Os novos trabalhos dos dois músicos paulistanos estão chegando com a elegância de sempre, além da forte carga emocional. São trabalhos iluminados e de rara beleza, ainda que "VIVO!", de Edu Gomes, não seja exatamente uma novidade - é uma coletânea de músicas captadas ao vivo por palcos paulistas em que há importantes diferenças m relação ás originais. Com um feeling inacreditável, acrescenta muito a temas instrumentais normalmente impecáveis.
Esse trabalho vem antes do novo disco de músicas inéditas, que sucederá p excelente "Ventura", de 2021, que tinha uma veia mais blues e rock. Gomes é um artista com uma sensibilidade impactante e aflorada que expressa por meio de riffs inventivos e solos profundos.
Oscilando entre o rock, o blues e o jazz, "VIVO!" tem a temperatura ideal dos palcos para temas que realçam uma sensibilidade única entre os guitarristas brasileiros. "Nuvem", por exemplo, ganha uma outra dimensão com os vocais dramáticos de Márcia Salomon.
"Âmago", do álbum de mesmo nome, apresenta uma outra dinâmica, onde Gomes "conversa" com sua guitarra e ilumina e qualquer ambiente. "Crash" abusa do rock progressivo e agrega muito valor com os vocais e arranjos orientais a cargo de Adriano Grineberg. É uma faixa climática e sedutora, com referências que vão de steve Howe (Yes) a Steve Hackett.
O progressivo também dá as caras em "Seaside", uma canção robusta e complexa, com um clima de Pink Floyd por conta de um timbre de guitarra que lembra o de David Gilmour. Gomes esbanja talento e sofisticação. "A Viagem de Uma Alma", ainda mais etérea e climática, aprofunda o sentimento de paz de espírito em uma jornada progressiva de extremo bom gosto.
"De Alma Leve" aprofunda esse sentimento, com uma comunhão entre piano e guitarra raro de se ver em shows instrumentais de jazz. os dois instrumentos passeiam por um tema que tem muito de música brasileira com sotaque jazzístico dado pela guitarra elegante e sóbria, bem ao estilo de Joe Pass ou mesmo de John Scofield.
São 11 faixas capturadas em diversos shows no Estado de São Paulo e que resumem de forma primorosa parte da trajetória bem-sucedida de Edu Gomes.
Adriano Grineberg é um músico do mundo por conta de suas incursões por vários formatos e gêneros. Abraçou o blues de uma maneira rara entre instrumentistas não americanos e suas misturas de culturas diferentes extrapolam os rótulos.
"Key Blues" é um disco encharcado de blues de todas as vertentes; "Blues for Africa", como o nome diz, um CD cantado em vários idiomas africanos e ´de uma beleza incomum - e de ma importância cultural e histórica fenomenal; "108" já resgata seu interesse grande pela cultura indiana e pelos rituais do Extremo Oriente.
Os novos singles, que antecipam o álbum que deve chegar em janeiro, trazem mais mergulhos em culturas universais, desta vez dos povos originários das Américas, reforçando o que sempre se soube: é um artista diferenciado.
Ao lado de Gomes, é autor de uma série de álbuns denominados "Concerto da Cura", com canções próximas do que se convencionou denominar "new age" muito tempo atrás. As crenas e influências espirituais dos dois músicos transparecem em todas essas obras que muito foram direcionadas a atividades como meditação ou simplesmente para agir no cérebro para instigar o bem-estar.
Cada um participa da banda do outro desde sempre, além dos álbuns, o que os torna "irmão de sangue e siameses" na produção de música de alta qualidade. E os sons que produzem foram fundamentais para um número expressivo de pessoas suportar os tétricos trevosos tempos de pandemia de covid-19.
Nos shows em que colocou o material de "Ventura", Edu Gomes mostrou uma elegância ímpar ao escolher frases contundentes e solos com um feeling incomum e inigualável, iluminando todos os caminhos. E esse conceito de de luz e iluminação permeia toda a sua obra, como a de Adriano Grineberg.
"1% de luz ilumina toa da escuridão", costuma dizer o pianista, com toda a razão. E é esse conceito que "Xamã", o próximo álbum solo, pretende expandir. "Asatoma", o primeiro single, é uma alegoria progressiva com forte conotação oriental.
Do mantra védico que significa “Do irreal conduza-nos ao real; das trevas, à luz e da morte à imortalidade”, a faixa abre o álbum e tem referências do rock progressivo como Emerson, Lake & Palmer e Frank Zappa. É cantada em sânscrito e mistura ritmos como a escala do blues de New Orleans com o "Boi de Matraca", do Maranhão.
Com uma sonoridade mais etérea e próxima do que se produz nas Américas, "Ayahuasca" embute ideias e conceitos relacionados à cura pelas plants e pela natureza, em um trabalho delicado e instigante.
"Boogie de los Abuelos" é uma ode em forma de blues aos antepassados e também ao poder de cura medicinal das plantas, em mais uma oportunidade de reverenciar os "concertos da cura", em todos os sentidos, tudo embalado, aqui com blues e rock da melhor qualidade.
A última canção, "Shakti", é do disco "108", e aqui é resgatada cem nova versão, em linguagem mais jazzística e com bastante improviso.
De acordo com o artista, "é uma reverência ao Sagrado Feminino e às mães de várias culturas ancestrais como a indiana, judaica e a cristã. Traz a energia do Amor materno que não é apenas suave, mas também impactante, pois é incontestável".
Ele continua: "Este trabalho tem muito do meu mergulho nos estudos da ciência dos Ícaros, cantos que são a arma curativa, a sabedoria e o veículo da energia pessoal do curandeiro, o símbolo do seu poder".
Os Ícaros, mais que sons, são também um intercâmbio comunicacional entre os reinos animal, mineral e vegetal e a referência a eles são fruto do caminho pessoal de Grineberg que, nos últimos anos, além de sua já conhecida trajetória como bluesman e músico que acompanha artistas variados, vem se dedicando intensamente ao desenvolvimento de trabalhos de cura com a ayahuasca e à prática do soundhealing.
Grineberg se alterna entre as teclas de instrumentos como piano, Fender Rhodes e Moog e outros pouco usais a quem ainda está habituado apenas a vê-lo como um consagrado bluesman, como maraca andina, spyrobowl e a Flauta de Los Abuelos (instrumento de sopro sem furos conhecido nos Andes por ser tocada pelos mais velhos da aldeia e comunicar com os espíritos ancestrais).
“Foi a minha primeira experiência gravando ao vivo e já decidi que meu próximo álbum também será registrado dessa mesma forma, pois, com o entrosamento que há entre mim e a banda, o som que produzimos fica muito solto, despreocupado, fazendo com que as músicas venham com uma certeza maior”, diz o pianista.
A direção de arte da capa de cada single e do álbum completo (disponível nas plataformas em 27 de janeiro de 2023) foi desenvolvida à mão e digitalmente e é assinada por Marcos Kawamura, premiado diretor do mercado publicitário ganhador de 18 Cannes Lions. A banda que o acompanha tem Gomes e Fabá Jimenez nas guitarras, Caio Góes Neves no baixo e Marco da Costa na bateria.
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