A ideia é antiga, mas de vez em quando surge como uma novidade sonora, seja com releituras de alguns clássicos, como costumam fazer Velhas Virgens e Blues Etílicos, ou acrescentando um molho diferente, como recentemente fizeram Nasi, o vocalista do Ira!, e Roberto Frejat, ex-guitarrista e vocalista do Barão Vermelho.
Depois de exaustivas turnês abarrotadas do Ira! nos últimos dois anos em vários formatos, Nasi conseguiu a pausa necessária para tirar da gaveta um projeto há muito acalentado: transformar em blues, soul e funk (o americano dos anos 70) grandes músicas da MPB que claramente compreendem uma roupagem blueseira;
Ele começou com uma música do parceiro Edgard Scandurra, "Dias de Luta", clássico do Ira!, talvez o maior épico da banda e a mais emblemática que lançaram em sua primeira fase. O rock vigoroso e marcial se transforma em um blues contagiante com viés funk graças à maravilhosa guitarra de Igor Prado, um dos bluesmen nacionais mais reconhecidos no exterior. Ficou bem interessante.
Era o aperitivo necessário ara atiçar o interesse para o álbum "Rocksoulblues", recheado de boas versões e ideias interessantes.
A obra traz uma versão hilária e curiosa para "O Caveira", de martinho da Vila, um samba meio diferente em sua origem e que virou um misto de cote e country music com a participação muito especial da cantora de blues Nanda Moura.O clima de faroeste é o molho que torna tudo muito legal. Era o sinal de que a brincadeira era muito séria.
O rock setentista dá as caras no pop gostoso de "Devolva os Meus LPs", clássico de Zé Rodrix e de Liv Robert, com uma levada jazzística embalada por um naipe de sopros vigoroso.
E tem também "Não Vá Me Machucar", uma versão direta de um clássico americano dos anos 1920 - "Rollin1 and Tumblin'" - transformado em um blues rock encharcado de feeling e batidas certeira de rock
O blues à la B.B. King "O Que Você Quer Apostar" é a melhor do disco, outra encharcada de blues e uma seção de metais estrondosa e maravilhosa, que casa perfeitamente com a guitarra de Igor Prado e a interpretação vigorosa de Nasi
Isso é algo que ocorre também na roqueira e quase punk "Rosa Selvagem"- versão (escrita pelo próprio Nasi) de Ramblin' rose (Marijohn Wilkin, Fred Burch e Obey Wilson, 1967). A gravação feita pela banda norte-americana de rock MC5 em 1969 – dois anos após o registro fonográfico original do cantor Jerry Lee Lewis (1935 – 2022).
Nasi vai muito bem também na versão de "Não Te Quero Santa", famosa na voz de Erasmo Carlos e de autoria tríplice - Sérgio Fayne, Saulo Nunes e Vitor Martins, em 1971. Com uma voz mais sóbria - no sentido de seriedade-, o cantor dá um show de feeling em um blues de viés pop e romântico.
Se Nasi foi muito bem em "Rocsoulblues", Roberto Frejat está indo pelo mesmo caminho com seu novo projeto, "Frejat em Blues", que é derivado da série de shows Frejat Triom em que rearranja algumas canções i,portantes de sua carreira.
Em entrevista publicada em seu canal no YouTube, o guitarrista e vocalista explica que a ideia é garimpar canções da MPB que, em sua gênese, possam ter o blues como influência, explícita ou implícita, ou mesmo que passem o sentimento de blues sem ter uma ligação direta.
https://www.youtube.com/watch?v=TA9S0DHG9dU&list=OLAK5uy_nLEDTh7oCu4Olqd7CI7JEaS-gcEYLPSGY&index=1&pp=8AUB
É o caso de "Como 2 e 2", de Caetano Veloso, que virou um verdadeiro blues - e ficou melhor do que a original. Com uma banda afiada, não foi difícil transformar a canção e melhorá-la, com uma bela interpretação do músico.
"Esquinas", de Djavan, também ficou muito boa - e irreconhecível -. em que as guitarras dominam o ambiente e acrescentam um groove completamente dinâmico.
A coisa melhora ainda mais quando, ainda em clima de ensaio, a banda roca "Que Loucura", de Sergi Sampaio, quase em medley com "Pérola Negra", de Luiz Melodia, um blueseiro por excelência, na avaliação de Frejat. Assim como Nasi, Frejat domina muito bem a linguagem, do blues e consegue transportá-la com maestria para o universo do blues.
E é sempre bom lembrar a versão maravilhosa das Velhas Virgens para "Última Partida de Bilhar", de Benito de Paula, com a participação do próprio ao piano. O clássico da fossa da MPB e transforma em um bluesaço arregaçado e dolorido em clima de balada movido a guitarras penetrantes.
Mais emblemática ainda é "Retalho de Cetim", ainda mais blues e mais desesperada, também um clássico de Benito de Paula e mais ainda um simbolo da dor de cotovelo e da fossa - mais blues do que isso, impossível.
https://www.youtube.com/watch?v=HbxmAGh6JNA&list=OLAK5uy_nLEDTh7oCu4Olqd7CI7JEaS-gcEYLPSGY&index=6&pp=8AUB
https://www.youtube.com/watch?v=VkO0sRexK68&pp=ygUPZnJlamF0IGVtIGJsdWVz
https://www.youtube.com/watch?v=9oyzPqoMWhA
https://www.youtube.com/watch?v=4QioSC31HQY
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