Bandas veteranas de prog metal não costumam errar, embora raramente, nos últimos tempos, tenham se arriscado em terrenos inexplorados. No entanto, a pandemia de covid-19 e os lockdowns atiçaram as verves dos compositores, "contaminando" até mesmo a banda thrash Megadeth, que envereda por caminhos interessantes no mais recente disco.
Os ingleses do Threshold e os suecos do Evergrey buscaram olhar para a frente e lançaram bons discos, repletos de experimentações e abusando de alguns clichês do subgênero - ainda bem.
- Dave Mustaine, o guitarrista, vocalista e líder do Megadeth, nunca foi fã de rock progressivo, e está tendo muita dificuldade em descrever e explicar como o álbum mais recente, "The Sick, The Dying... and the Dead!" adquiriu tantas características do prog metal. Será culpa d o outro guitarrista, o brasileiro Kiko Loureiro (ex-Angra)?
É o segundo disco com a participação de Kiko, sendo o primeiro em que participa desde o começo de todo o processo. O som apresenta mudanças em relação ao que estivemos sempre acostumados, e o resultado é muito bom.
Contando a história do mascote Vic Rattlehead, o álbum é pesado, rápido, violento e bem diversificado, em que as guitarras predominam de forma ainda mais do que em em "Dystopia", o disco anterior.
A fase é boa, e a banda está respondendo como quase nunca ocorreu - Mustaine tem um time entrosado e renovado, com Kiko, o belga Dirk Verbeuren na bateria e o americano James Lomenzo no baixo.
A demissão do antigo companheiro Dave Ellefson (baixo) parece não ter afetado as gravações durante a pandemia de covid-19. Steve DiGiorgio gravou o álbum, e quem foi efetivado no instrumento foi Lomenzo, velho camarada de Mustaine e nome forte do metal norte-americano.
É um disco poderoso, que tem uma porrada em "Night Stalkers", com a participação de Ice-T (rapper que lidera a banda de metal Body Count) e um trabalho de guitarras que eleva o nívee Hl do que a banda sempre fez.
"Life in Hell" e "Killing Time" resgatam um pouco do Megadeth antigo, mas rápido e thrash, enquanto que a faixa-título dá o tom progressivo que permeia todo o disco. Dá para dizer que é uma "continuação" natural de "Dystopia", com a band soando mais orgânica e interessante.
Ouça também "We'll Be Back" e "Dogs of Chernobyl"m canções muito boas em que a banda se permite explorar novos caminhos melódicos sem deixar o peso de lado.
- "Dividing Lines" não é um álbum fácil de ouvir, o que é uma especialidade da banda inglesa de metal progressivo Threshold. Não se trata de de um cabecismo deliberado que faz questão de dificultar as coisas, mas um conceito bem definido de som ambicioso e com lastro, assim como fazem os contemporâneos/conterrâneos do Arena, que também lançaram álbum em 2022.
A trajetória da banda inglesa é acidentada, mas a perseverança é outra de suas marcas. Sempre fez parte do movimento neoprogressivo dos anos 80/90, mas sempre foi mais metal do que prog.
Quando Mac saiu - Andrew McDermott, icônico vocalista, morto em 2011 -, logo no começo da década de 2000, o som mudou, e a banda se tornou mais acessível.
O mais recente trabalho está menos pesado do que os anteriores, e as músicas enveredam por um caminho mais pop, com a quase ausência de teclados proeminentes e com guitarras que buscaram timbres que combinam mais com as emissoras de rádio - como se as emissoras de rádio ainda se interessassem por rock no mundo, ainda mais quando é bem mais bem elaborado...
Assim como o Arena contou um novo vocalista no novo disco - Damian Wilson, que já cantou com rick Wakeman e esteve com o Threshold até 2017 - , banda reestreou Glynn Morgan em 'Dividing Lines". Seu jeito de cantar e sua postura lembram muito o falecido Mac, o que facilitou a identificação de todos os púbicos que apreciam a banda. Ele passou pela banda, anos anos 90, ao longo dos 34 anos de carreira.
Segundo declarou o guitarrista Karl Groom, "Dividing Lines" é mais sombrio do que o álbum anterior, "Legend of the Shires", mas representa bem o que é a banda á beira dos 35 anos de trajetória. "É o nosso cartão de visitas para iniciar a celebração tão importante."
Groom é a cabeça pensante e sua guitarra conduz tudo. "Haunted" é uma pedrada roqueira que está mais para o hard rock, com um vocal forte e arranjos mais simples. É um Threshold bem diferente do que nos acostumamos, mas é muito bom.
Para o lado oposto, "Defence Condition" é uma pérola progressiva, com guitarras diversificadas e mudanças de ritmo que at é tiram o fôlego. Apesar de não ter um clima épico, é o encerramento perfeito, contrastado com o ambiente sombrio que permeia a obra.
"Let It Burn" e "King of Nothing" trazem um clima mais político e de protesto, com letras muito legais que acrescentam um colorido diferente aos habituais temas mais introspectivos e filosóficos.
"Silenced" e "Lost Along the Way" representam um aceno ao passado, com mais peso e vocais que remontam a um hard mais potente, enquanto que "Complex" investe mais em temas mais experimentais, ainda que Morgan segure as pontas e não permita voo mais desconexos.
Threshold é uma daquelas bandas que não decepcionam e entregam sempre algo bom e de qualidade. Mesmo sem avançar no experimentalismo ou ousar como o já citado Arena, dignifica a tradição do neoprog britânico.
- Os suecos do Evergrey ressurgem da pandemia com um grande disco. "A Heartless Portrait (The Orphean Testament)" revigora a carreira de uma banda que parecia ter esgotado a fórmula de um metal progressivo, denso, claustrofóbico e cheio de mensagens conceituais.
Assim como ótimos lançamentos do subgênero em 2022 - Arena e Threshold -, não é um álbum fácil de ouvir e digerir. É muita informação de qualidade, em todos os sentidos, mas desbravar a obra é impactante e recompensador.
O trabalho já vale somente pelo trabalho de guitarras, com muito peso e afinações baixas características do Evergrey. Os climas criados, além de certas ambientações, deixam tudo mais sofisticado e instigante.
O trabalho exemplar começa na faixa de abertura,"Save Us", com as vozes de centenas de fãs que foram convidados a enviar gravações de suas vozes para posteriormente fornecer os vocais do grupo para a faixa – deixando sua marca eterna na história do grupo.
São dez faixas tão boas que destacar algumas é deixar outras muito boas de fora. A faixa-título, nomeada apenas com o complemento, "Orphean Testament", é um bom resumo da alta qualidade do álbum, com muito peso em cima de uma base melódica cativante e dramática.
"Heartless" segue na mesma linha, com bastante contundência, enquanto que "Reawakning" e "Blindfolded" são mais cadenciadas e com ótimos riffs de guitarra.
Comemorando mais de 25 anos de carreira, o Evergrey é liderado pelo fundador, vocalista e guitarrista Tom S. Englund. O novo álbum foi gravado no Top Floor Studios Gothenburg, projetado por Jakob Herman e produzido pelo próprio Englund e também por Jonas Ekdahl, com mixagem e masterização de Jacob Hansen, no Hansen Studios (Volbeat, Destruction, Epica e muito mais). A
A capa do álbum foi criada por Giannis Nakos, na Remedy Art Design. Nakos é conhecido por criar obras de arte para artistas como Oceans of Slumber, Amaranthe, The Agonist e The Crown, bem como merchandisings para Morbid Angel, Suffocation ou Cryptopsy.
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