Nelson de Souza Lima - especial para o Combate Rock
Localizada a pouco mais de 50 quilômetros de Salvador, Arembepe, foi chamada de a "Meca da Contracultura" no final dos anos 60. A referência com a cidade saudita não é à toa: se todo muçulmano tem que ir ao menos uma vez na vida a Meca, todo amante da liberdade e das energias telúricas precisa conhecer a cidade do litoral baiano.
Em bom tupi-guarani, Arembepe quer dizer "a terra que nos envolve" e faz todo o sentido quando percebemos o impacto que a região teve, sobretudo, na década de 70. Era um tempo sombrio no Brasil pois vivíamos o auge da ditadura militar, com repressão e zero direitos. E foi então que o mundo descobriu Arembepe.
E esse anseio por liberdade levou centenas de viajantes, mochileiros e piradões à cidade que estava em sintonia com às capitais do mundo como Londres e Nova York.
O santuário ambiental ainda pouco explorado e a ligação com a natureza, além da vibração astral, atraíam cada vez mais gente em busca de liberdade, igualdade e vida em comunidade.
Foram tempos de magia e energia que levou anônimos e famosos a conhecer Arembepe. E não foram poucas as personalidades que se encantaram com o paraíso natural - Janis Joplin, Wally Salomão, Glauber Rocha, Roman Polanski, Jack Nicholson e José Simão, entre outros.
Muitas histórias e relatos deliciosos sobre a vida em Arembepe estão no livro "Arembepe, Aldeia do Mundo", da Editora Máquina de Livros - em 200 páginas mostra a transformação da cidade litorânea desde o final dos anos 60 até nossos dias.
Escrita pelos jornalistas Claudia Giudice, Luiz Afonso Costa e Sérgio Siqueira, a obra traz capítulos curtos os quais apresentam personagens marcantes que viveram ou que passaram algum tempo na região.
No capítulo "Discos Voadores", temos os relatos supernormais de banhos nus no rio Capivara, além da visão de objetos voadores não identificados. Entre aqueles que afirmam terem tido visões alienígenas estão a musa Sandete Ferrão, o escritor José de Jesus Barreto, a espanhola Camino Mazzano e o mineiro Cândido de Alencar.
Segundo Sandete Ferrão, "o dia mais inesquecível foi quando vi um disco voador. Certeza!!! Eu estava vindo de Arembepe para a aldeia. Tinha ido na Tia Deja buscar querosene. Era fim do dia, bem na hora do pôr do sol. Até hoje não consigo definir aquela luz, de tão forte e bonita. Ela entrou dentro de uma casa, perto da aldeia. Eu estava sozinha e ela, a luz, dançava para mim. Juro que não tinha usado nada. Nem maconha, nem ácido. Foi minha experiência inesquecível".
O último relato do livro é do escritor Conrad Kottak, que faz uma avaliação de como Arembepe mudou ao longo dessas mais de cinco décadas. Apesar de haver casas que ainda resistem ao tempo, a expansão imobiliária e urbana é notória. Mas o impacto maior se faz presente na tecnologia.
De acordo com Kottak, "70% dos arembepeiros adultos possuem telefones celulares. Eles usam smartphones para trocar informações com amigos, familiares e para negócios. Observamos uma forte divisão geracional entre comunicação por voz (por pessoas mais velhas) e mensagens de texto (por pessoas mais jovens). A maioria tem opiniões positivas sobre os telefones celulares, citando seu valor em fornecer informações sobre amigos e parentes dispersos".
Enfim, "Arembepe, Aldeia do Mundo" é um livro saboroso para se conhecer um pouco deste paraíso baiano, que apesar do tempo, ainda mantém sua vibe positiva e mágica.
Ficha técnica
Título: Arembepe, aldeia do mundo - Sonho, aventura e história do movimento hippie
Autores: Claudia Giudice, Luiz Afonso e Sérgio Siqueira
Editora: Máquina de Livros
Preços: R$ 58 (impresso) e R$ 38 (e-book)
Páginas: 200
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