segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Tail Dragger viveu e morreu como a letra de uma canção de blues

 Eugenio Martins Júnior - do blog Mannish Blog

“They don’ gave it away,” Tail Dragger said last week of what African-Americans have done with the Blues. “If it wasn’t for young White kids, blues would be dead. My entire band is White. I can’t find the young Black men who want to play blues. Eddie Taylor Jr. is the only Black guy I know who is still playing traditional blues. The young Black folks are ashamed of it. I wish more Black young people would think about what our forefathers created and not be ashamed of something that is a big part of Black culture.”

“Eles não revelaram”, disse Tail Dragger na semana passada sobre o que os afro-americanos fizeram com os blues. “Se não fosse pelos jovens brancos, o blues estaria morto. Toda a minha banda é branca. Não consigo encontrar jovens negros que queiram tocar blues. Eddie Taylor Jr. é o único negro que conheço que ainda toca blues tradicional. Os jovens negros têm vergonha disso. Gostaria que mais jovens negros pensassem sobre o que nossos antepassados criaram e não tivessem vergonha de algo que é uma grande parte da cultura negra.”

(trecho de reportagem do jornal/site Chicago Defender)


E foi assim que James Yancy Jones, conhecido pelo nome artístico de Tail Dragger, causou um estardalhaço no mundo da música norte-americana.

Foi a primeira vez que um dos veteranos do blues declarou a um veículo de comunicação, no caso, o Chicago Defender, jornal da Mecca do blues elétrico, que a tradição musical criada pelos afro-americanos no começo do século passado estava ficando na mão dos jovens brancos.
 
Realmente, trata-se de um fenômeno mundial que pode ser visto aqui no Brasil, onde há uma avalanche de blueseiros branquelos fazendo música. Tail Dragger colocou o dedo na ferida.
 
Tive a manha de viajar para um festival em Poços de Caldas (MG) para assistir Tail Dragger, Henry Gray e Bob Corritone. E também tive o cuidado de agendar entrevistas com cada um dos veteranos, mas a produção do festival fez de tudo para dificultar e as entrevistas acabaram não acontecendo.

E nem vão acontecer, Henry Gray morreu em 17 de fevereiro de 2020; Tail Dragger morreu em 4 de setembro último, a 26 dias de completar 83 anos. Produtores que querem aparecer mais do que os artistas, vocês são uns otários. Perdemos a chance de fazer um registro histórico.
 
Tail Dragger, que ganhou esse apelido por sempre chegar atrasado aos shows do grande Howlin Wolf, com quem atuou por algum tempo, teve uma vida agitada. Ele chegou a casar seis vezes, deixando uma penca de filhos no mundo. Em 1993 foi condenado por assassinato do bluesman Boston Blackie. A treta foi por causa de grana. 

Tail Dragger alegou legítima defesa, contou que Blackie puxou uma faca ao cobrar um dinheiio que ele lhe devia. Mesmo assim, foi condenado a 17 meses de prisão por assassinato em segundo grau.

Gravou discos como "Stop Lyin' Live", "Rooster's Lounge", 'My Head Is Bold - Live At Vern's Friendly Lounge", lançados pela Delmark Records. E ainda gravou a parceria com o gaitista Bob Corritone, lançado em CD em 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário