filmes, etc.
RR - Quais são os planos e as ações para expandir a música da banda para um público maior que o da região?
Lucas - Os planos estão neste momento voltados para as mídias sociais, já que não temos a oportunidade de fazer nada presencial. Produzir material novo e divulgar. Música instrumental pode parecer restritiva em termos de público, mas é uma forma de comunicação sem palavras e que toca qualquer nacionalidade. Temos ouvintes no mundo inteiro, pessoas no Japão, Polônia já entraram em contato com a banda, e isso é muito gratificante.
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