"Sou um cantor de blues, em essência. Tinha de fazer um disco como esse." A empolgação de Nasi, vocalista da banda Ira!, se justifica ao falar de "Rocksoulblues", seu nono disco solo e seu retorno aos gêneros que sempre escutou a vida inteira.
Se o blues não é uma novidade na carreira do cantor, a forma como decidiu se expressar em novo trabalho é; Assim como outros roqueiros nacionais, revisita alguns clássicos da MPB e do cancioneiro nacional para dar a sua "versão" e transformar sambas em rhythm and blues e em música country.
Roberto Frejat, ex-guitarrista e vocalista do Barão Vermelho, por exemplo, retrabalhou e deu outra cara para "Como 2 e 2", de Caetano Veloso, que ganhou dramaticidade e peso ao virar um blues.
Nasi n]ão deixou por menos e fez de "O Caveira", um samba de Martinho da Vila dos anos 70, em um country western beirando o rockabilly em dueto com a ótima cantora e guitarrista Nanda Moura.
"Minha versão blues não ficou legal, então eu lembrei que a música tinha muita semelhança em suas divisões com a música country. O resultado me agradou bastante", disse Nasi em entrevista ao podcast/videocast Metal Musikast, em conversa com os jornalistas Tchelo Emerson e Thiago Rahal Mauro - escute e veja ao final do texto.
Segundo o cantor, foi um trabalho que levou quase um ano até ficar pronto, pois tinha de ser feito com calma. "Não era só uma questão de verter algumas canções para o blues. Era necessário entrar no clima e escolher as canções certas, mesmo aquelas em que tive de compor a letra em português."
Sobre a versão bluesy e rhythm and blues de "Dias de Luta", um dos grandes momentos do Ira!, Nasi afirma que é um exemplo de como ele enxerga o trabalho solo. "Fou um desafio interessante chegar à roupagem final, com a sonoridade que lembra B.B. King graças à genialidade do guitarrista Igor Prado. É preciso fazer algo diferente na carreira sol e esse álbum tem a minha cara."
Ele conta com orgulho algo que poderia ser preocupante, que é o fato de que, Pas vezes, perde a voz por algum tempo e que ouviu de um médico especialista que tinha voz e cordas vocais de um cantor de blues, tipo Muddy Waters e Louis Armstrong.
"Ele me disse que eu tinha todas as características de quem cantava bluies, com a tessitura de umas cordas mais grossa, que dava a rouquidão, de quem fumava e bebia. Vibrei e no ato eu disse que eu cantava blues. usei toda essa bagagem para fazer de 'Rocksoulblues' algo bacana e diferente", contou o músico.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, foi ainda mais direto ao se dizer satisfeito com o novo álbum. "Esse disco eu fiz pra mim, primeiramente. E se eu me agrado, é óbvio que muitos fãs também vão gostar. Eu quis fazer um mergulho em cada gênero que estava visitando e pude me desprender das amarras de estar à frente de uma banda fixa."
Ele volta a citar "O Caveira", que para ele é um exemplo do que pretendeu ao mergulhar novamente no blues - ele teve um projeto nos anos 90 que se chamou Nasi e Os Irmãos do Blues, que lançou três álbuns. "É um samba que gosto desde moleque, mas eu não ia gravar um samba, seria um acinte! Foi então que optamos por fazer algo meio country-western, meio deserto, [Quentin] Tarantino [diretor de cinema].".
O disco "Rocksoulblues" traz oito faixas que passeiam pelos gêneros sugeridos no título. Com exceção da inédita "Blues do Gato Preto", o álbum oferece releituras de músicas de artistas como como Zé Rodrix, Tim Maia, Erasmo Carlos, Jerry Lee Lewis, Martinho da Vila e Robert Johnson;
Inspiração
O projeto começou com uma música do parceiro Edgard Scandurra, "Dias de Luta", clássico do Ira!, talvez o maior épico da banda e a mais emblemática que lançaram em sua primeira fase. O rock vigoroso e marcial se transforma em um blues contagiante com viés funk graças à maravilhosa guitarra de Igor Prado, um dos bluesmen nacionais mais reconhecidos no exterior. Ficou bem interessante.
Era o aperitivo necessário ara atiçar o interesse para o álbum "Rocksoulblues", recheado de boas versões e ideias interessantes.
A obra traz uma versão hilária e curiosa para "O Caveira", de Martinho da Vila, um samba meio diferente em sua origem e que virou um misto de cote e country music com a participação muito especial da cantora de blues Nanda Moura.O clima de faroeste é o molho que torna tudo muito legal. Era o sinal de que a brincadeira era muito séria.
O rock setentista dá as caras no pop gostoso de "Devolva os Meus LPs", clássico de Zé Rodrix e de Liv Robert, com uma levada jazzística embalada por um naipe de sopros vigoroso.
E tem também "Não Vá Me Machucar", uma versão direta de um clássico americano dos anos 1920 - "Rollin1 and Tumblin'" - transformado em um blues rock encharcado de feeling e batidas certeira de rock
O blues à la B.B. King "O Que Você Quer Apostar" é a melhor do disco, outra encharcada de blues e uma seção de metais estrondosa e maravilhosa, que casa perfeitamente com a guitarra de Igor Prado e a interpretação vigorosa de Nasi
Isso é algo que ocorre também na roqueira e quase punk "Rosa Selvagem"- versão (escrita pelo próprio Nasi) de Ramblin' rose (Marijohn Wilkin, Fred Burch e Obey Wilson, 1967). A gravação feita pela banda norte-americana de rock MC5 em 1969 – dois anos após o registro fonográfico original do cantor Jerry Lee Lewis (1935 – 2022).
Nasi vai muito bem também na versão de "Não Te Quero Santa", famosa na voz de Erasmo Carlos e de autoria tríplice - Sérgio Fayne, Saulo Nunes e Vitor Martins, em 1971. Com uma voz mais sóbria - no sentido de seriedade-, o cantor dá um show de feeling em um blues de viés pop e romântico.
https://www.youtube.com/watch?v=EhVAtISM0II
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