segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Dorsal Atlântica ressignifica o temo relevância no rock brasileiro

Todo artista adora bradar que seu maior compromisso é com a arte e com a integridade e seu trabalho. É raro detectar autenticidade neste tipo de declaração, mas não dá para duvidar de tal coia quando o artista em questão é tão obcecado por integridade a ponto de, algumas vezes, se autossabotar, digamos assim, para manter suas convicções. 

Carlos Lopes, um carioca sem medo de afirmar, com muita propriedade, que é um dos idealizadores e introdutores e do heavy metal no Brasil, já recusou propostas vantajosas para levar a sua banda, a Dorsal Atlântica, a situações e patamares diferentes do underground onde sempre militou. E ele conta isso com orgulho, no palco, em pleno show de metal. E a plateia delira.

Guitarrista e vocalista dos mais criativos, além de quadrinista e escritor - e eventualmente jornalista -, Lopes levou a dorsal Atlântica para um show isolado no Sesc Santo André em 17 de fevereiro e fez a festa de um bom público que esperava pela oportunidade há muito tempo.

Celebrando os 43 anos de fundação daquela que é a banda de metal mais longeva do Brasil - e muitos dizem que é a primeira do estilo por aqui - Carlos Lopes dedicou a apresentação á memória do irmão Cláudio, ex-baixista da Dorsal que morreu no ano passado. 

Para a sorte de todos, ele não economizou na autossabotagem e fez o que costuma fazer: metal incendiário e engajado, com forte discurso humanista e progressista, além de profundamente antifascista.

A última passagem da Dorsal pelo ABC tinha sido 18 meses antes, em São Benardo, em show lotado no parque da Juventude, durante a campanha presidencial que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. Foi ovacionado, mas também vaiado por quem acha que "rock e política não devem se misturar".

Em Santo André, com um equipamentos melhores, Lopes disse se sentir em casa e finalmente louvou o fato de "termos nos livrado das trevas e um protofascismo e de estarmos em plena normalidade democrática", em alusão à derrota do nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro, um de seus alvos preferidos.

Foi uma apresentação de 94 minutos de contação e causos e de muita aula de história do Brasil, tudo recheado com músicas pesadas e violentas com forte carga emocional e política. Como é bom ouvir hinos pesados do passado como "Tortura" e "Inveja", tão atuais coo sempre foram.

Das mais recentes, "Belo Monte", do magistral álbum "Canudos", e "Burro", de "Pandemia", talvez o mais político de todos os trabalhos da banda, mostraram a veterana Dorsal Atlântica rejuvenescida e ainda relevante, antenada com a era em que vivemos e com os desafios cada vez maiores e perigososo em nossa sociedade.

Para os fãs mais radicais e sedentos por raridades, teve uma canção em inglês, "Straight", pesadíssima, grava originalmente em Londres e eco de um momento em que o grupo almejava o mercado internacional, mas sem que isso fosse condicionado a abrir mão de conceitos e posturas.

CArlos Lopes é uma das personalidades mais fascinantes do meio artístico brasileiro, seja pela postura, pela qualidade do trabalho ou pela articulação sociopolítica que desenvolve no trabalho e no dia a dia. 

Se ainda existe algo que se pode chamar de cultura underground nestes tempos difíceis nestes, velozes e indefinidos, a Dorsal Atlântica e Lopes são a sua personificação completa O trio completado por Braulio Drummond (bateria) e Alexandre Castelan (baixo e vocais) transpira arte bruta e inteligência, que o torna cada vez mais relevante e necessário no anódio e insípido rock nacioanal.

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