Faz tempo que o rock perdeu a vanguarda no protesto e nas críticas sociais em grandes eventos no Brasil. Se não fosse o baixista nando Reis, na turnê "Titãs Encontro" celebrar a saída de Jair Bolsonatro (PL) e louvar a "normalidade democrática" em alguns shows, o rock passaria em braco como ocorre há anos.
A tarefa de demonizar a extrema-direita, a religião, as seitas evangélicas nojentas e a violência policial, por exemplo, cabem ao samba, ao rap e ao funk carioca, que estão mais perto dos jovens de periferia e falam a linguagem e os temas que mais os afligem.
No rock, o protesto e o engajamento fica no underground com bandas como Ratos de Porão, Dorsal Atlântica, Black Pantera, Dead Fish e mais algumas sem grande alcance.
De forma oblíqua, mas bastante salutar, as escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro têm feito enredos e desfiles com fortes críticas políticas e socais a ponto de incomodar políticos asquerosos e líderes religiosos execráveis, entre outras figuras detestáveis. É sempre bom essa gente bradar contra o que consideram "profano" e "ofensivo",
Entretanto, dependendo da conjuntura, algumas "bravatas" vomitadas por seres execráveis podem ter consequências e preocupar. Deputados federais e estaduais ultraconnservadores e de extrema-direita estão reclamando do enredo e do desfile da escola de samba paulistana Vai Vai, que voltou ao grupo especial de São Paulo neste ano - e é a maior vencedora do carnaval da cidade, com 15 campeonatos.
A escola homenageou o hip hop e outras manifestações culturais d periferia e retratou, em uma de suas alas, a violência policial por meio de atores e alegorias mostrando policiais do bataçhão de Choque da Polícia Militar. Foi o que causou a ira dos protofascistas paulistas.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, deputados paulistas de partidos de direita enviaram "ofícios ao governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), ambos de direita e conservadores, pedindo o corte de verbas públicas para a Vai Vai no carnaval de 2025.
Isso é bem típico dessa gente lamentável que defende a truculência policial e não suporta nenhum tipo de crítica, muito menos as vindas do meio artístico. No entanto, o que deveria ser encarado como irrelevante adquire ares sérios quando prefeito e governador costumam demonstrar certa simpatia para com esse tipo de pleito.
É bom lembrar que, a cada vez que a cada vez que um policial morre em supostos confrontos com supostos bandidos, a PM paulista implanta a tal Operação Escudo, que é a operação em que se caçam os supostos autores do assassinato.
Só que essas operações costumam deixar um rastro de mortes de inocentes pelo caminho, como tem ocorrido desde o ano passado na Baixada Santista. A mais recente causou a morte de 20 pessoas, supostamente bandidos mortos em "confronto" com policiais.
Como é eficiente essa polícia, que trava confrontos diários sem sofrer baixas e infligindo muitas mortes ao "inimigo"... Esse é o padrão das Operações Escudo, com muitas mortes inexplicadas.
A Vai Vai pegou pesado, e ainda bem, ao retratar esse cotidiano de mortes em favelas e periferias do estado, onde a vida dos pobres não vale um centavo.
Que bom que um desfile de escola de samba crítico e louvando a periferia tenha incomodado os piores seres ultraconservdores. É bom vê-los esperneando contra a Vai Vai, contra os Titãs, contra Roger Waters (ex-baixista do Pink Floyd) e outros que se insurgem contra a opressão e a repressão, que têm a coragem de apontar o dedo e enfiá-lo na ferida.
Que fiquemos atentos para evitar que a Vai Vai sofra censura do poder público e fique sem verbas para o carnaval do ano que vem por decisão de políticos conservadores que costumam ceder à pressão da direita e da ultradireita antidemocráticos e prontas para querer impor a sua moral e seus costumes - além do inevitável apoio à violência policial.
Entidades de defesa dos direitos humanos, como Mídia Ninja e Ponte, entre outras, já denunciaram as tentavas lamentáveis de punição à escola de samba do Bexiga por conta do belo e vigoroso ddesfile que fez denunciando as mazelas sociais brasileiras.
A Vai Vai foi neste carnaval o que os rock nacional foi um dia: crítico, ativista, engajado, contestador e afrontador.
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