segunda-feira, 5 de abril de 2021

O mergulho do Rush no progressivo com '2112' completa 45 anos

Marcelo Moreira




Três álbuns em dois anos, um novo baterista que também era um letrista de mão cheia, além da renovação de contrato com a gravadora. Tudo parecia ir muito bem para o trio canadense Rush, mas era só aparência.

Seis anos após o seu surgimento, o grupo ainda buscava uma sonoridade própria para finalmente ganhar o mercado norte-americano.

"Fly By Night " e "Caress of Steel" colocaram a banda em um novo patamar, em 1975, mas ainda insuficiente para livrá-los da pecha de imitação de Led Zeppelin e figurarem no segundo escalão do hard rock setentista.

Geddy Lee, o vocalista e baixista, sabia do potencial do trio, mas via Kiss e Aerosmith decolarem, assim como o Queen, que se tornava cada vez maior.

Como dar um salto ainda maior para mudar novamente de patamar? Neil Peart, o baterista letrista com pinta de intelectual hippie, veio com a solução.

"2112", lançado há 45 anos, não tinha o estofo para ser uma ópera-rock do porte de "Tommy", do Who, ou de "Arthur", dos Kinks, mas tinha uma boa história e belos arranjos, além de um trabalho colaborativo do trio que superou as inseguranças e os traumas da falta de sucesso.

A música, dividida em sete partes, e que também deu o título ao álbum, jogou as luzes sobre o Rush e o catapultou a um período extremamente prolífico, finalmente transformando o trio de grupo promissor a uma realidade dentro dos principais nomes do rock pesado da segunda metade dos anos 70.

O álbum foi lançado em 1976 e inaugurou uma fase em que o Rush abandona o hard rock e envereda pelo rock progressivo sem medo de mudar.

Buscando uma abordagem diferente das bandas inglesas do estilo, o Rush manteve o seu som calcado nas guitarras poderosas de Alex Lifeson e nas complexas harmonias criadas por Lee e Peart.

Não é exagero que o Rush lançou as bases, com "2112", para o que viria ser o metal progressivo, abraçado por bandas como Dream Theater, Queensryche, Fates Warning e algumas outras.

Para comemorar os 45 anos de "2112", a banda, que não existe mais desde 2015 e que ficou definitivamente desfalcada com a morte de Peart no ano passado, pretende relançar a edição comemorativa de 2016 do álbum. Aquela edição continha um CD duplo e um DVD com performances raras e dois minidocumentários.

O primeiro CD traz as gravações originais com nova mixagem e um tratamento de primeira, ressaltando detalhes que antes costumavam passar quase batido, como as guitarras intrincadas de "Something for Nothing", os belos solos de uma das suítes de "2112", "Temples of Syrinx", o timbre delicado e maravilhoso do violão na balada "Tears" e toda amálgama sonora e genial de "A Passage to Bangkok".

No segundo disco, versões remasterizadas de músicas do álbum, além de "Tears" gravada pelo Alice in Chains em 2016, assim como duas gravações ao vivo feitas nos Estados Unidos em 1976. No DVD, além dos documentários, há trechos raros de um show em Oakland, na Califórnia, em 1976.

Os mais de 20 minutos de "2112", a música, são raros momentos de plenitude sonora e qualidade altíssima de composição e elaboração de arranjos.

Até hoje impressiona pela dinâmica de suas estruturas harmônicas e pela maneira perfeita do encadeamento de suas suítes, com amplo domínio das técnicas dramáticas dos musicais da Broadway.

Parte expressiva dos fãs afirma que "2112" é o auge criativo e de performance do trio. É um evidente exagero, mas é inegável que foi o ponto de partida para a decolagem do trio como um dos grandes nomes do rock de todos os tempos.

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