Iggy Pop decidiu flertar com a imortalidade e escancarou suas intenções nas comemorações de seus 75 anos. Sem concessões ou qualquer tergiversação, colocou a faca nos dentes e e entregou uma declaração de guerra.
"Every Loser", seu mais recente disco, é uma pancada na cabeça de quem imaginava que o rock tem pouco a dizer nestes anos conturbados do século XXI. Ele faz rock simples, direto, quase cru, quase punk, quase pesado. E de ótima qualidade.
Sem tempo perder e sem deixar tempo para respirar, Iggy Pop passeia por um terreno que lhe é bem conhecido e domina - o rock certeiro e sem firulas, com alguma sujeira e muito sarcasmo.
São pouco mais de 37 minutos em dez músicas que resgatam o que de melhor ele costuma fazer, seja mergulhando nas raízes de seus trabalhos dos anos 70, seja buscando inspiração em na produção oitentista mais sofisticada.
Cercado de amigos da pesada, o cantor norte-americano está à vontade e faz questão de deixar explícito que curtiu casa segundo das gravações. E também mostra felicidade em colocar "Every Loser" como uma grande homenagem Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters que morreu no ano passado. Foram as últimas gravações dele.
O produtor Andrew Watt tocou guitarra e caprichou na sonoridade moderna que domina o ambiente, por mis que a inspiração maior seja a década de 1970. Apesar de jovem, tem uma experiência extraordinária ao lado do baixista Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath) na banda California Breed, que lançou apenas um disco.
No baixo, Duff McKagan, do Gun N' Roses, transmite uma solidez que as músicas rápidas e intensas requerem, em uma cama perfeita para o trabalho de Hawkins de outros dois bateristas, Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) e Travis Barker (Blink-182). Stone Gossard, guitarrista do Pearl Ja, é outro amigo que passou no estúdio para uma ajudinha ao amigo de longa data.
Passeando por alguns estilos e subestilos, Iggy fez graça e brincou com os vocais em "Comments" e em "The Rhegency", músicas simples que transbordam energia e alto astral, onde as guitarras guiam a melodia de forma intensa, especialmente na segunda. São as últimas gravações de Hawkins.
Se a balada singela "New Atlantis" surpreende pela sutileza e pelo bom gosto, o sarcasmo e a acidez de sempre reaparecem em "Neo Punk", provavelmente a melhor do disco, em "Strung Out Johnny", com seu climão embalado por teclados, e na pesada "Modern Day Ripoff", com riffs bem hard rock.
Iggy Pop é bem mais do que um sobrevivente do rolo compressor sonoro dos Stooges, no começo dos anos 70, e do pop ácido, mas classudo, dos anos 80.
Não é de hoje que ele responde por alguns dos melhores trabalhos roqueiros deste século, mas "Every Loser" é o ápice de sua trajetória deste século. Em forma e esbanjando vontade, o cantor setentão faz questão den dizer que ainda é bastate relevante.
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