sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A nova safra de mulheres furiosas e felizes: Dea Matrona, The Warning, The Mönic e Otoboke Beaver

 Elas são furiosas, mas estão de bem com a vida. chutam tudo, mas adoram rir e curtir a vida. As guitarras são pesadas e velozes, mas passeiam também pelo blues, pelo hard rock e pelo punk. E saem de lugares tão distintos como Belfast (Irlanda do Norte), Monterrey (México), Quioto (Japão) e São Paulo, derrubando fronteiras e preconceitos. São todas jovens, com sons instigantes e instigantes.

Direto das ruas de Belfast, outrora conflagradas por décadas devido a desavenças religiosas e politicas, o trio Dea Matrona mantém a sua ascensão com um hard rock simples e direto. E, literalmente, saíram das ruas mesmo, já que em 2019 e 2019 tocavam em uma esquina de sua cidade até serem notadas e começarem a gravar singles e clipes.

No começo eram as irmãs Mollie (guitarra, baixo e vocais) e Mamie McGuinn (bateria), com o apoio da amiga de escola Orláithe Forsythe (baixo, guitarra e vocais). Com idades entre 17 e 20 anos, atraíram um público cativo na esquina e chamaram a atenção de radialistas - eles ainda existem na Irlanda.

Lotando shows e aparecendo na TV, logo começaram a gravar singles, entre eles "Stamp On It", o melhor de todos, e ambicionavam uma turnê europeia uando a pandemia de covid-19 atrapalhou os planos. 

A retomada demorou, por mais qu fossem ativas na internet, e provocou uma baixa: Mamie, a mais nova, decidiu retomar os estudos e deixou o trio, cedendo o seu lugar para outro colega de escol, Jamie Hewitt, que tem mãos mais pesadas e aceleradas.

O hard pop ficou mais hard e as duas vocalistas, que trocam de instrumentos constantemente durante os shows, têm pleno domínio das ações, despejando uma enxurrada de influências, que vão de Beatles e Led Zeppelin a Heart, Fleetwood Mac, Blondie, Joni Mitchell e Runaways.

A explicação para  nome com sonoridade latina para uma banda irlandesa foi explicado a um jornal de Belfast em 2019 por Mollie: "É um nome que exalta o empoderamento feminino. Dea Matrona, na mitologia celta, era a deusa do rio Marne, na Gália [atual França]. Mātr-on-ā, em gaulês antigo, significa 'grande mãe'. Dea Matrona então é a deusa-mãe". 

As mexicanas de The Warning também apostam em uma sonoridade pesada, aliás, bem mais pesada do que a das irlandesas. As três musicistas de Monterrey são irmãs - Daniela (guitarra e vocais), Alejandra (baixo e vocais) e Poliana Villarreal (bateria e vocais) - são fãs de Metallica e adicionam pitadas de Foo Fighters em shows que beiram as duas horas.

Completando dez anos de carreira, são gigantes no México e tocam com frequência nos Estados Unidos e na Europa. Os trabalhos mais recentes são o EP "Mayday" (2021) e o álbum "Error" (2022), elogiado pela imprensa inglesa como um sopro de jovialidade no som mais pesado, mas acessível, comparando-as a bandas inglesas como Wolf Alice e Wet Lag, com vocais femininos e queridinhas da imprensa britânica.

Em "Error", bem produzido, a banda está mais contida, embora a maioria das canções seja boa. O verdadeiro som delas está em "Live at Teatro Metropolitán", registro em vídeo de show realizado em agosto de 2022 na cidade do México.

Em 17 canções elas alternam ternura e fúria, com a guitarra de Daniela tomando conta de tudo, mesclando simplicidade e ataques furiosos em riffs poderosos e poucos solos. 

Há vários destaques, como a poderosa "When I'm Alone", a interessante "Z", a pesada "23" e uma versão mais concisa e direta de "Enter Sandman", do Metallica. Privilegiando o inglês, há uma boa canção em espanhol, "Narcisistas", cantada pela baterista Poliana. A banda estuda o lançamento do áudio em CD e do vídeo em DVD.

Dos porões do submundo paulistano emerge o quarteto The Mönic, nome forte do underground nacional e que chamou a atenção pela força de som som pesado e rápido há alguns anos com o surpreendente álbum "Deus Picio", em inglês.

Com o recém-lançado "Cuidado Você", a banda adota o português para fazer um punk rock moderno e encharcado de riffs pesados e quentes. O ritmo é frenético, com 12 músicas com melodias interessantes, esmo sendo bem curtas.

Todo mundo canta na banda, o que confere um aspecto e inusitado - formam o grupo Dani Buarque (guitarra e vocais), Ale Labelle (guitarra e vocais), Joan Bedin (baixo e vocais) e Thiago Coiote (bateria e vocais).

Abordando temas coo liberdade individual e engajamento/empoderamento feminino, com destaque para o apoio a causas progressistas, como na ótima "Atear", ou na engajada na "Não Dá". 

O cotidiano da juventude do século XXI também tema recorrente e urgente, em especial para os garotos e garotas que transitam no mundo LGBTQIA+, como "Aquela Mina", com uma letra composta sob a perspectiva feminina do flerte e da conquista de uma garota.

Além do mundo amoroso e dos relacionamentos, The Mönic mostra bom humor em "Bateu" e "Sabotagem", embora nem sempre o assunto seja leve. 

Há anos como destaque dentro da cena underground paulista, o quarteto surpreende ao trocar de idioma e aprofundar a sonoridade punk, além de beliscar o pop em algumas passagens de suas músicas. O arriscado projeto de "Cuidado Você" foi muito bem-sucedido.

Por fim, vem do Japão a banda mais inusitada de sonoridade pesada e punk: Otoboke Beaver, um quarteto com quatro meninas que se divertem à beça fazendo um poppy punk à la Shohen Knife (banda japonesa formada por mulheres que teve relativo sucesso nos anos 90).

Com alguns álbuns nas costas, tem se destacado no underground punk asiático e toca com certa regularidade nos Estados Unidos mesmo cantando em japonês. 

Musicalmente simples e, de certa forma, um pouco limitada, a Otoboke Beaver só se leva a sério até certo ponto. Abusam bom humor e das melodias fáceis em alguns momentos, ao mesmo tempo em que soam minimalistas na pancadaria, com alguns temas mal chegando a um minuto. 

O nome da banda foi apropriado de um motel de uma estrada da região periférica de Quioto - o motel, no Japão, tem a mesma finalidade que os homônimos brasileiros. 

Segundo uma definição de uma publicação americana, descontando-se a ousadia, o minimalismo e o experimentalismo, a música do quarteto feminino japonês pode ser classificado como um "poppy happy punk". 

Passado o estranhamento inicial, é possível divertir-se bastante com o som dessa banda diferente. A formação tem a vocalista Accorinrin, a guitarrista Yoyoyoshie, a baixista Hirochan e a baterista Kahokiss. Seu álbum mais recente é "Super Champon" (2022). 

Procure ouvir as músicas "I Don't Want to Die Alone" e "I Am Not Maternal" - antadas em japonês, aparecem grafadas em inglês também nos encartes de CDs e nas legendas de programas de TV.



  

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