quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Judas Priest, Saxon e derivados: o retorno ao passado para ter algum futuro

 O rótulo de "rock clássico" rende alguns dissabores a músicos veteranos, mas são os do heavy metal que mais se insurgem contra tal denominação. Com certa razão, eles sentem "engaiolados" em um segmento que lhes prega a pecha de "ultrapassados", como bem protestou anos atrás o cantor Ian Gillan, do Deep Purple.

É apenas um obstáculo a mais na trajetória cinquentenária de artistas relevantes que ainda lutam pela atenção de um público jovem que procura por outro tipo de som e por aqueles mais maduros que há muto deixaram de se interessar pelo heavy metal.  

Judas Priest e Saxon, instituições inglesas do rock pesado, estão com trabalhos novos em divulgação e, alguma perda de fôlego e lapsos de inspiração, agradam ao investir naquilo que sempre fizeram: rock pesado de qualidade, com timbres característicos de duas guitarras variação de temas épicos e outros mais contemporâneos. E ainda são capazes de gerar "filhotes" que não se importam em revisitar o passado,

O Judas Priest comemora 55 anos de existência e 50 do lançamento do primeiro álbum, "Rocka Rolla". O baixista Ian Hill é o único membro original e participante de todas as formações. O vocalista Rob Halfird  está há 51 anos e o guitarrista Glenn Tipton, que hoje só toca em estúdio, está a caminho de completar 53 na banda.

No álbum anterior, "Firepower", o quinteto surpreendeu ao apostar em um som mais moderno e com timbres um pouco diferentes nas guitarras, fruto da azeitada associação com o produtor Andy Sneap, que toca guitarra nos shows no lugar de Tipton, acometido pelo Mal de Parkinson.

A sonoridade assustou um pouco, e agora a parceria com o produtor parece mais azeitada no novo CD,, "Invincible Shield", que carrega bastante no peso, mas mantém os pés no território conheido do metal oitentista que fez a fama do quinteto inglês.

"Panic Attacl", o primeiro single, resgatava ecos de "Screaming for Vengeance", de 1982, que alguns consideram a obra máxima da banda. É agressiva e veloz, impactante como  o Judas costumava ser, com Rob Halfird, aos 75 anos, estourando os tímpanos e mostrando vigor invejável.

No entanto, talvez seja "Crown of Horns" que simbolize as tentativas de soar mais moderno, com mais peso ainda que antes. Os ares épicos enganam e entregam um hard'n'heavy vigoroso baseado em um riff clássico e com um refrão contagiante. É o que de melhor o Judas sempre fez.

Dá para dizer o mesmo da faixa-título, que é contagiante e coloca as guitarras gêmeas "na cara", fazendo o som pesado e vigoroso explodir nos alto-falantes. 

"The Serpent and the King" é menos esplendorosa, mas demonstra o alto poder de fogo dos guitarristas, especialmente Richie Faulkner, que substituiu à altura o mestre K.K. Downing.  

Em "Trial by Fire", o espírito de "Firepower" predomina, com a intenção diferente, embora as características de sempre estejam presentes. 

Ainda é um Judas Priest poderoso, mas que ainda busca a melhor opção entre o passado glorioso e o futuro co múltiplas escolhas. Faltou um grande épico para empurrar o álbum.

Os conterrâneos do Saxon encararam os mesmos dilemas ao lançar o pesado "Hell, Fire and Damnation" apenas um ano depois do mediano "Carpe Diem". A opção aqui foi por um som mais simples e sem avançar em termos de ousadia. 

Se "Pilgrimage" era o épico do álbum anterior, no novo fica evidente que a ideia era deixar tudo mais homogêneo, embora "Madame Guillotine" seja a frande canção, com seus riffs contagiantes e solos bem construídos. 

Se sonoramente o Saxon apresenta quase mais do mesmo, nos temas há um aprofundamento na história da Grã-Bretanha. "1066", pesada e rápida, tem vislumbres épicos ao contar a história da invasão dos normandos naquele ano - foi a última vez que um povo estrangeiro invadiu e tomou conta da Inglaterra.

Há outros momentos interessantes, mas nada memorável. A faixa-título também brinca com temas épicos, mas acaba soando mais do mesmo, parecendo-se com muitas das canções mais redentes. Não é ruim, mas soa parecida demais com o que a banda já fez.

"Witches of Salem" retoma outro tema histórico, o das bruxas nos Estados Unidos do século XVII, com um ótimo trabalho de guitarras, mas é uma canção derivada de outras que estiveram em destaque nos álbuns dos anos 90. Não estaria deslocada no ótimo "Uleash the Beast".

Quer mais história? Então tome "Kublai Kahn and The Merchants of Venice", em que o quinteto aborda as guerras e as relações comerciais com o Oriente no século XIII; Aqui há nova tentativa de soar épico, mas a banda soa um pouco sem inspiração ao emular temas melódicos já visitados.

O Saxon tenta variar sobre os mesmos temas de sempre e não compromete, mas fica a sensação de que a banda sempre pode fazer mais e oferecer mais e melhor. No entanto, o tempo é implacável - o vocalista Biff Byfford tem 73 anos e o guitarrista Paul Quinn, que abandonou as turnês, tem 72.

