segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Genocídio indígena: os espelhos continuam mostrando um mondo muito doente

 "Eles invadiram nossas terras, devastaram nossa comida e nos expulsaram. E ainda quiseram nos culpar pelas tragédias por mais de cem anos." Este é um trecho dos mais contundentes do livro "Enterrem Meu Coração na Curva do Rio", de Dee Brown, escritor e funcionário público americano que se tornou um do mais respeitados pesquisadores da cultura indígena norte-americana no século XX.

Nunca um escritor americano tinha mergulhado tão fundo no genocídio nativo nos Estados Unidos, o que lhe causou transtornos e ódios eternos de políticos conservadores e militares de todas as patentes. Além de corajoso, Brown incomodava porque era índio, descendentes de tribos sioux.

Bandas de rock de origem indígena usaram algumas das ideias de Brown em suas músicas, como o Blackfoot e a Indigenous. 

No Brasil, a gravíssima e criminosa crise ianomâmi de 2023 se encaixa perfeitamente na premonitória canção "Índios", da Legião Urbana, onde os indígenas "receberam espelho e viram um mundo doente", além de "serem atacados por serem inocentes!"

Os jornalistas Sonia Bridi e Paulo Zero, da TV Globo, estiveram na terra ianomâmi e produziram uma devastadora reportagem sobre a fome dos índios e o "projeto genocida" de extinguir aquela e outras etnias dos povos originários.

 Um projeto de cunho fascista e higienista gestado a partir do golpe parlamentar contra a ex-presidente Dilma Rousseff e que seguiu acelerado nos governos Michel Temer e, principalmente, do nefasto Jair Bolsonaro. Sonia Bridi escreveu isso com todas as letras nas redes sociais. O impacto foi tão grande que a tragédia tinha claros sinais de genocídio orquestrado como se fosse um projeto de "extinção".

A foto que ilustra esse texto ´mostra Sonia carregando um bebê ianomâmi desnutrido em um momento em que todos os braços era necessários para embarcar os doentes em helicópteros e, depois, desembarcá-los e levá-los ao hospital

A foto é uma das mais impactantes e devastadoras de todas as tragédias que se abatem sobre esse país infeliz e corrupto por natureza. Explicita uma carga imensa de solidariedade, de devoção aos direitos humanos e até de redenção diante do crime humanitário. 

No entanto, por outro lado, explicita como a nossa sociedade é cruel, insensível e caprichosa ao ignorar deliberadamente políticas higienistas e desumanas, eivadas de corrupção e de apoio ao crime organizado.

O semblante do rosto de Sonia Bridi traduz toda a aflição e desespero que a crise humanitária em Roraima está provocando no mundo inteiro. A expressão do rosto da jornalista com mi de 45 anos de carreira explicita a agonia de alguém que jamais tinha visto algo parecido em terras brasileiras.

É um fracasso como sociedade e como nação aspirante a um mundo desenvolvido que parece cada vez mais distante à medida que o século XXI avança. 

A ambição de permanecer entre as dez maiores economias do mundo continua, mas a fome insiste em atrapalhar os planos de sucessivos governos federais, entre os quais o recém-empossado, de Luiz Inácio Lula da Silva.

O retrocesso moral, ético, ideológico e administrativo nos quatro anos de Jair Bolsonaro é tão absurdo e asqueroso que serão necessárias pelo menos duas gerações de brasileiros para consertar os estragos que o golpe parlamentar de 2016 provocou. 

A tragédia ianomâmi é um crime hediondo contra a humanidade. Sem anistia! Sem perdão!

P.S.: Nunca o som de bandas brasileiras de metal com temática indígena, como Arandu Arakuaa e Miasthenia  foi tão necessário como agora.

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