Uma cantora de blues encharcada de uísque, com voz rasgada e interpretação visceral e torturada por inúmeros fantasmas do passado e do presente. Não tinha como dar errado. E a branquela Janis Joplin explodiu como a maior cantora que o rock já produziu.
No mês e ano em que a moça faria 80 anos, o mundo da música ainda busca, mesmo que de forma inconsciente, uma mulher que ao menos belisque o monumental talento que ela tinha.
Antes de continuarmos, é bom evitar qualquer tipo de comparação com Amy Winehouse. Ambas morreram aos 27 anos de idade e tomavam todas, mas paremos por aqui...
Janis era a dama suja do blues e do rock, como bem definiu um jornalista brasileiro anos atrás. Viveu nos estremos e nos limites e ofereceu o que mais tinha para dar: paixão e desespero. Ela amava demais, e cobrava demais. Queria demais. Não teve tempo de desfrutar eventuais benefícios de uma vida louca, rápida e intensa. Pelo menos conseguiu isso - uma vida intensa.
Para ela, era tudo ou nada, quase que emulando o comportamento de outra diva mundial, a brasileira Elis Regina, morta em 1982. Janis Joplin entregava muito no palco e se entregava de tal forma e com tal paixão que simplesmente fazia o tempo parar.
Como não se emocionar com o desespero com que cantava "Piece of My Heart"? Ou a devoção que imprimia em "Summertime"? Ou no sarcasmo e zoeira na mítica "Mercedes-Benz"?
Dá para tentar imaginar a voz blueseira por excelência hoje, aos 80 anos? Teria tido uma carreira ainda mais brilhante e assombrosa, como a de Rita Lee, or exemplo? Ou teria sucumbido de outras formas e uma indústria desumana e especializada em triturar artistas com hipersensibilidade?
Com a Big Brother & Holding Company ou a Kozmic Blues, bandas que a acompanharam na curta carreira, desferir diversas pancadas e estabeleceu um novo padrão artístico e musical para as mulheres dentro da música pop, da mesma maneira que Bille Holiday e Big Mama Thornton mudaram tudo no jazz e no blues.
Sem Janis e sua independência e rebeldia não haveria o rock empoderado e com ares feministas de Suzi Quatro e a explosão de força, fúria e talento da americana Debbie Harry, do Blondie, da escocesa Maggie Bell, do Stone the Crow, e da musa punk Patti Smith.
Foi a voz poderosa, rouca e rasgada de Janis Joplin que redefiniu o papel feminino dentro do rock e do blues. Era a antítese pop de cantoras como Dusty Springfield, Lulu e P.P. Arnold, para não falar o grandes conjuntos vocais como The Supremes, The Rondelles e Martha and the Vandellas. Era hora de incomodar o mundo masculino machista e quase misógino e o furacão Janis não perdoou: atropelou todo mundo.
Enquanto o poder alucinado e alucinógeno de Grace Slick, cantora do Jefferson Airplane, perdia vigor no final da década de 1960, Janis Joplin encantava empurrava o mundo da música pop por outros caminhos. Driblava a solidão e os fantasmas internos com o poder do blues.
Morta aos 27 anos, em outubro de 1970, a cantora texana que explodiu na Califórnia se tornou um símbolo de muita coisa e ainda faz sonhar. Sua trajetória musical ímpar e estupenda reforça a crença muito difundida ainda em vida por Amy Winehouse: a vida sem a voz de Janis seria um erro.
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