Ela não é uma unanimidade, como foi o amigo Jimi Hendrix, que morrera duas semanas antes. Mas o respeito que angariou entre críticos e músicos a colocaram no panteão dos grandes nomes da música.
Janis Joplin, a cantora que tinha um “gato esganado na garganta”, como tentou gracejar certa vez um crítico americano, se tornou um símbolo da mulher no rock’n’roll, com sua aura de liberdade, autossuficiência, poder e extraordinária capacidade de interpretar canções emotivas.
Essa imagem, cultivada por ela e por uma legião de fãs, muitas vezes foi confrontada com a alma amargurada e torturada de uma pessoa solitária e com a firme impressão de estar deslocada em todos os ambientes.
A solidão de Janis não era apenas física, era um estado de espírito, como várias vezes contaram a jornalistas seus companheiros de banda a Big Brother and Holding Company.
Parte disso ressurge em “Janis Joplin: Sua Vida, Sua Música”, da Editora Seoman. Ela morreu em razão de uma overdose de drogas e superdose de álcool, sozinha, em um motel barato da Califórnia, em 4 de outubro de 1970.
Escrita por Holly George-Warren, jornalista e uma das mais respeitadas cronistas da história da música norte-americana, a obra procura, sem buscar o escândalo, desvendar a figura humana por trás do vulcão sonoro que Janis Joplin se tornou: uma vida carregada de transgressões, quebras de paradigmas,
Frustrações amorosas e dissabores familiares, fatores que ajudaram a carregar de peso as letras e a rouquidão/emoção em sua voz.
Assim como a biografia/investigação sobre a vida de Bon Scott, de autoria do australiano Jesse Fink, Holly Warren reconstitui, em perfil minucioso e detalhado, os passos de Janis até a overdose acidental de heroína, que lhe ceifou a vida. Suas horas finais são objeto de um bom relato, em uma triste narrativa que muitos confundem com uma sequência final de suicídio.
Claro que o clímax não poderia ser superficial, e é um dos pontos altos do livro, mas a autora procurou evidenciar a presença marcante de uma mulher que se tornou, meio sem prever, uma ativista e um símbolo para algumas correntes do feminismo e do empoderamento da mulher em um momento cultural da história importantíssimo para o Ocidente.
Janis Joplin que ressurge da biografia é uma mulher atormentada e solitária, mas também um poço de rebeldia e de ojeriza ao machismo e à violência contra a mulher.
Ele é dona de grande astúcia e personalidade complexa, que rompeu regras e desafiou todas
as convenções de gênero em sua época, abrindo caminho para as mulheres poderem extravasar suas dores e revolta no cenário artístico sem serem tão oprimidas pelo universo machista existente
no meio musical, de acordo com palavras de Warren.
“Por sua influência e por seu próprio trabalho perene, Janis Joplin permanece no coração de nossa música e de nossa cultura”, afirma a autora, que nunca escondeu a sua admiração pela artista, o que eventualmente pode ter influenciado algumas avaliações sobre a trajetória de Janis.
Com os devidos descontos por conta disso, o texto faz jus à importância da cantora. Da timidez blueseira ao extravasamento folk e o mergulho na soul music e no rhythm and blues, o panorama musical foi bem abordado, com análises interessantes, ainda que nem tão profundas – e ainda bem que esse não foi o caso, tornando a leitura mais ágil.
A forma como Janis transmitia emoção, em um canto que ia da melancolia à rebeldia, era e sempre será único. Sua voz rouca, que todos conhecem, revela uma alma que sofria e buscava refúgio na heroína.
Outro fator que marcou sua vida, também retratado no livro, foi a busca incessante pelo amor. Ela que nunca foi capaz de ter um relacionamento sólido e duradouro, e dessa forma buscou uma maneira
de aliar a sua carreira com o sonho de constituir uma família. Foi um fracasso, mesmo com tão pouca idade, do qual nunca se recuperou.
De todos os textos que a cantora mereceu em português, este é o mais interessante e detalhado, com um bom equilíbrio entre interpretação e relatos objetivos. As celebrações que marcam o cinquentenário da morte de Janis Joplin no Brasil começaram bem.
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