No entanto, se o Saxon abriu mão de inovar, Btfford se mostra mais audacioso fora da banda. Seu álbum solo de anos atrás explorou sons diferentes e mais rock and roll, e o projeto Heavy Water, com seu filho Sebastian, multi-instrumentista, avança por outras praias.

O segundo isco do projeto, "Dreams of Yesterday", aponta para um futuro mais condizente com os sons atuais. É mais hard rock com tendências para o alternativo, com guitarras timbradas de forma a acompanhar as produções mais modernas, embora o som seja um pouco mais reto e direto.

Byfford se adequa a esse novo mundo e se sai bem, sem precisar atingir notas mais altas ou gritar. O resultado é interessante e tem boas ideias como a faixa-título, mais cadenciada, e na contundente "Life to Live", onde as guitarras de Seb Byfford estão mais intrincadas e insinauntes.

"Anither Day" resume bem a modernidade do som, resvalando em uma seara que é habitada por Black Keys, Black Pumas e Rival Sons, só que mais pesado e nervoso. Essa característica também aparece nas boas canções "Shadows of Life" e "Chain Reaction"; Será que a ortodoxia heavy não permite ao Saxon incorporar algumas ideias contidas no segundo disco do heavy Water?

Em relação aos filhotes do Judas Priest não dá para ter essa esperança porque o conceito é exatamente a fidelidade ao heavy metal clássico da banda original. É o caso do KK's Priest, a banda que o guitarrista KK Downing criou ao sair do Judas, em 2011, em situação de  litígio com os ex-colegas.

Para demonstrar toda a sua insatisfação com o som de sua ex-banda, ele não teve pudor em convidar Tim "Ripper" Owens para os vocais e criar a sua "versão" do que pensava que deveria ser o som atual do Judas Priest.

Owns foi o escolhido para substituir Rob Halford nos anos 90. O Judas Priest ficou sem cantor entre 1992 e 1996, quando finalmente escolheu o nome. Era o alemão Ralf Scheepers, da banda Gamma Ray, segundo alguns jornalistas ingleses

Só que a banda surpreendeu o mu do quando anunciou o americano cantor da banda Winter's Bane, que tinha algumas canções próprias mas fazia sucesso mesmo fazendo versões do Judas Priest. Uma fita de videocassete chegou às mãos de Glenn Tipton com um show da banda e ele não teve dúvida: Owens era o cara.

Foram dous álbuns de estúdio e dois ao vivo em quase seis anos até que fosse derrubado pela nostalgia e pela pressão da volta de Halford. assim como a maldição que afetou Blazze Bayley no Iron Maiden, Tim Owens sofreu com a vida pós-Judas Pries em projetos solo e bandas variadas., como o Iced Earth e um tributo a Ronnie James Dio (1942-2010).

Se a ideia era emular o som do Judas Priest clássico com um vocalista excelente,mas que era um decalque de Rob Halford, então Owens era o cara certo. 

O problema é que KK'1s Priest é parecido demais com o Judas em qualquer circunstância e em qualquer fase. Mesmo as bandas imitadoras dos anos 90 conseguiam, em algum momento, fugir da emsmice e abordar as guitarras de uma forma diferente, como o bom Prinal Fear, da Alemanha, a banda atual de Ralf Scheepers..

Mas tinha coo ser diferente com dois ex-Judas Priest na banda, sendo um deles o guitarrista que atuou por 40 anos na bada? Sempre dá, mas parece que a ideia era mostrar do que os dois eram capazes de fazer em um novo projeto.

O segundo álbum, "The Sinner Rides Again", é uma continuação temática e sonora do primeiro, baseado no pecado e na vida de pecadores, algo bem típico do próprio Judas Priest, banda apaixonada pelo tema - "The Sinner" é um dos clássicos da primeira fase, anos 70.

Totalmente derivativo, é um álbum agradável para o fã de heavy metal que não faz tanta questão de ouvir inovação em um som declaradamente calcado no Judas. Todos os clichês estão lá - do vocal agudo altíssimo às guitarras gêmeas que parecem saídas de "Screaming fo vebgeabce". As melhores músicas são "Sions of the Sentinel", "Wash Away Your Sins" e a faixa-título.

Por fim, uma banda internacional se sai um pouco melhor na emulação de algo parecido com o Judas Priest. Elegant Weapons é o projeto criado pelo guitarrista inglês Richie Faulkner, o substituto de Downng no Judas Priest;

Não é um som tão pesado, enveredando pelo hard'n'heavy e abusando um pouco do clima blusey à la Whitesnale, mas o DNA do Judas está latente em todas as músicas, principalmente nas guitarras gêmeas e nos riffs oitentistas tão característicos de Glenn Tiptom.

Por não ser uma cópia quase descarada como o KK's Priest, oferece espaço para algum tipo de sonoridade diferente . 

O primeiro disco, "Horns of a Halo", transita em um espaço entre a banda DEad Daisies e o próprio KK's Priest, com melodias mais trabalhadas e riffs musculosos, como a faixa-título, "Dead Men Walking" e "Downfall Rising", todas com ótimas guitarras de Failkner e vocais preciosos do chileno Ronnie Romero (ex-Rainbow). é uma banda que tem um futuro mais luminoso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário