A mais poderosa máquina de fritar cérebros. Era assim que um saudoso jornalista brasileiro amante do classic rock classificava o Thin Lizzy, poderoso (então) quarteto irlandês de hard rock dos anos 70. "Fiquei uns cinco minutos conversando com a estátua dele, em Dublin, e disse obrigado umas dez vezes. Ninguém entendeu nada."
Para muita gente é incompreensível a devoção que a banda liderada por um irlandês negro nascido na Inglaterra e filho de pai brasileiro despertava. Era a paixão? A fúria? A malícia? A malandragem? O suingue bluesy? O peso? O baixo pulsante e energético?
Tudo isso por de ser resumido em "Live and Dangerous", o primeiro ao vivo do Thin Lizzy, lançado em 1978 e que costuma dividir a preferência como o melhor disco ao vivo de todos os tempos no rock com "Live at Leeds", de The Who, e "Made in Japan", do Deep Purple.
Nos 45 anos que marcam o lançamento do estupendo álbum, os curadores do espólio da banda colocam no mercado mais uma edição de luxo - na verdade, superluxuosa, com o disco ampliado da edição de 2018 e mais seis shows, na íntegra, que serviram de base para a edição original.
São simplesmente oito CDs com algumas das melhores performances que a banda fez, tocando furiosamente em Londres em Toronto, no Canadá, em apresentações gravadas em 1977.
A turnê era de suporte aos LPs "Jailbreak", "Johnny The Fox" e "Bad Reputation", uma trinca que representa a melhor fase da banda fundada no final de 1969 em Dublin pelo baixista Phil Lynott.
Nascido em Birmingham, na Inglaterra, filho de pai negro que a mãe jurava ser brasileiro, Lynott chegou à capital irlandesa pouco depois de chegar ao mundo. Era uma pessoa do mundo, mas poucos nativos conseguiram incorporar a alma gaélica com tanta intensidade quanto aquele ser humano gentil, delicado e dedicado. Não é á toa que ganhou uma estátua em um importante cruzamento em Dublin, algo que provavelmente nem os integrantes do U2 conseguirão.
Como um quarteto, o Thin Lizzy era uma potência sonora de peso e melodia embalada por um baixo vigoroso, gordo, grudento e pesado. Era o auge de uma trajetória acidentada, mas pavimentada com muito esforço e talento.
As tensas relações entre os membros - Lynott, os guitarristas Brian Robertson e Scott Gorham e o baterista Brian Downey - ainda eram suportáveis e ajudaram a incendiar as concorridíssimas apresentações. Esse é o ambiente registrado em todos os oito CDs que compõem essa maravilhosa caixa.
A versão expandida de 2018, com 75 minutos, já era maravilhosa e ampliava o conceito de como fazer um show explosivo e demolidor sem grandes recursos ou equipamentos extraordinários. "live and Dangerous" reunia o que de melhor o Thin Lizzy tinha a oferecer, e a nova edição com múltiplos CDs escancara a qualidade e a competência do então quarteto.
A dupla de guitarristas estava muito entrosada no esquema "guitarras gêmeas", levando adiante o conceito "criado" pelo Wishbone Ash, enquanto que Phil Lynott estava na melhor forma tocando e cantando, mesmo enfiando o pé ma jaca, bebendo todas.
A versão expandida de 2018, com 75 minutos, já era maravilhosa e ampliava o conceito de como fazer um show explosivo e demolidor sem grandes recursos ou equipamentos extraordinários. "live and Dangerous" reunia o que de melhor o Thin Lizzy tinha a oferecer, e a nova edição com múltiplos CDs escancara a qualidade e a competência do então quarteto.
A dupla de guitarristas estava muito entrosada no esquema "guitarras gêmeas", levando adiante o conceito "criado" pelo Wishbone Ash, enquanto que Phil Lynott estava na melhor forma tocando e cantando, mesmo enfiando o pé ma jaca, bebendo todas.
"Live And Dangerous" vendeu muito bem na Europa, conquistando o segundo lugar das paradas britânicas e irlandesas e o 27° dos charts suecos. Nos Estados Unidos, o álbum obteve uma modesta, porém significante 84ª posição no top da Billboard.
Destaques? Todas as canções. São hinos eternos do rock, em performances tão arrebatadoras que nunca mais a banda conseguiria repeti-las na mesma intensidade. Como não se emocionar com a dramática e contundente balada "Don't Believe Word"? Como ficar parado diante do suingue de "Dancing in the Moolight"?
E tem em várias doses e de vários formatos o hino "The Boys Are Back in Town", a balada de cortar o coração "Still In Love With You", a torturante e pesada "Suicide", a etérea e pesada "Emerald"...
O Thn Lizzy pode ser considerada a banda de rock mais injustiçada dependendo do ponto de vista. Teve sucesso, mas estava destinada a ser gigante como o Queen, mas o megassucesso não veio, e o desapontamento de Lynott foi canalizado para as drogas e bebida.
O dinheiro não entrou como deveria, o que tinha sido guardado foi embora e, com isso, o casamento naufragou, afastando-o das duas filhas pequenas. Morando de favor às vezes, decidiu acabar com banda em 1983 em um show lendário que reuniu todos os ex-integrantes em Londres.
Tentou nova empreitada com a banda Grand Slam e uma rápida carreira solo, mas nada evoluiu. De repente, Phil Lynott era um dinossauro a ser repelido e rejeitado, uma figura difícil que evocava um passado e a ser mantido lá, no passado.
Quando foi internado ás pressas na última semana de 1985, em Londres, esboçava a ressurreição do Thin Lizzy. Não deu tempo: os abusos de álcool e drogas obraram o preço ele morreu em 4 de janeiro de 1986. A grande caixa de oito CDs de "Live and Dangerous" é o melhor tributo que o mestre Lynott poderia receber na terceira década deste século.
É difícil destacar alguma faixa em particular, pois “Live And Dangerous” é perfeito. Contudo, a dobradinha “Cowboy Song”/”The Boys Are Back In Town”, as pancadas “Emerald” e “Suicide”, a excelente “Don’t Believe A Word” e as belas “Still In Love With You” e “Dancing in the Moonlight (It’s Caught Me in Its Spotlight)” merecem atenção especial.
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