A banda de rock que adora celebrar o prazer quer fazer história em São Paulo. São mais de três décadas nos palcos e as Velhas Virgens, de São Paulo, superou a pandemia de concid-19 e problemas internos para driblar o fim das atividades para criar o seu próprio reality show musical.
Ao vivo, durante uma apresentação no Carioca Club, na zona oeste de São Paulo, a banda vai escolher a sua nova vocalista na sexta-feira, 22 de setembro. A diferença é que o público até poderá opinar, mas que decidirá será a banda, antes do bis.
Tem sido assim a trajetória inusitada da inusitada banda de rock paulistana liderada pelo versátil e indestrutível vocalista Paulão de Carvalho, que ataca também de radialista, escritor e muitas outras coisas - quase foi repórter do finado programa CQC, da TV Bandeirantes.
"O momento de querer parar a banda já passou. Foi um período antes da covid-19, as coisas mudaram e a formação da banda mudou. Ficou mais forte. A alegria de fazer rock voltou", disse o cantor em entrevista exclusiva ao Combate Rock "O rock está no underground, mas está forte."
A vocalista Juliana Kosso anunciou há algum tempo que pretendia parar com os shows por conta de atividades paralelas que tomaram proporções maiores principalmente durante a pandemia, atividades ligadas á psicologia e terapias comportamentais. Depois de 15 anos, a banda se viu diante um desafio.
"A Juliana tem o espírito roqueiro e o da banda. Ela entende a mensagem e curte o que fazemos, por mais que tenhamos algumas músicas com temática mais escrachada", diz Paulão. "Queremos ver se encontramos alguém siga essa tradição."
A escolha da nova vocalista ao vivo, diante da plateia, é tão inusitada que pode, inclusive, não acontecer. "Recebemos 'candidaturas' do Brasil inteiro e selecionamos três para a final. Na última parte do show, cada uma delas vai cantar três canções nossas. No intervalo para o bis, iremos escolher a melhor delas. Ou então decidir que nenhuma delas se encaixa e deixar a decisão para depois."
Por mais arriscada que essa fórmula seja, é bem a cara da banda Velhas Virgens, aquela que ousou glorificar o bar como um dos locais de convivência mais importantes da humanidade - "O Bar Me Chama", o mais recente CD, foi indicado como finalista do Grammy Latino na categoria rock cantando em português anos atrás.
Também é uma banda corajosa ao enfrentar o moralismo de todo o tipo que predomina no Brasil desde sempre, inclusive no deboche ao politicamente correto. Uma das músicas escolhidas para a definição da nova vocalista é "Abre Essas Pernas" (mais explícito do que isso...), que será tocada três vezes no "concurso".
E também há a impagável "Só Quero Te Comer" (mais explícito do que isso...), que é uma canção escrachada, mas menos ofensiva do que muita gente acha - claro que quem fala isso nunc a ouviu ou prestou a atenção nela. Quer coisa mais rock and roll do que isso?
"Mesmo no underground o rock tem esse poder de movimentar e e chacoalhar. Tem de recuperar essa verve de afrontar, de ter atitude e de se contrapor a certas coisas. E tenho orgulho de dizer que minha banda, de certa forma, conseguiu fazer isso várias vezes", explica Paulão.
Esse é um dos motes, aliás, que ele defende para atrair o público jovem atual, que anda meio distante do gênero musical e se ligando em outras manifestações artísticas. E joga nas costas dos "veteranos" a responsabilidade de renovar o interesse pelo rock.
"Cabe a nós, mais velhos [ele tem 58 anos] apresentar o rock e as coisas boas aos moleques de hoje", prega o vocalista. "Aliás, não só rock, mas tudo o que tem qualidade nas artes, na literatura. Acho que rock clássico é um termo complicado, prefiro 'rock bom'. A partir daí as coisas caminham com naturalidade."
Ele comemora a constatação de que a procura de crianças e adolescentes por escolas de música estritamente destinadas ao rock esteja aumentando - as franquias School of Rock e Academia do Rock estão em franca expansão pelo Brasil. "A notícia é boa. Que a molecada aprenda a tocar e também a mergulhar no espírito do gênero musical."
Sobre a longevidade de uma banda underground em um país dominado por sertanejos e pagodes de qualidade duvidosa, Paulão de Carvalho reconhece que s Velhas Virgens tem um diferencial de palco e de canções que a destaca da concorrência.
Sempre houve bandas "engraçadinhas", com maior ou menor grau de escracho e humor nas letras, mas as músicas da banda de Paulão apostava e apostam em um texto diferente, com altas doses de irreverência e crítica para todo mundo. Não se resumem apenas a piadas fáceis - aliás, é o que menos há na discografia da banda: piadas fáceis.
"Fico feliz quando o público reconhece essas características em nosso trabalho. É sinal de que estamos fazendo algo com alguma relevância, E certamente é um dos pilares de nossa existência e de mais de 30 anos de carreira", sintetiza o músico.
Para reforçar a aura de banda diferente e ousada, ouça as versões que a banda fez para alguns clássicos da música brasileira considerada mais brega, como "Deslizes", de Sullivan e Massadas, "Retalhos de Cetim", de Benito de Paula (com a participação do próprio na gravação da banda), "tropicália", de Caetano Veloso em uma versão pesadona à la Black Sabbath, e "Mestre Jonas", de Sá,rodrix e Guarabyra com toques de Lynyrd Skynyrd.
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