domingo, 4 de abril de 2021

Apocalypse, lenda do prog nacional, celebra 30 anos de seu primeiro lançamento

Marcelo Moreira

Há músicos que passam a vida inteira tentando virar lendas. Outros preferem outro caminho, o de tentar se estabelecer como uma instituição, daquelas que não só são lembradas, mas também veneradas, ainda que o sucesso absoluto não tenha vindo - afinal de contas, qual é o conceito de sucesso?

O tecladista gaúcho Eloy Fritsch pode ser enquadrado em qualquer uma das categorias, seja como músico solo, transitando entre o rock progressivo e a música erudita, ou com a sua maior criação, a banda Apocalypse, que comemora 30 anos do lançamento de seu primeiro álbum. A banda surgiu em 1983 em Caxias do Sul.

Tudo o que envolve o Apocalypse é inusitado e estranho, ao mesmo tempo em que é admirável pela resistência e pela resiliência. Quem tentou fazer rock progressivo no Brasil nunca despontou para o grande o público, ficando confinado a um reduto de iniciados. Mas que disse que isso importou para Fritsch?

Eloy Fritsch gravando o primeiro disco, entre 1990 e 1991 (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Ele é mais um grupo de obstinados mantiveram uma prolífica cena progressiva nos anos 90 por aqui, quando o subgênero vivia o seu segundo ocaso no mundo - o chamado neoprog oitentista, liderado por bandas como Marillion, Pallas, IQ e Pendragon, perdia fôlego e voltava para o underground.

No Brasil, o Apocalypse reinava absoluto no Sul e fazia sucesso no Rio de Janeiro, onde tinha a "concorrência" de grupos como Tempus Fugit e Quaterna Réquiem, criando uma improvável cena prog 20 anos depois do auge do subgênero com suas sinfonias, suítes e movimentos.

Hoje adormecido em prol da carreira solo de Fritsch, um prolífico e obsessivo compositor, o Apocalypse ainda é bastante lembrado por um público que aprendeu a admirar a sua obra por conta de dois importantes álbuns ao vivo, "25th Anniversary Concert Live" e "35th Anniversary Concert Live", gravações muito legais dos shows que comemoraram os 25 anos e 35 anos de criação do grupo, respectivamente.

O primeiro disco, autointitulado, foi lançado pela gravadora Acit em 1991. Na época, com quase dez anos de estrada, a banda participou de diversos eventos de destaque, ganhando o festival Circuito de Rock na região da Serra Gaúcha e o Festpop nos anos 1980. 

Em 1989 foi gravada uma música para a coletânea “Circuito de Rock”, intitulada “Só Você”. Esse destaque na cena musical gaúcha chamou a atenção da gravadora Acit que lançou o LP de estreia e realizou diversos shows da banda pelo Estado. 

Para as gravações do LP, o Apocalypse era um trio formado por Chico Casara (vocal, guitarra e baixo), Eloy Fritsch (teclados) e Chico Fasoli (bateria). O LP “Apocalypse” é o primeiro vinil de Rock gaúcho em que o sintetizador assume o lugar da guitarra no protagonismo das músicas. 

As músicas “Sentinela”, “Sombra do Meu Ser”, “Caçadores de Máquinas”, “Eu Brilho em Você”, “Luzes da Vida”, “Virada do Século”, “Miragem” e “Só Você” foram compostas no teclado. 

O único músico daquela formação trio que ainda continua na banda atualmente é Fritsch, que comenta sobre essa fase da banda: "O Apocalypse fazia um som diferente para a época e usava teclados eletrônicos. Na região não tínhamos outras bandas de rock com essa proposta. Eu gostava muito de compor no teclado e depois tocar ao vivo com a banda. Foi um baita aprendizado! Todo o final de semana tinha ensaio para as apresentações e nos divertíamos muito. Foi uma época de pioneirismo e desafios no rock feito aqui no sul do Brasil. O lançamento do nosso primeiro vinil certamente trouxe experiência e abriu as portas para novas conquistas".

Apocalypse em show realizado em 1991 (FOTO: RONI RIGON/DIVULGAÇÃO)


O tecladista lembra como foi o lançamento do vinil em sua cidade natal: “No show de lançamento do álbum nós interrompemos o trânsito da mais movimentada avenida de Caxias do Sul, a Júlio de Castilhos, e tocamos música autoral do primeiro disco para mais de mil pessoas”, um feito e tanto, comprovando a vontade dos músicos da banda em promover o disco. “Sozinho, perdido dentro de mim”, “Lavender” (verão em português do Marillion) e “Momentos Perdidos” completam o track list do álbum. A produção do trabalho ficou a cargo de Edson Campagna.

De lá para cá foram lançados diversos CDs, álbuns ao vivo, DVDs, coletâneas e um box set contendo um livro contando a história da banda, além de participações em coletâneas internacionais e shows no Rio de Janeiro, São Paulo e EUA. 

Em 2011 a banda recebeu a Menção Especial no “Prêmio Açorianos” de Porto Alegre pelos 25 anos de carreira e a contribuição ao rock gaúcho. O último lançamento é o álbum ao vivo comemorativo de 35 anos intitulado “The 35th Anniversary Concert Live”, lançado em 2019.

Na carreira solo, Eloy Fritsch lança trabalhos autorais com regularidade. O mais recente é "Moment in Paradise", de 2020, com todos os elementos possíveis que caracterizam o rock progressivo clássico, com influências de mestres do teclado, como Rick Wakeman (Yes), Keith Emerson (Emerson, Lake and Palmer), Jon Lord (Deep Purple) e outros nomes importantes. Seu trabalho mais interessante neste século é "Exogenesis", de 2012.

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