A surpresa foi grande quando a vida de Silvio Almeida começou a ser esquadrinhada a partir do momento em que foi indicado ministro dos Direitos Humanos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Currículo impecável, com mestrados e graduações em Direito e Filosofia, Almeida também é escritor, autor do importante livro "Racismo Estrutural", que o elevou a um patamar onde estão os principis intelectuais brasileiros.
Quem diria que o professor universitário negro, filho e neto de pessoas ligadas ao samba, também fosse um requisitado professor de guitarra e aficionado por bandas de heavy metal com muito groove, como Living Colour, Body Count, Suicidal Tendencies e Infectious Grooves?
Sua nomeação é um dos maiores acertos até agora do governo Lula - fará uma dobradinha sensacional com Margareth Menezes, da Cultura, cravando no destrutivo e tóxico governo do nefasto Jair Bolsonaro. que diferença: sai a medieval, desumana e indigente intelectual Damares Alves e entra o afável, progressista e inteligente Silvio Almeida.
É raro observar políticos e aspirantes a políticos demonstrarem interesse musical além do óbvio. Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda e ex-prefeito de São Paulo, é um guitarrista razoável e bom conhecedor da obra dos Beatles. Rogério Rosso, ex-deputado federal e ex-governador do Distrito Federal, tem um estúdio requisitado em uma de suas propriedades, toca guitarra e baixo e é um aficionado do rock progressivo.
Em conversa com Mano Brown (Racionais MC's) no podcast "Mano a Mano", almeida comentou o impacto que a música "Homem na Estrada", dos Racionais, teve em sua vida, assim como o surgimento, na mesma época do quarteto de hard rock Living Colour, que é fantástico.
Foi ali que o jovem aspirante a músico se sentiu representado dentro do rock, observando o trabalho intenso dos negros do Living Colour dentro de um gênero que se supunha branco desde sempre.
Com os Racionais, Almeida percebeu que poderia aliar os dois mundos, que não eram excludentes, tanto que sua banda de bar criou uma versão pesada e cheia de groove roqueiro para "Homem na Estrada".
Também se sentiu representado com as letras fortes e contundentes do Living Colour, políticas e de protesto, mas com poesia e sofisticação. E também se sentiu atraído pela violência lírica e sonora do Body Count, banda de heavy metal quase puro originada no rap - seu líder, Ice-T, era um famoso rapper e ator de séries policiais nos anos 90, mas sempre foi um apaixonado por heavy metal, com várias participações especiais em trabalhos diversos.
Curiosamente, para o pacifista e comedido democrata intelectual, o Body Count representava uma quebra de paradigma em relação ao discurso. Ice-T transferiu as letras violentas e diretas do mundo violento dos guetos e subúrbios negros americanos para o metal e o choque foi imenso. Muitos palavrões, narrativas de vidas criminosas e incitação direta ao crime, como na explícita "Cop Killer" (assassino de policiais), música banida de rádios e TVs.
Uma banda única, que impressionava pelo peso e pelos vocais irados e demolidores. E diversos aspectos, o metal nunca tinha sido tão pesado e violento, tão contundente na mensagem e tão engajado politicamente. Ice-T não media palavras e "metralhava" todo mundo com sua língua ferina. Dá para imaginar o sereno professor universitário Silvio Almeida curtindo Body Count e tocando "Cop Killer" ou "Body Count in the House"?
Ecletismo, integridade e bagagem técnica impecável são as marcas da área social do ministério convocado por Lula. Se era diversidade que todos queriam no alto escalão da União, então tivemos, com direito a índios, negros, cantoras baianas, metaleiros e muito mais.
Não há como não sorrir quando virmos Almeida nas reuniões ministeriais e imaginar todo nós ouvindo no talo "Carnivore", do Body Count, ou "Bi" ou "Auslander", do Living Colour, ou qualquer pancada da banda negra Bad Brains. Lula certamente aprovaria.
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