No suntuoso palácio da música, aquele canto de voz aveludada e angelical abrilhantava o que já era estupendo. Ao lado do antigo parceiro Graham Nash, deu cores diferentes a um grande clássico do Pink Floyd em uma noite antológica.
Foi lá, no Royal Albert Hall em 2006, que David Crosby foi "apresentado" a uma então nova geração de apreciadores de rock, em um concerto do ex-guitarrista do Pink Floyd David Gilmour, que se transformaria no DVD "Remember That Night". Aquela voz abençoada era uma novidade para muita gente.
De vida atribulada e carreira um pouco errática, Crosby não teve o reconhecimento que merecia, já que era um dos gigantes da música pop e um dos retratos do chamado fol rock, que praticamente criou ao lado de amigos e nem tão amigos assim.
Sua morte nesta quinta-feira (19), aos 81 anos de idade, jogou luz em um personagem fascinante, que ajudou aa tornar o rock mais palatável e, ao mesmo tempo, mais contundente na década de 1960, quando o mundo parecia em ebulição e a criatividade era a regra.
Crosby era polêmico e não pensava muito no que falava. Tanto que, em uma de suas últimas entrevistas, dizia-se amargurado e arrependido de algumas declarações.
O arrependimento maior eram as críticas que havia fito a uma namorada de Neil Young, amigo de longa data. Ele nem se lembrava direito o que tinha falado da atriz Daryl Hanna, o que causou o rompimento definitivo entre os antigos colegas. "Já liguei e mandei e-mails, mas ele se recusa a responder."
Músico importante do incipiente cenário folk norte-americano no começo dos anos 60, já era experiente quando integrou os Byrds por volta de 1964 e percebeu o potencial de uma nova cena que surgia embalada pela música hipnótica e visceral de Bob Dylan
Logo o chamado folk rock da banda transcendia os guetos do gênero musical e dominava a as paradas mundiais com "Mr. Tamburine Man", de Dylan, e alguns outros clássicos que os Byrds emplacaram nos três anos seguintes. com a liderança do enérgico guitarrista Roger McGuinn e a força moral de Crosby.
Se os Byrds passavam uma imagem idílica de mundo quase perfeito, enquanto as vidas pessoais e os relacionamentos entre os integrantes se desintegravam. Era a gênese da mudança que estabeleceria definitivamente as bases do folk rock por excelência: o trio Crosby, Stills & Nash, que logo viraria Crosby, Stills, Nash & Young.
Foi na mansão de Peter Tork, o baixista dos Monkees, na Califórnia, que o trio se formou e começou a ensaiar. Tork era um músico folk por excelência e esperava integrar o novo grupo, mas nunca foi convidado.
Crosby, Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e o inglês Graham Nash (ex-The Hollies) causaram grande impacto quando lançaram o primeiro disco e a chegada de Neil Young amplificou o barulho, principalmente depois do festival de Woodstock e do ótimo álbum "Deja Vu".
Astros consagrados nos anos 70, o quarteto teve vida efêmera e deixou de ser a prioridade, com cada um engatando suas carreiras solo e outros projetos, entre eles alguns retornos de Crosby, Stills & Nash e, às vezes, somente somente Crosby & Nash.
Excelente compositor e um competente produtor, David Crosby lançou discos muito bons a partir dos anos 80, mas foi o que ficou mais mais marcado como "a voz" de Crosby, Stills, Nash & Young", ou seja, com a imagem indelevelmente atrelada ao grupo.
No entanto, isso nunca o incomodou ou interferiu no prestígio que adquiriu ao longo de de 60 anos de carreira. Se era desbocado e falastrão, ao mesmo tempo era querido e tido como uma pessoa afável e generosa, especialmente em relação a artistas novatos ou em ascensão que o procuravam em busca de uma bênção.
Crosby deu uma "cara" ao folk rock e ofereceu um pouco de delicadeza e sofisticação à música pop. O amigo Bob Dylan sempre terá ma dívida eterna com ele e os Byrds por conta da explosão do subgênero nos anos 60.
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