segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Elegância e sofisticação: Andy Summers e sua guitarra chegam aos 80 anos



Um guitarrista eclético, elegante e sofisticado, que deu um charme todo especial a um trio pop que se tornou a grande sensação musical da primeira metade dos anos 80 depois que o punk rock perdeu o vigor.

Andy Summers chega aos 80 anos de idade com um dos mais respeitados guitarristas de sua geração, transitando por uma série de gêneros e mostrando que The Police foi apenas um período curto de sua vida, por mais que tenha sido o seu auge.

“One Train Later” – a edição brasileira é da Editora Neutra, com ótima tradução, mas que manteve o título em inglês – é a biografia recomendada do músico publicada em português, ainda que seja uma autobiografia que termina quando da separação do Police, em 1983.

Quem diria que ele seria um azarão do rock inglês, amigo de todo mundo e de todos, mas que ficou para trás em relação á fama e fortuna até que um baterista norte-americano e um professor de ginásio o resgatassem do underground para formar um trio que mudaria a cara da música pop.

Amigo de Eric Clapton, Eric Burdon e Jimi Handrix, entre outros astros, só estourar mesmo em 1978, aos 36 anos de idade, ao lado de dois músicos mais jovens (era dez anos mais velho do que Sting e Stewart Copeland, seus companheiros no Police) e com experiências de música e de vida bem diferentes.

O livro vale pelo período de vida Summers entre 1964 e 1977, quando o guitarrista penou por bandas obscuras e bandas outra famosas, mas em decadência.

Mesmo com um humor sarcástico e autodepreciativo – ele não poupa amigos, ex-amigos, ex-namoradas e ex-qualquer coisa -, é interessante ver o quanto foi difícil a sua caminhada, principalmente quando ele adentra aos anos 70 casado e pobre, tendo que dar aulas de guitarra para ganhar alguns trocados na Califórnia.

Pouca gente sabe de seus anos de penúria, mesmo tendo tocado em uma versão de The Animals, com o então amigo Eric Burdon, e com o Soft Machine, de Kevin Ayers.

Sua virada de jogo serve de inspiração a forma como perseverou na música em busca do sonho do estrelato – ou, ao menos, de uma forma de viver dignamente de música, ainda que em bandas de menor expressão ou como apoio a astros.

Quando se esperava que a coisa iria mudar, assumindo o posto de guitarrista de Neil Sedaka e depois de Kevin Ayers (ex-Soft Machine, curiosamente o músico que ajudou na demissão de Summers desta banda), nada acontecia, para sua exasperação e frustração.

Foram precisos maia alguns anos de vacas magérrimas em Los Angeles e Londres para que houvesse uma luz pequenina no final do túnel.
Enquanto isso, reconhecido como ótimo guitarrista por músicos amigos e empresários, como Eric Clapton e Robert Fripp (King Crimson), aproveitou para estudar ao máximo e criar o próprio estilo.

Culto e inteligente, apaixonado por literatura e religiões orientais, além da música brasileira, agregou muita informação aos seus trabalhos e frequentemente era o farol intelectual das bandas com as quais tocou.

Ao contrário do que todo mundo pensa, a formação do Police não representou a grande mudança para Summers, ao menos no começo.
Ele, Copeland e Sting finalmente resolveram se juntar em 1977 após alguns desencontros, mas tiveram de ralar muito para conseguir contratos e gravar os primeiros álbuns, enquanto tocavam em espeluncas e para pouca gente em plena efervescência punk.

O estilo de tocar guitarra ficou mais refinado, só que bem mais contido no Police por conta da ideia de aderir ao movimento punk.
 
O som do trio era rápido e veloz, mas rapidamente as canções autorais de Sting mostravam um lado melódico e pop de alta qualidade. Foi então que o som da banda se delineou com as assobiáveis “Roxanne” e “Can’t Stand Losing You”, que deram a partida para o estrelato ao trio.

As relações tensas desde sempre foram suportáveis até que Sting resolveu partir para a carreira solo. Finalmente estabelecido, Summers levantou a cabeça e partiu para o jazz, para o blues e para a música instrumental, com destaque para os álbuns em parceria com Robert Fripp.

Entrou tempo para degustar várias obras de música brasileira, especialmente da bossa nova, fazendo do Brasil a sua segunda casa. Admirador de Roberto Menescal e Nara Leão, gravou discos por aqui e teve uma rápida e interessante parceria com Fernanda Takai, a vocalista do Patu Fu.

Andy Summers é um personagem muito interessante da música pop e representou todos os elos possíveis que fazem o rock ser um gênero musical fascinante e aglutinador, ao contrário do que muitos querem dar a entender. A guitarra elegante e sofisticada de Summers emprestou ao rock uma qualidade extraordinária.

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